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publicado dia 30 de maio de 2018

8 lições de Richard Louv sobre a relação crianças e natureza

Reportagem:

Por Claudia Ratti

Dados internacionais mostram que crianças que vivem nos centros urbanos passam 90% do tempo em ambientes fechados. Quando olhamos para o Brasil, os números apontam que 40% das nossas crianças passam apenas uma hora ou menos do dia brincando ao ar livre.

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As informações preocupam considerando os impactos positivos que as experiências em ambientes externos têm no desenvolvimento integral da infância e para sua conexão com o entorno. A fim de resgatar a relação entre crianças e natureza, listamos 8 lições de Richard Louv, cofundador da rede internacional Children and Nature Network e autor do livro A última criança na natureza. Confira:

1. As crianças de hoje estão alienadas da natureza

Para Richard Louv, a relação atual das crianças com a natureza é diferente de algumas décadas atrás. Hoje, elas têm muito mais acesso à informação e entendimento sobre ameaças globais, por exemplo, mas o contato físico com estes ambientes está diminuindo. Se por um lado entendem sobre aquecimento global, de outro, não conseguem identificar em seu dia a dia elementos e fenômenos da natureza. “É provável que uma criança hoje saiba falar sobre a floresta amazônica, mas não sobre a última vez que explorou alguma mata sozinha ou deitou-se em um campo ouvindo o vento e observando as nuvens”, escreve o pesquisador em seu livro. Para ele, a infância de hoje sofre de “transtorno de déficit de natureza” com consequências tais como obesidade infantil, falta de atenção e hiperatividade.

2. A natureza é um instrumento pedagógico

Em seu trabalho, Richard Louv levanta também as inúmeras possibilidades que a natureza disponibiliza para aprender, desde observar uma formiga fazendo seu trajeto até subir em uma árvore. Nesse sentido, áreas verdes podem ser uma importante ferramenta pedagógica quando bem exploradas pelos educadores. Aproveitar jardins, hortas e parques é uma forma de oferecer conhecimento e uma nova fonte de aprendizado para as crianças. Para o autor, na educação de nossas crianças, para cada dólar gasto em tecnologia, deveríamos gastar pelo menos outro no “mundo real”. Isto porque cada vez mais pesquisadores têm sugerido que levar mais verde para as escolas pode ser um dos mais eficientes métodos para alavancar o desempenho dos alunos.

3. A falta de natureza tem impactos físicos, sociais e psicológicos

Quanto menos tempo as crianças passam em áreas naturais, mais seus sentidos ficam limitados. Para Richard Louv, estamos vivendo um momento onde oferecemos às crianças ambientes cheios de telas onde usam cada vez menos os sentidos. Diante dessa limitação, as crianças deixam de desenvolver as habilidades sociais e físicas, além de afetar o psicológico. Longe da natureza, ficam mais ansiosas, estressadas e dispersas. Foi nesse sentido que o pesquisador cunhou o termo “transtorno déficit de natureza” que diz respeito aos vários problemas físicos e mentais que são consequência de uma vida desconectada do mundo natural. Não é um diagnóstico médico, mas um alerta para os efeitos do distanciamento das crianças do meio ambiente.

4. A relação dos adultos com a natureza influencia as crianças

Muitas vezes, apresentamos a natureza como algo positivo, com vários benefícios e que deve ser preservado por todos. No entanto, na prática, passamos boa parte do nosso dia dentro de espaços fechados e conectados às redes virtuais. Para Richard Louv, essa contradição entre discurso e prática pode confundir e passar outra mensagem para as crianças. Afinal, por que elas se interessariam por algo que os adultos a sua volta não mostram interesse? Para Louv, muitos adultos estão dando um péssimo exemplo ficando cada vez mais dentro de casa com dispositivos eletrônicos e, junto com seus filhos, enfrentando problemas de saúde relacionados ao sedentarismo.

5. A natureza pode ser um refúgio acolhedor para as crianças

O autor apresenta a natureza como um ambiente onde as crianças têm um espaço de fantasia e privacidade. “A natureza funciona como um papel em branco no qual a criança desenha e reinterpreta suas fantasias culturais”, escreve. Fora de casa e em contato com o verde, elas conseguem se distanciar de possíveis situações destrutivas, como brigas constantes entre os adultos da casa, e reinventar uma realidade, inspirando a criatividade e trazendo o sentimento de calma. Como exemplo, Richard Louv relata o caso de uma garota que busca a natureza para se sentir bem: “Às vezes vou para lá quando estou brava e, então, com a quietude fico melhor. Volto para casa feliz, e minha mãe nem sabe por quê”, disse a menina ao pesquisador.

6. Precisamos incentivar o tédio construtivo

Momentos de tédio e ócio são essenciais para as crianças criarem e aprenderem com o mundo ao seu redor. Nesse sentido, Richard Louv fala sobre a importância de nutrir nas crianças uma mente ‘construtivamente entediada’. “Crianças construtivamente entediadas acabam se voltando para um livro, constroem um esconderijo, pegam tintas para criar ou voltam para casa suadas depois de jogar bola na vizinhança”, escreve em seu livro. De acordo com ele, o estímulo ao tédio construtivo é uma forma de abrir as crianças para a natureza. Para isso, os responsáveis devem se mostrar como disponíveis para brincar e criar com as crianças  longe da tecnologia. Além disso, é preciso encontrar um equilíbrio entre a supervisão do adulto e o tédio da criança, já que tanto o tédio quanto a supervisão em excesso podem causar problemas.

7. A natureza fortalece laços de amizade

A natureza oferece um espaço favorável para que as crianças brinquem e explorem a área não apenas em uma atividade individual, mas também com um grupo. Em seu livro, o autor desenvolve a ideia de que as amizades profundas surgem da experiência compartilhada, principalmente nos ambientes em que todos os sentidos estão sendo usados. Dessa forma, parques, praças, jardins e outras áreas naturais são um espaço de divertimento e de estreitamento de relações para as crianças. Juntos, exploram o ambiente, descobrem lugares secretos e trabalham em equipe para um objetivo comum, como a construção de uma casa na árvore.

8. É necessário enfrentar o medo da natureza

O medo é uma das questões que afastam as crianças do contato com a natureza. Em alguns casos, esse medo não parte da criança, mas sim de pais e educadores que projetam nelas essa insegurança em relação aos ambientes naturais. Além do receio de que as crianças se machuquem de alguma forma, há o medo de que que o contato com os elementos desse espaço, como plantas e insetos, seja prejudicial à saúde. Esse tipo de comportamento por parte dos responsáveis é extremamente prejudicial para a aproximação das crianças com a natureza. Para Richard Louv, lutar para combater a ideia de que as áreas naturais são perigosas é essencial para trabalhar a reaproximação. Superar esse obstáculo é um passo para contribuir para o desenvolvimento e aprendizado das crianças.

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