publicado dia 23 de setembro de 2019
O que querem os participantes da Greve Global pelo Clima
Reportagem: Cecília Garcia
publicado dia 23 de setembro de 2019
Reportagem: Cecília Garcia
Crianças, jovens e adultos de diversas cidades do mundo protestaram na última sexta-feira, 20, durante a Greve Global pelo Clima, exigindo das autoridades de seus respectivos países mudanças concretas nas políticas sobre o meio ambiente e no combate à crise climática.
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No Brasil, 35 cidades foram ocupadas por manifestações organizadas pela Coalização pelo Clima e pelo Greenpeace. Os protestos pediam pela proteção da Amazônia e de outros biomas do país – que enfrentam o maior número de queimadas em sete anos devido ao afrouxamento das leis ambientais promovido pelo governo do presidente Jair Bolsonaro e do Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.
Em São Paulo, dois quarteirões da Avenida Paulista foram ocupados. Em meio a cartazes que pediam que um governo declaradamente negacionista do aquecimento global olhe para as pautas de meio ambiente, colocou-se um palanque onde subiram crianças, jovens secundaristas e representantes indígenas para protestar.
A passeata, que deslocou-se pacífica do vão do MASP até o fim da Avenida Consolação, chamava a atenção a quantidade de crianças.
Luísa, de 11 anos, faz parte do Conselho Mirim da Cidade, uma organização protagonizada por crianças que luta por políticas públicas de sustentabilidade e direito à cidade:
“O conselho foi pensado para dar voz às crianças, que tem muita criatividade, às vezes mais do que os adultos. A gente precisa ter voz porque daqui a pouco vamos crescer e sermos os responsáveis por cuidar do mundo. É importante defender o meio ambiente. Nós, crianças, estamos muito interessadas na floresta, nas árvores, nos animais e nas pessoas.”
Movimentos estudantis também estiveram presentes na manifestação, liderando-a com seus grupos de bateria. “Estamos na greve mundial porque a destruição do meio ambiente e a negação do aquecimento global pelos nossos representantes está diretamente ligado ao sistema capitalista. São os jovens, como tantas outras vezes já fizeram, que podem lutar contra o que está posto nesse sistema”, defendeu Odete Cristina Aristides de Assis, membro do Coletivo Faísca.
Natural da Ilha do Marajó (PA), Telma Nunes Cordeiro foi uma das que subiu no palanque para protestar, não somente contra o desmonte de políticas do meio ambiente, mas também contra o corte em investimentos científicos – o Governo Federal extinguiu, este ano, centenas de bolsas de iniciação científica, além de cortar verba das universidades federais.
“Somos colocados pelo resto do mundo como se a gente não tivesse ciência, e tratados pelo governo assim também. Temos um instituto botânico de mais 300 anos e somos o único estado [o Pará] que consegue diagnosticar um monte de doenças em tempo recorde. Temos também a maior biodiversidade do mundo e grandes povos protegendo-a”, bradou.
Por não ter enviado nenhuma proposta concreta com relação à crise climática, o governo brasileiro não estará presente na Cúpula do Clima, evento que precede a Assembleia Geral da ONU esta semana.
Em seu lugar, a jovem ativista Paloma Costa Oliveira foi convidada para compôr a mesa, junto com a ativista Greta Thunberg.
Também estiveram presentes representantes dos povos indígenas que vivem nas aldeias do Pico do Jaraguá, na zona noroeste de São Paulo. Moradora em um dos poucos territórios remanescentes de Mata Atlântica, a líder Sônia Barbosa de Souza provocou os presentes a não se contentarem com a manifestação:
“Saiu da manifestação, repense, plante, e respeite o que ainda resta das nossas florestas. Não fique sentado no sofá, no seu larzinho. Não adianta plantar coqueiro em canteiro na Avenida Paulista, tem que reflorestar esse país, e isso só vai ser possível com as sabedorias do indígenas.”
Responsáveis por mais de 90% da coleta seletiva no Brasil, os catadores de materiais recicláveis, cooperados e ativistas levaram em suas carroças mensagens sobre a importância da categoria.
“Estamos aqui em defesa da natureza e da categoria dos catadores. Porque a queima dos resíduos e da mata faz a extinção dos catadores. Não gera renda, não gera recursos, então os catadores serão extintos. Somos um dos grupos que mais protege a saúde das pessoas e do meio ambiente”, explicou Valquíria Candido da Silva, do Movimento Nacional dos Catadores.
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