publicado dia 28 de outubro de 2019
Estudantes mobilizam comunidades com projetos voltados à cultura e território
Reportagem: Cecília Garcia
publicado dia 28 de outubro de 2019
Reportagem: Cecília Garcia
Autores como Maria Firmina dos Reis, Gonçalves Dias e Aluísio Azevedo são grandes nomes da literatura brasileira. Mas quando as estudantes Maria Vitória Corrêa, Sara Lavínia Souza e Mila Gomes da Silva aplicaram um questionário dentro da sua escola, em Imperatriz (MA), ficaram impressionadas:
“Tivemos uma aula de literatura, e falando o nome de vários autores, os estudantes ficaram surpresos que eles eram do Nordeste e do Maranhão. Ninguém sabia”, relembra Maria Vitória.
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As três estudantes tiveram então a ideia de criar o projeto Maranhão Meu Tesouro, um livreto que conta a biografia de alguns desses autores. “A literatura mostra como era a época em que esses autores viveram, e isso é importante. Mesmo porque esses autores influenciaram não só a literatura no nosso estado, mas em todo país”, conta Sara.
Presentes na Mostratec 2019, jovens pesquisadores do Brasil e do mundo olharam para seus diferentes territórios, buscando transformá-los por meio de ações que vão desde mapear a cultura local até aliar-se ao poder público para investigar as questões relacionadas à educação e direitos humanos.
Para a estudante carioca Isabela Lima, uma das criadoras do periódico Diário de Classe, é importante que se perceba que a produção acadêmica já está sendo feita no Ensino Médio, e não só na universidade.
“O aluno do Ensino Médio produz conhecimento e ciência tão legítima quanto o da graduação, do mestrado e do doutorado. Isso tem que ser reconhecido e aplicado.”
Conheça outras iniciativas que atuam com território, cultura, educação e direitos humanos que fizeram parte da Mostratec 2019.
A escola E.M Antônio Farias Filho, no Bairro de San Martin, em Recife, é contornada por áreas onde ocorre descarte impróprio de lixo. Os estudantes Jacielly Ferreira Monteiro e William Vasconcelos Rodrigues, de apenas 10 anos, ficavam incomodados e decidiram agir.
Juntos, criaram um projeto de preservação ambiental no bairro. “Andamos pela comunidade fazendo uma pesquisa de campo sobre o que os moradores achavam do descarte de lixo. Muitos diziam que a responsabilidade de recolher era só do prefeito, mas a gente acha que é da comunidade também”, conta Jacielly.
A dupla desenvolveu então um aplicativo para conscientizar as pessoas da história e importância do bairro. Os estudantes também apostaram na literatura de cordel, característica da região nordeste do país, para sensibilizar a comunidade.
Bruno Pacífico dos Santos e Gustavo Rosa são alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA), em São Leopoldo (RS). Para ambos, a oportunidade de voltar a estudar foi muito mais proveitosa porque a escola onde estão matriculados criou as Oficinas do Saber, espaços de encontro onde estudantes e educadores trocam conhecimentos.
“A maioria dos planos de aula hoje em dia é quadrado, curricular e não considera o que acontece fora da escola. Mas as Oficinas do Saber mostram que todo mundo tem um pouco a ensinar”, conta Gustavo – que complementa reforçando a importância do estudo de Paulo Freire para o desenvolvimento e documentação das atividades.
Bruno, que ensinou dança para os estudantes multisseriados da EJA, detalha um pouco mais da experiência: “Tinha aluno que ensinou a cozinhar outros a cortar o cabelo. São modos de valorizar os alunos, o que é muito importante para a permanência na escola, já que no EJA, muitos estudantes acabam desistindo.”
Foi em um momento de instabilidade política na instituição que estudam que os estudantes Gabriella Bordoni, Isabela Lima e Matheus Franco, do CEFET/RJ, criaram o Diário de Classe.
O periódico vai debater democracia, liberdade de expressão e a importância de um espaço de divulgação da produção acadêmica.
“Não existe educação sem democracia e sem liberdade de pensamento”, enfatiza Matheus. “Mas essa não é uma ideia rasa de democracia, é uma ideia real. Vamos divulgar a produção científica feita pelo Ensino Médio e uma rede de colaboradores como as universidades estaduais irá disseminar algo produzido de alunos para alunos.”
Além da produção científica, o periódico Diário de Classe, que vai circular de maneira física e virtual, também conterá espaço para produção literária dos estudantes, além de reportagens do cotidiano da escola.
Pelotas, no interior do Rio Grande do Sul, foi a última cidade do Brasil a abolir a escravidão. Os efeitos do racismo estrutural e institucional ainda podem ser sentidos hoje, e foi no intuito de combatê-lo que a estudante Alice Donata Ulguim da Silva e seus colegas criaram o Poesia de uma Cor.
“O projeto consiste na elaboração de um livro através de relato de pessoas que sofreram algum tipo de discriminação. Nós acreditamos que a partir de atividades lúdicas podemos atingir o maior número de pessoas. O racismo é uma problemática do Brasil que pode ser abordada com a arte, principalmente quando as pessoas não querem escutar.”
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A obra, que também se desdobra para um podcast e para uma série de intervenções artísticas, é um trabalho colaborativo: enquanto Alice e seus colegas se revezam na hora de produzir as poesias, eles convidam pessoas próximas para fazer a ilustração e o projeto gráfico.
As rotas cujo o Exército Nacional de Libertação do Peru usou para conseguir a independência do país em 1822 passam em frente à escola das estudantes Ana Cristina Valerio Valverde e Estrella Idaly Jorges Moreto, na cidade de Cauca. Elas decidiram então investigar como foram feitos os caminhos que levaram a independência do país.
“Buscamos identificar quais são os principais feitos referidos ao movimentos das tropas, do exército durante sua permanência no norte. Reconhecemos as rotas, caminhos e povos que eles traçaram”, conta Estrella. Para tanto, as estudantes recorrem aos mapas antigos e contemporâneos da região, além de percorrerem parte do trajeto.
*A jornalista foi cobrir a Mostratec 2019 à convite da Fundação Liberato.