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publicado dia 20 de fevereiro de 2019

Filme “Eleições” fala sobre potência democrática do grêmio estudantil

Reportagem:

No começo do ano letivo, a Escola Estadual Doutor Alarico Silveira, na Barra Funda, zona oeste de São Paulo, entra em um estado fervilhante de democracia: são as eleições do grêmio estudantil, grupo formado por estudantes que representa seus pares na relação com o corpo docente e a administração escolar.

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Em 2018, ano também de eleição fora dos muros da escola, quatro chapas concorreram: Chapa Rosa, Mais Diversidade, PAS e Chapa Identidade. Cada uma trazia reivindicações diferentes, desde organizar mais saídas para espaços culturais da cidade até debater sobre ouvir funk na hora do intervalo.

O filme está disponível na plataforma Cult SP Play e estreará em cinemas de algumas capitais brasileiras a partir de 14 de março

“A gente acredita na escola. No potencial que ela tem. No potencial que vocês alunos também tem”, anunciou uma das integrantes da chapa Rosa em comício. Essa cena e outras estão presentes no documentário Eleições, da diretora Alice Riff e produzido a partir do edital Videocamp de Filmes 2017.

A primeira exibição do filme aconteceu dia 19 de fevereiro no Espaço Itaú de Cinema, em São Paulo. No debate que aconteceu na sequência, a diretora contou o que a motivou a voltar suas lentes para essa disputa democrática dentro do espaço escolar. “Me interessava muito saber o que aconteceu depois do movimento dos secundaristas e também o por quê de pesquisas mostrarem a taxa altíssima de jovens votando nulo e branco, não se sentindo representados na política.”

jovens da chapa mais diversidade
Jovens que compunham a chapa Mais Diversidade / Crédito: Divulgação do filme

Grêmios e a reinvenção da democracia

Após a exibição do filme, foram convidadas para um debate profissionais de diferentes áreas de educação: Raquel Franzim, assessora pedagógica da Diretoria de Educação e Cultura da Infância do Instituto Alana, Jane Reolo da Silva, mestre em educação, e Ingrid Fernandes, ex-integrante do coletivo Mal Educado e participante das ocupações secundaristas.

Em seu depoimento, Ingrid ressaltou que o movimento ajudou a reavivar o papel do grêmio dentro do espaço escolar. “Muitos grêmios eram falsos, com nomes enviados para a Secretaria de Educação, mas sem que estudantes fizessem uso ativo, participativo e democrático desse espaço. O movimento secundarista os tornou mais vivos”.

Para Raquel, mais do que reproduzir um sistema político externo à escola, com cargos similares como tesoureiro, o grêmio estudantil reinventa e questiona o sistema, provocando uma discussão sobre democracia que deve ser perene.

“A escola é um espaço de cultura viva e o filme mostra isso. Diante da revelia de políticas, de ordens, e de formas negativas de se imaginar a escola, os jovens criam e recriam culturas”. A especialista também apontou que, na organização do grêmio, é praticado o diálogo como forma de resolução de conflito.

washington um dos integrantes da chapa identidade
Washington, um dos integrantes da chapa Identidade / Crédito: Divulgação

O grêmio que pula os muros da escola

As alunas da chapa Rosa, composta somente por meninas, tinham como uma de suas pautas o desejo de voltar a colocar som durante o recreio. No filme, é possível acompanhar como elas dialogam com outros estudantes, como escutam e opinam junto ao corpo administrativo, e também se organizam para entender como dialogar com os vizinhos, que foram os que pediram pela extinção do som.

Para Alice, essa situação exemplifica que, contrariando o senso comum do jovem que não se importa com nada, há uma juventude interessada em buscar soluções para problemas de seu entorno e comunidade.

“Pode parecer despolitizado, por ser uma reivindicação de ouvir funk no recreio, mas é o contrário. A luta deles é importante e nós, enquanto adultos, temos que proteger os ambientes para que essas lutas possam ocorrer.”

O filme também mostra como é difícil envolver escola com território ao seu redor. A escola Doutor Alarico Silveira tem grande parte de seus alunos oriunda da Favela do Moinho, última comunidade remanescente do centro da cidade. “Existe uma diferença no modo como os alunos da comunidade se relacionam com a escola. Ela precisa trabalhar esse território”, aponta a diretora do filme.

Foram justamente estes alunos, segundo a cineasta, que menos se aproximaram durante as filmagens. Em contrapartida, foram os que mais se manifestaram durante assembleias gravadas nos filmes, debatendo questões como a violência praticada pela ronda escolar.

“Pensar a relação da escola com a comunidade é uma construção da democracia. Essa experiência não acontece somente no grêmio estudantil. Tem que ser feita diariamente, em pequenas doses, conversando com as unidades de saúde do bairro, com os vizinhos, com as moças que preparam a comida.”

* Texto atualizado em 27 de agosto de 2024.

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