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publicado dia 26 de agosto de 2016

Cultura: como as artes podem transformar nossas cidades?

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O jornalista Tarso Araújo sempre pensou muito sobre cinema e discutia com amigos a ideia de fazer um filme. Um dia, durante seu trabalho como repórter, conheceu uma mãe que lutava para tratar a epilepsia grave e incurável de sua filha de cinco anos com Canabidiol, proibido no Brasil por ser derivado da maconha. A batalha da mãe pelo direito à saúde da filha, desafiando o Estado e a cultura proibicionista, virou o documentário Ilegal, que, segundo Tarso, “fundou o debate sobre maconha medicinal em escala massiva no país”.  Após o filme viralizar na rede, o Canabidiol finalmente teve seu uso aprovado no país.

“Isso me fez acreditar ainda mais no poder da arte e da cultura de mudar a vida das pessoas, de conseguir catalisar transformações sociais que estavam ali latentes”, acredita Araújo, que abriu a roda de conversa “Cinema: Luzes, Câmera e Mudança” que, em conjunto com “Arte: Consciência e Atitude”, fechou o ciclo de debates “ContAí”, da Virada Sustentável 2016, na noite dessa quinta-feira, em São Paulo, abordando o papel do cinema e da arte para quebrar paradigmas.

Estela Renner, da Maria Farinha Filmes, também trouxe na bagagem a experiência de ver um filme seu atingindo milhões de pessoas e transformando muitas vidas. Ainda assim, ela acredita que para mudar o mundo, “não existe ação pequena, não deixe de agir nem que seja para uma pessoa”. Diretora do filme “O Começo da Vida”, um documentário sobre a Primeira Infância, ela acredita que o cinema é capaz de “trazer o sensível e modificar olhares”.

 Filmes para transformar 

O Portal Aprendiz pediu para os diretores Tarso Araújo, Estela Renner e Leonardo Brandt que indicassem filmes que os transformaram. Confira!

Leonardo Brandt: 2001 – Uma Odisseia no Espaço, Valsa com Bashir e Cinema, Aspirinas e Urubus.
Tarso de Araújo: Beijos Proibidos e Black Fish.
Estela Renner: The Mask You Live In, Food Inc e La Dolce Vitta.

Além do O Começo da Vida, a produtora Maria Farinha Filmes já lançou “Muito Além do Peso”, sobre obesidade infantil, “Território do Brincar” e “Tarja Branca”, que retratam a importância e os modos de brincar de crianças e adultos. Todos eles estão na plataforma Videocamp, que seleciona e disponibiliza vídeos transformadores para serem assistidos coletivamente.

“Se alguém juntar cinco pessoas, nós disponibilizamos qualquer vídeo do Videocamp, pedindo de contrapartida uma foto da exibição. Acreditamos que alguns filmes são feitos para serem vistos coletivamente e assim ganhar impacto”, relata Estela que afirma já ter recebido fotos de exibições em ocas, sítios afastados, agroflorestas e ocupações.

 

 

Arte que mobiliza

Baixo Ribeiro, fundador da galeria Choque Cultural, abriu o debate sobre arte e transformação apostando na potência da arte de iluminar, inspirar e chamar atenção para pontos cegos da nossa sociedade. “Estamos num processo de intensas mudanças, com a população mundial migrando massivamente para as cidades que não conseguem se adaptar na mesma velocidade em que crescem. A qualidade de vida das pessoas piora cada vez mais nas cidades, que são manipuladas por empreiteiras. Eu acredito que a arte é capaz de mobilizar situações de enfrentamento à essa lógica e apontar na direção da cidade que queremos”, acredita.

Ribeiro, que recentemente ajudou a produzir o livro “A escola é cidade – A cidade é escola”, defendeu também uma maior permeabilidade entre comunidade e escola para que a comunidade possa ensinar. “O cidadão é criado no conflito, na confusão, na discussão, sem muros. Um ambiente escolar pautado pelo interesse, por oficinas criativas, conectado ao território, será muito mais frutífero que essa escola ordeira e hierárquica”, propõe.

Para Carolina Teixeira, grafiteira que participou da mesa, não adianta ficar “brisando nas firulas” enquanto professores de escola pública “estão indo parar na cadeira do psiquiatra”. “Minha experiência de escola pública me lembra que ali não tinha nem um nutriente para uma criança se desenvolver. Primeiro temos que pensar na condição mínima, aí sim começamos a conversar sobre que escola a gente quer”, criticou.

A jovem passou a fazer parte da mesa após o convite do grafiteiro e fundador do Pimp My Carroça, Thiago Mundano, que assinou o manifesto “Não Tem Conversa”, no qual homens se comprometem a não fazer falas em eventos públicos sem a presença de mulheres na mesa. E trouxe, em seu discurso, a força da experiência de uma artista periférica.

eu quero discutir o que é ser mulher na cidade junto com essa nova geração que está surgindo

“É muito importante trazer nossa voz e nossas experiências enriquecem o debate que está fervilhando na cidade: sobre a relação entre o espaço público e de como nossos corpos querem ocupá-lo”, disparou. Ela relata que começou a grafitar desde muito cedo com um grupo de meninas, mas percebia que suas pixações eram apagadas tanto por outros artistas como por retaliação.

“Eu me escondi por anos, só desenhava em papel, até que entendi esse “exílio de mim mesma” e voltei para às ruas, estampado úteros nos muros e paredes da cidade. Meus úteros são brancos, sem cor nem detalhe, porque eu quero discutir o que é ser mulher na cidade ao lado dessa nova geração que está surgindo – com uma estética, formas de funcionamento, aprendizados e ocupações do territórios próprias que, de maneira periférica e não-branca, vão quebrando essa estrutura da Casa Grande e da Senzala’”, conclui.

(a foto que ilustra essa matéria é de Universo Produção, via Flickr Creative Commons)

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