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publicado dia 5 de outubro de 2016

Bolívia Cultural valoriza cultura andina e fortalece identidade migrante em São Paulo

Reportagem:

segunda comunidade estrangeira mais numerosa de São Paulo – atrás apenas dos portugueses – é a boliviana. De acordo com o Censo 2010, em uma década, a quantidade de bolivianos vivendo na capital paulista cresceu 178% (de 6.578 para 17.960). E isso levando em conta apenas os imigrantes em situação regular – ou seja, este número pode chegar a 350 mil pessoas, segundo levantamento do Consulado da Bolívia.

As origens do fluxo migratório boliviano ao território brasileiro remetem à década de 1950, quando famílias de maior poder aquisitivo mandavam seus filhos para estudar no país vizinho. Entre os anos de 1980 e 1990, esse fluxo tem um novo boom, dessa vez direcionado para São Paulo e formado majoritariamente por homens de classes baixas vindos de centros urbanos da Bolívia, como La Paz e El Alto, para trabalhar na indústria têxtil paulista.

Foi nessa segunda leva que Antonio Andrade chegou ao Brasil. Nascido em Sucre, a quinta maior cidade da Bolívia, Andrade vive em São Paulo desde 1993. Formado em comunicação multimídia, decidiu vir ao país atraído pelas oportunidades nas áreas de design gráfico e propaganda. “No início, não tive dificuldades de me inserir no mercado de trabalho nem no ambiente da cidade. Aos poucos, porém, comecei a perder minha identidade: ainda não me sentia brasileiro e também não mais boliviano”, revela Antonio.

Em 2008, lançou a agência de notícias Bolívia Cultural, que divulga a diversidade cultural de seu país natal entre os conterrâneos que vivem no Brasil. Com a plataforma, Antonio pretendia fortalecer e unificar a identidade boliviana, já espalhada pelo território paulistano. “Na Praça do Pari, região onde morava, não tinha nenhum veículo de comunicação local, e havia muitos problemas dos moradores locais com a comunidade imigrante”, relembra.

Plataforma online Bolívia Cultural divulga diversidade cultural do país latino americano, fortalecendo a identidade boliviana em São Paulo.
Antonio Andrade participa de evento que enaltece cultura andina.

Em cartaz no Museu da Imigração, a exposição “Direitos Migrantes: Nenhum a Menos” tem como ponto de partida o entendimento de que a migração é um direito humano e que a nacionalidade não pode servir de impedimento para o exercício de direitos fundamentais que garantam uma existência digna no país de destino.

De acordo com Antonio, o site nasceu como uma contrapartida da visão única imposta pela mídia tradicional sobre a comunidade boliviana estabelecida em São Paulo. “A grande maioria das pessoas perfilava o boliviano como traficante ou escravo. Decidi me aproximar da comunidade e proporcionar outra visão de uma realidade própria do migrante, que seja feita com e para ele”, relata.

A plataforma divulga notícias de eventos, esporte, cultura e direitos humanos ligados à comunidade migrante de São Paulo, além de um guia que sugere lugar para alimentação, estadia, compras e diversão na metrópole. Ali é possível encontrar desde uma receita de saltenha – comida típica boliviana – até histórias pessoais de migrantes de diversas regiões da América Latina.

Lançada pelo site, a campanha Eu Amo a Bolívia exaltou o orgulho que os bolivianos sentem de sua cultura e origem. “Quando chegamos ao Brasil, isse de perde. A criança que nasce aqui não tem essa formação, assim como a ideia de uma vida comunitária.”

Antonio critica uma parcela de brasileiros que não se identificam como latinos. “Se todo mundo tivesse o mesmo rosto seria chato. Ser diferente é muito bacana e nos aproxima como povo.” Com essa ideia, o boliviano também está por trás do site Planeta América Latina.

Plataforma online Bolívia Cultural divulga diversidade cultural do país latino americano, fortalecendo a identidade boliviana em São Paulo.
Comunidade boliviana é a segunda maior colônia de imigrantes da capital paulista.

Se a população boliviana residente em São Paulo cresceu nos últimos anos, também é verdade que a cultura andina tem ganhando mais espaço na cidade. A Feira da Kantuta é o maior exemplo desse movimento, mas não é o único: a independência da Bolívia tem sido comemorada anualmente, no mês de agosto, com a ocupação de espaços públicos como a Avenida Paulista e o Memorial da América Latina.

Para o boliviano, o paulistano é aberto ao diferente, já que a cidade recebeu muitos migrantes ao longo de sua formação. “Eu sempre fui uma pessoa de muito diálogo, e isso me ajudou demais. Não pedir ajuda é um problema: se estrangeiros e brasileiros aprenderem a dialogar mais uns com os outros a integração será facilitada.”

Antonio não deixa de apontar a dificuldade que organizações sociais e órgãos públicos têm na construção de ações e políticas voltadas para a população imigrante, já que essas iniciativas acontecem sem processos ativos de escuta. “Não queremos ser apenas números. Devemos assumir a nossa importância. Ser protagonista é muito importante para nós”, conclui.

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