publicado dia 2 de dezembro de 2016
Mergulhar na lama: experiências na natureza conectam a criança com o mundo
Reportagem: Danilo Mekari
publicado dia 2 de dezembro de 2016
Reportagem: Danilo Mekari
Entender o direito ao brincar como elemento catalisador de outros direitos, como educação e saúde. Este foi um dos objetivos do seminário internacional A Criança e os Novos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), que ocorreu na última quarta-feira (30/11), em São Paulo. Como está posto no nome, o evento debateu questões referentes ao universo da criança e da cidade e que estão colocadas no conjunto de metas que a Organização das Nações Unidas (ONU) traçou para as próximas décadas.
“Em todo o mundo, vejo muita similaridade entre os problemas infantis”, observou o inglês Robin Moore, arquiteto e urbanista que se especializou na concepção de ambientes de brincar e de aprendizagem para crianças. “Não se mexer direito, não saber de onde a comida vem, viver em ambientes poluídos, gera resultados como aumento do peso, doenças vasculares, baixa autoestima. Tudo isso tem impacto direto no desempenho escolar”, aponta Moore.
Para ele, é necessário criar um ambiente em que elas possam descobrir a beleza da natureza, conhecer o planeta e se reconectar com o ecossistema. “Devemos engajar as crianças com a natureza diariamente, conservando, restaurando e projetando lugares urbanos onde isso aconteça.”
Por ser o lugar onde as crianças ficam a maior parte do tempo quando estão acordadas, o espaço escolar precisa ser adaptado para criar uma paisagem natural onde a criança possa explorar animais, plantas e também brincar livremente. Porém, à medida que vão crescendo, as crianças precisam de novos espaços para se desenvolver, mais amplos e extensos, como o próprio ambiente urbano.
“Os ODS buscam cidades mais verdes, que se engajem em restauração urbana e tecnológica. Ainda, deveria ser uma prioridade a construção de espaços pensados para a infância, pois eles geram maior possibilidade de interação entre todos os cidadãos”, afirmou o arquiteto.
Diretora de programas do Natural Learning Initiative, um laboratório de pesquisa que propõe a criação de ambientes ao ar livre inclusivos para crianças, Nilda Cosco acredita que a rua pode ser vista como uma sala de aula sem regras, onde as crianças podem ter uma aprendizagem diferente da comum e também conhecer os problemas que tanto afetam as aglomerações urbanas.
Ela cita os benefícios à saúde que as vivências externas podem gerar. “Existem pesquisas que mostram que crianças que passam mais tempo em áreas externas tem menos problemas com a miopia, pois o músculo do olho se exercita quando a criança tem que olhar para mais longe.”
A espanhola Irene Quintáns, criadora da Red OCARA, também participou do evento. Conheça aqui a sua experiência.
“Não é só nostalgia de uma infância que vivemos e ficou para trás.” Dessa maneira que o inglês Tim Gill, autor do livro Sem Medo: Crescer em uma sociedade de risco avesso e um dos principais pensadores sobre a infância do Reino Unido, começou a sua participação no evento. “Essas experiências são importantes. Hoje em dia, as crianças têm o mesmo apetite para conhecer o mundo do que antes. A infância é uma jornada para a criança explorar e descobrir – que começa com pessoas dependentes e termina com pessoas responsáveis e resilientes.”
Gill apresentou a experiência da Forest School, na qual as crianças são incentivadas a explorar as florestas semanalmente e de maneira totalmente livre. “Se os educadores tivessem se intrometido, teriam minado essa experiência de aprendizado, tirando da criança a responsabilidade pela própria criança. Devemos permitir que os pequenos aprendam por si mesmos, e se tornem cidadãs por meio da exploração e da vivência cotidiana na cidade”, acredita. “Experiências simples como sujar o pé na lama conectam crianças com o mundo.”
Um dos criadores da campanha internacional Outdoor Classroom Day – trazida para o Brasil como o Dia de Aprender Brincando –, Tim Gill também é uma das vozes mais ativas no debate sobre os benefícios que os riscos trazem para a infância. “A maioria dos pais querem que seus filhos cresçam sendo pessoas capazes e confiantes. Crescer com liberdade é desatar o avental e permitir que, gradualmente, as crianças se afastem de nós e se aventurem no mundo.”