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publicado dia 28 de abril de 2020

Como escutar crianças durante o isolamento social?

Reportagem:

A escuta tem reconhecida importância no desenvolvimento integral das crianças: ouvi-las é reconhecê-las em sua singularidade, respeitar seu modo de ver e lidar com o mundo e também uma forma de assegurar seus direitos. 

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Em tempos de isolamento social causado pelo Covid-19 (novo Coronavírus), a tarefa de ouvi-las, que geralmente é dividida com espaços como a escola, fica quase integralmente nas mãos das mais diversas configurações de famílias, que podem ter dúvidas sobre como fazê-lo. 

A pedagoga Eliana (Lica) Sisla, que há mais de 30 anos forma educadores, diretores e outros profissionais que atuam com infância, listou para o Portal Aprendiz caminhos para uma escuta integral a fim de ajudar pais, mães e famílias durante o período de confinamento: 

#O isolamento como oportunidade para observar o tempo das crianças 

“As crianças têm um tempo diferente dos adultos. Quando perguntamos algo a elas, principalmente quando pequenas, temos que esperar seu tempo de resposta e também interpretá-la por meio de seus gestos”, afirma Lica. 

A temporalidade única das crianças se expressa em brincadeiras duradouras, gestos repetitivos, olhares e posturas. É importante não apressá-las. 

“A conversa com a criança tem que ser mais calma, pois ela tem outro ritmo. Neste sentido, podemos aproveitar o isolamento social para buscar ritmos mais próximos aos das crianças, fazer as atividades mais devagar.”

#Observar o brincar e ofertar o palpável

“O papel da brincadeira como lugar de escuta das crianças é fundamental, porque elas expressam o que estão sentindo quando brincam. Suas angústias, medos e outros sentimentos sobre uma situação são elaborados no momento lúdico”, explica Lica. 

Os familiares podem observar com atenção quais tipos de brincadeiras e como a criança está brincando nos tempos de quarentena. “Se, por exemplo, por conta de informações sobre o Covid-19 ou diálogos ouvidos a criança quiser brincar de médico, é bacana que os pais apoiem e observem, porque é nesta elaboração que uma criança pode expressar uma possível apreensão ou fornecer pistas de como a rotina mudada a afetou.” 

Lica também encoraja pais a incluir crianças em atividades do dia a dia, como os afazeres de casa: 

“Atividades diárias, como cozinhar, proporcionam um tempo passados junto que evidencia para a criança a importância real do núcleo familiar e do presente, do palpável, evitando assim ansiedades.” 

#Escutar é também não escutar: A privacidade das crianças 

Para além dos momentos de atenção, é importante dar espaço para as crianças fiquem sozinhas. 

“O grande desafio da quarentena é a privacidade, e isto vai muito além do desafio de fechar portas. É ficar longe, é uma atitude de respeito com o tempo do outro. As crianças precisam ter direito à privacidade, ao seu mundo próprio, a construir e valorizar a escuta interna.” 

O adulto também pode usar este tempo para ficar consigo próprio, já que a escuta das crianças também depende da escuta própria: 

“É importante ficar consigo, escutar vozes que vem de dentro, se apaziguar e, se possível, ter momentos de silêncio e privacidade.”

#Escutar também significa pedir ajuda

A escuta não deve adicionar peso a uma já sobrecarregada família: “É importante que a família tenha com quem se abrir, falar sobre o que está sentindo, angústias, dúvidas, e dificuldades de como escutar as crianças. É preciso um movimento social em prol da escuta com as famílias, junto com as escolas, os equipamentos de saúde e de assistência social.”

Lica também sugere canais de ajuda terapêutica, como redes de psicólogos online que estão ofertando seus serviços durante o período de confinamento social. O Portal Aprendiz listou uma rede de canais que pode ajudar.

#Como endereçar o Covid-19 nas conversas com crianças e jovens 

Além de ter mudado toda a rotina das crianças e jovens, a pandemia também se instaurou como tópico de conversa na maioria dos lares. Para Lica, o momento é de mediação e honestidade:

 “De primeiro, preciso elaborar em mim o que sinto com relação a essa torrente de notícias e informações, e depois, tentar elaborar e conversar com os mais novos.”

A formadora sugere que a conversa aberta sobre o Covid-19, com esclarecimento de dúvidas das crianças, pode vir acompanhada de atos de prevenção compartilhados:

“Ensiná-las a lavar as mãos de maneira correta, compartilhar com elas o que estamos fazendo quando fazemos compras, lavamos uma verdura, estes são aprendizados importantes de ser compartilhados.Também falar sobre como isolamento é essencial para o combate à pandemia, na vida em comunidade. Isto é uma maneira prática das crianças entenderem cidadania.” 

 

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