publicado dia 28 de setembro de 2017
Em Portugal, projeto busca transformar Sintra em Cidade Educadora
Reportagem: Nana Soares
publicado dia 28 de setembro de 2017
Reportagem: Nana Soares
Abrigando um imenso patrimônio histórico e natural, a vila de Sintra (em Portugal) é hoje o foco da Novo Encanto, organização social portuguesa que desenvolve trabalhos orientados para o convívio harmônico entre pessoas, patrimônio e natureza. Fundada em 2013, a organização se prepara para mergulhar no mundo da educação e da cultura com o projeto Ver de Novo Sintra, que busca promover o desenvolvimento local e integrar a população de toda a região com seu patrimônio, almejando uma Cidade Educadora
A brasileira Nadia Helena é parte importante dessa história. No Brasil, ela foi uma das coordenadoras da Rede Juntos Pela Educação Integral, iniciativa que apoiou o município de Maranguape (Ceará) em sua incursão rumo a uma Cidade Educadora. Agora, morando e estudando em Portugal, ela compartilha a experiência dos projetos de Educação Integral realizados em Maranguape para a vila de Sintra e suas comunidades anexas.
O Ver de Novo Sintra pretende, através de uma abordagem intercultural com as escolas locais, explorar temas como educação, cultura e meio ambiente sob a perspectiva dos Territórios Educativos e ambicionando uma Cidade Educadora. A metodologia ainda está em desenvolvimento e a meta é implementá-la no segundo semestre de 2018.
A 15ª edição do Congresso Internacional de Cidades Educadoras acontece em Cascais, em Portugal, de 13 a 16 de novembro de 2018 com o tema “A Cidade Pertence às pessoas”, e propõe o debate sobre a coesão social na cidade a partir das pessoas e do sentimento de pertencimento a ela. Saiba mais aqui.
Em um primeiro momento, a ideia é trabalhar diretamente com as famílias dos estudantes, educadores e parceiros. “Com os professores, pretendemos trabalhar na linha do que foi feito em Maranguape, abordando como é possível mudar a proposta pedagógica mediante a facilitação de aprendizagem no espaço da escola. É quando pretendemos olhar para a educação patrimonial. O resultado disso deve ser também o primeiro acervo do Ecomuseu local”, explica a brasileira.
O Ecomuseu foi uma das principais estratégias em Maranguape e, por isso, é tão ambicionado na região, conhecida como Junta de Freguesia de Colares. Nadia acredita que a forte cultura de Cidades Educadoras em Portugal e a maior familiaridade com o conceito de Ecomuseu podem facilitar esse processo.
Já com as famílias e com atenção especial aos idosos, as atividades do Ver de Novo Sintra vão perpassar as áreas de saúde e bem-estar, como yoga, acupuntura e Tai-Chi Chuan. Essas ações se darão nos diferentes territórios, inicialmente nas localidades (Freguesias) de Colares, Almoçageme e Eugaria, próxima à Sintra. “O grande objetivo é ressignificar, junto com todos os atores locais, os espaços e equipamentos, ver em cada um deles – inclusive os empreendimentos turísticos – a possibilidade das crianças encontrarem situações mais criativas de aprendizagem, interagindo com o território. ”
Ecomuseu é um conceito ligado à Nova Museologia, surgida na década de 70. Propõe que os museus não sejam ligados ao objeto e sim aos sujeitos e seus territórios. Tal relação é intermediada pelo patrimônio material e imaterial dos territórios – elementos motores do sentimento de pertença a uma comunidade. Nos Ecomuseus (que podem ter um espaço físico ou não), a comunidade tem participação ativa em sua formulação e demais atividades. Saiba mais nas experiências de Santa Cruz e Maranguape.
Uma mudança pedagógica
Para que o Ecomuseu saia do papel é preciso mais do que a conexão das escolas com o território. Segundo Nadia, é necessário que as ações sejam intersetoriais e respondam às principais questões locais, como é o caso da migração e da interculturalidade.
“É necessária uma educação que discuta questões que estão parcialmente ocultas, como a escravidão, a imigração e os refugiados. São discussões fortes no país e que ainda não chegaram na maioria das escolas, e os manuais escolares e propostas pedagógicas precisam aprofundar a temática intercultural para assegurar uma cultura de paz e uma sociedade em que a diferença seja vista como algo positivo.”