publicado dia 16 de maio de 2019
Universitários e secundaristas vão às ruas contra cortes na educação
Reportagem: Cecília Garcia
publicado dia 16 de maio de 2019
Reportagem: Cecília Garcia
Os universitários Samuel Teixeira e João Victor Ruy seguravam firmemente a mão um do outro; ao lado deles, uma faixa extensa erguida pelos estudantes da Universidade de São Paulo (USP) – SP subia a Alameda Santos para encontrar a manifestação contra os cortes na educação que tomou a Avenida Paulista na tarde deste 15 de maio.
“Estamos aqui para mostrar que a universidade não é estática, ela não é só academia. Ela vai às ruas, ela briga, traz discussões que acontecem dentro dela para fora”, contou João.
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O casal juntou-se à milhares de manifestantes que tomaram São Paulo e diversas cidades brasileiras contra os recém anunciados cortes na educação. No começo de maio, o ministro da educação, Abraham Weintraub, anunciou corte de 30% no orçamento das universidades e institutos federais, o que afeta infraestrutura, programa de bolsas e funcionamento.
Mais cedo, o presidente Jair Bolsonaro, em viagem à Dallas (EUA), inflamou o sentimento de indignação dos manifestantes, chamando-os de “idiotas úteis”. Em sabatina na Câmara dos Deputados para justificar os cortes, o ministro de educação afirmou que ele e o atual governo não são “responsáveis pelo desastre da educação brasileira. O sonho das pessoas é colocar os filhos na educação privada, não na pública.”
Professores universitários, grupos de pesquisa, estudantes de universidades e institutos federais, escolas técnicas e secundaristas se somaram à manifestantes de sindicatos e organizações que também foram protestar contra contingências na educação básica e a reforma da previdência:
A defesa da educação pública é uma defesa eterna do estudante, do professor e do funcionário. Foram décadas de luta no Brasil nesse sentido. Nos últimos meses a gente vem assistindo a um ataque mais amplo, não só às universidades ou escolas, mas a própria ideia de que educação é importante nesse país.
O Brasil muito tardiamente construiu suas primeiras universidades, e o ensino público universal foi uma conquista recente. Não se pode assistir passivamente essa desmoralização completa da profissão do professor, do sentido da educação, do estudo. Nem dos estudantes sendo permanentemente assediados, humilhados, agredidos moralmente, como se não tivessem seus próprios sonhos, suas próprias capacidades de escolher e de estudar e precisassem de um presidente da república autoritário a indicar o que eles devem fazer de suas vidas – José Lira, professor
A ciência e a educação são o futuro do país. Os cortes estão aqui para tentar desmantelar o que a gente lutou por muitos anos para construir.
Se a gente for pensar que um dia a pessoa que vai curar o câncer ou ser o próximo Albert Einstein for uma mulher negra da periferia, ela precisa de auxílio para viver esse potencial. Se ela não conseguir chegar, não tiver a ponte para ingressar na universidade, isso pode não acontecer – Giovanna Tezem, estudante.
Samuel: Cada curso que está aqui hoje tem uma vertente. Eu faço gestão ambiental, e o curso luta para combater as ameaças ao meio ambiente. Imagina, colocaram lá um cara que queria fazer privatização de parques! Cada curso tem sua proposta, e quando a gente se junta, ganha força.
João: A universidade não é estática, ela não é só academia. Ela vai às ruas, ela briga, traz discussões que acontecem dentro dela para fora. Em biotecnologia lutamos pelo direito de pesquisar, e lutamos pelos direitos dos outros cursos lutarem pelo o que querem”.
A ciência e a educação geram renda, geram desenvolvimento e fazem o país melhor. A CEPAM está na Cidade Universitária, e a gente pode ver todos os dias como os cortes do governo afetam a universidade, ambiente em que futuramente queremos ingressar.
Além de querer defender o desenvolvimento nacional, o CEPAM está aqui para mostrar que quer uma universidade democrática, com liberdade de expressão. A juventude brasileira é sim mobilizada, e sempre foi hiper participativa. Hoje não teria como ser diferente – Guilherme Henrique de Andrade Leme, estudante
Apesar de ser uma universidade privada, o centro acadêmico do Mackenzie tomou a decisão da greve e da aderência a um movimento nacional. Os cortes também afetam os estudantes bolsistas da universidade privada. O que está acontecendo é um ataque à educação como um todo – Rarikan Even da Dutra, estudante.
Isabela: A gente quer livros, não armas. Viemos lutar pelo nosso futuro e dos outros jovens que querem crescer e se formar futuramente. A gente é capaz, a gente pode fazer mestrado, doutorado.
Raira: Estamos carregando as cadeiras para mostrar que a aula é na rua. Aprendemos muito dentro da sala, mas também aqui, ao vivo e conhecendo outros grupos e experiências. Eu, que quero seguir carreira em engenharia civil, tenho que lutar contra o sucateamento da educação.
O corte das bolsas prejudica muita gente. Não é só bolsa, é o trabalho de muitos trabalhadores que desenvolvem pesquisa de base indispensáveis para o país. Se você corta o salário, acabou a ciência.
A geofísica já não é muito conhecida, tem muita coisa na área de divulgação científica que também não é. A não divulgação causa isso e a população acaba não sabendo no que está investindo. Então agora o que queremos é nos organizar e divulgar tudo que estamos pesquisando. Se o governo quer o progresso, ele está seguindo o caminho ao contrário – Amanda Gumeson, estudante.
O INPE está sofrendo um corte muito grande de gastos, que afetou diversos programas de pós-graduação. A galera de exatas tem que demonstrar que está lutando contra esses “contingenciamentos”. E que nós também temos valor, voz. Ciência é progresso. Ciência salva vidas. O Brasil sempre menosprezou ciência e educação e a gente está aqui para mostrar que é hora de fazer o contrário – Weslley Adriano, pesquisador