publicado dia 11 de janeiro de 2019
Arquitetura, gênero e raça: conheça 8 arquitetas e urbanistas inspiradoras
Reportagem: Cecília Garcia
publicado dia 11 de janeiro de 2019
Reportagem: Cecília Garcia
Quando Lina Bo Bardi desenhou o Museu de Artes de São Paulo (MASP), projetou um vão livre como lugar de encontros e trocas, sustentando a estrutura vidrada em vigas permissivas à passagem. A arquiteta ganesa Elsie Owusu, ao desenhar o Kumasi City Hall, também privilegiou lugares de transição entres pessoas, natureza e estrutura, em um prédio baseado no formato de um porco-espinho, animal símbolo para a nação Ashanti.
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Obras projetadas por mulheres por muito tempo não ilustraram ou ilustraram pouco os livros didáticos de arquitetura. Foi percebendo essa ausência referencial enquanto cursavam Arquitetura na Universidade de Brasília (UNB) que Luiza Rego Dias Coelho, Lara Pita, Julia Mazzutti, Hana Augusta de Andrade e Gabriela Farinasso fundaram em 2014 o coletivo Arquitetas Invisíveis.
“As mulheres são 81,5% das profissionais de arquitetura no Brasil. Ainda sim, não havia conteúdo de qualidade sobre sua produção. Isso é muito grave, porque nossa profissão depende muito de referências para fazer projetos e adquirir vocabulário”, relata Luiza.
O projeto começou com um compilado online, onde a cada semana era postado um perfil de uma arquiteta, urbanista ou paisagista em uma página do Facebook. O sucesso da iniciativa levou as jovens a participar de seminários e discussões de gênero e arquitetura e, por fim, criar e ampliar a lista no site Arquitetas Invisíveis. Elas também lançaram duas revistas digitais homônimas.
A centena de mulheres mapeadas pelo projeto demonstra como a diversidade de gênero e raça transforma radicalmente as construções e cidades. Segundo Luiza, isso é especialmente evidente na questão urbanista: a maioria das cidades ainda não leva em conta a jornada não pendular das mulheres, seu maior uso de transportes ou questões como iluminação e calçamento: “Enquanto o homem ocupa, a mulher transita e faz jornadas ramificadas, e isso tem que estar representado no planejamento urbano.”
Nas construção das arquitetas, Luiza também vê traços dessa percepção diferenciada. Dois exemplos são as construções da ítalo-brasileira Lina Bo Bardi: “O vão do MASP é um dos maiores pontos de encontro da cidade. Ele é aberto, protege todo mundo, além de democrático. O Sesc Pompeia é uma apropriação que se transformou em projeto familiar e acolhedor para todos os usuários”, completa a arquiteta.
Juntamente ao Portal Aprendiz, Luiza selecionou 8 arquitetas e urbanistas que transformaram ou ainda transformam seu entorno e o modo de fazer arquitetônico. Confira:
Creditada como a primeira mulher negra norte-americana a cursar arquitetura, Beverly formou-se na Faculdade de Illinois em um período marcado por forte segregação racial. Dedicou a maior parte de seus estudos ao planejamento urbano, e suas mãos e olhos contribuíram com obras de grande porte, como a sede da UNESCO em Paris.
Embora nascida e formada na Europa, Lina Bo Bardi executou a maioria de seus projetos em solo brasileiro. Sensível às questões sociais, teve como assinatura construções promovedoras de diálogo entre espaço e pessoas, além de levar em conta matérias-primas e culturais locais. São dela o MASP, o SESC Pompeia e a cristalina Casa de Vidro.
“Urbanista que estuda o direito à cidade, Raquel Rolnik é a principal referência quando o assunto é tornar a cidade mais democrática, assumindo todos os moradores, desde as periferias até as áreas centrais”, comenta Luiza. Nascida em São Paulo, a urbanista foi relatora especial do Conselho de Direitos Humanos da ONU para o Direito à Moradia Adequada, além de coordenadora de Urbanismo do Instituto Pólis.
Arquiteta e urbanista carioca, Tainá de Paula atua nas áreas de planejamento urbano e arquitetura pública, pesquisando desigualdades habitacionais e caminhos para sua redução. “Ela trabalha com os jovens arquitetos, dando-lhes novos referenciais, principalmente de mulheres”, conta Luiza. Tainá também se candidatou como deputada estadual no ano de 2018, é assessora técnica do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra do Rio de Janeiro e coordena o projeto Brasil Cidades.
O currículo da arquiteta iraniana, dona de seu próprio escritório em Londres, mistura não somente imponentes projetos arquitetônicos como também a preocupação acerca da relação entre estrutura, comunidade e preservação de valores culturais e históricos. Ela também é autora dos livros “A Função da Forma” e a “Função do Ornamento”, considerados referenciais no campo da prática projetual arquitetônica.
Nascida no Japão, mas formada no Brasil, Mayumi trabalhou com grandes nomes da arquitetura, como Lina Bo Bardi. Mas foi seu olhar para as escolas e outros espaços habitados pela infância que definiu seu percurso profissional. Ao longo de trinta anos trabalhando junto com educadores, ela elaborou uma série de projetos para escolas públicas, além de publicar os livros “Espaços Educativos, uso e construção” e a “A Cidade e a Criança”. (Leia o artigo A Criança e a Percepção do Espaço, de Mayumi)
Zaida Muxí nasceu em plena Argentina ditatorial, quando as ruas de Buenos Aires só eram para circular e permitiam poucos lugares para o encontro. Hoje professora de arquitetura da Universidade de Barcelona e convidada a palestrar em todo o mundo, Zaida tem grande parte de sua produção dedicada ao estudo do urbanismo e gênero, entendendo como a cidade e suas construções podem ser menos hierárquicas e mais coletivas.
Responsável pelo plano diretor da Estação Green Park, em Londres, além dos sistemas de transporte público na cidade de Lagos (Nigéria) e Acra (Gana), Elsie é fundadora da Sociedade dos Arquitetos Negros, além de integrante do Instituto Real Britânico dos Arquitetos. Especialista em preservação arquitetônica e infraestrutura de mobilidade urbana, a arquiteta também tem grande atuação contra o racismo e o sexismo institucional, inclusive no próprio instituto britânico.