publicado dia 10 de setembro de 2020
Perus: Comunidade Cultural Quilombaque corre risco de perder sua sede
Reportagem: Cecília Garcia
publicado dia 10 de setembro de 2020
Reportagem: Cecília Garcia
Há 13 anos, um terreno próximo à Estação Perus da CPTM, na zona noroeste de São Paulo, se transformava na Comunidade Cultural Quilombaque. O espaço, idealizado por ativistas e artistas locais, dedicou-se desde o princípio a tecer uma relação entre comunidade e cultura, valendo-se dos multifacetados saberes do território.
No fim de agosto de 2020, em meio à pandemia, a Quilombaque recebe uma notícia que pode colocar mais de uma década de trabalho em risco: o proprietário do terreno alugado deseja-o de volta, ou condiciona a permanência no espaço à compra definitiva do lote, no valor de RS$300 mil reais.
Para evitar o despejo, o espaço cultural independente, que sobrevive primordialmente de editais, está com uma campanha de financiamento coletivo. A campanha #FicaQuilombaque pretende arrecadar até metade do valor com a vaquinha online.
“A permanência da Quilombaque é importante para gente, mas também para a comunidade como um todo”, analisa Camila Cardoso Ribeiro, coordenadora de projetos do espaço. “Somos um dos únicos espaços culturais do bairro, e a discussão da nossa permanência é também a do direito à cultura na periferia.”
Durante mais de uma década de funcionamento, a Quilombaque trabalha em uma perspectiva territorial indissociável da formação social, memorial e política de Perus. Território indígena, remanescente de Mata Atlântica e palco de lutas sociais durante a ditadura militar, o bairro condensa uma amálgama de territórios educativos que por muito foram desconhecidos pela população local e da cidade.
Fundado há 15 anos por um coletivo de artistas e ativistas da região, a Quilombaque desempenha papel fundamental ao desvelar as potências territoriais de Perus. Utilizando a cultura e os saberes locais, o espaço cultural promoveu não só o reconhecimento desses espaços, mas também uma tessitura entre eles.
“Viramos um polo de referência dinamizador de arte, cultura e geração de renda aqui no bairro e na região. E isso acontece a partir do trabalho em rede. Atuamos com os produtores de cultura do bairro para criar verdadeiras ocupações culturais, como a Ocupação Casa Hip-Hop Perus”, relata Clébio Ferreira (o Dedê), um dos criadores e gestores do espaço.
O caso da Quilombaque não é isolado. Muitos espaços culturais em São Paulo já correram risco de fechar em razão da especulação imobiliária. O Instituto Brincante, na Vila Madalena, e o Teatro Oficina, no Bixiga, são alguns exemplos de ocupações culturais que tiveram que lutar para permanecer em seus territórios, mesmo depois de requalificá-los em conjunto com a comunidade local.
Essa articulação possibilitou a criação do Museu Territorial de Interesse da Cultura e da Paisagem TEKOA JOPO’Í, uma malha de territórios interligados por trilhas educativas geridas por moradores locais, que servem tanto para preservar o patrimônio local como promover geração de renda.
É também da união entre o conhecimento local e a universidade que se formam os TICPs (Territórios de Interesse e Cultural e Paisagem), política pública que hoje se espalha por outras regiões da cidade de São Paulo.
Segundo Camila, a chegada da Quilombaque promoveu a revitalização do entorno da travessa Cambaratiba. “Ajudamos a ressignificar espaços que antes eram perigosos, com violência e tráfico, fazendo com que a localidade e as praças ao redor ficassem mais tranquilas. A região agora é um lugar onde as crianças brincam, se desenvolvem, e aprendem um montão!”
Práticas culturais e educativas que se dilatam para o território são oferecidas regularmente pela comunidade cultural. Elas incluem aulas de jongo, capoeira, cursinhos pré-vestibular e shows.
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Saiba como ajudar no site da campanha de financiamento coletivo: https://www.vakinha.com.br/vaquinha/fica-quilombaque