publicado dia 22 de agosto de 2016
“Cidade dos Sonhos” aposta em participação social para criar cidades sustentáveis
Reportagem: Pedro Nogueira
publicado dia 22 de agosto de 2016
Reportagem: Pedro Nogueira
“A questão do aquecimento global pode parecer algo muito grande e até mesmo paralisador para as pessoas, que acham que não há nada que se possa fazer. A nossa ideia é desmistificar isso e trazer para a vida delas”, resume Gabriela Vuolo, representante do projeto apartidário Cidade dos Sonhos, uma plataforma que visa ser “uma ponte entre os desejos da população no campo da sustentabilidade e os candidatos ao poder público”.
Lançada em junho deste ano, a plataforma congrega mais de 30 organizações da sociedade civil de todo o país que estão engajadas na criação de cidades sustentáveis. “Nós tivemos, desde o começo, a intenção de incidir nas eleições municipais por meio de uma mobilização de pessoas, para que elas construam suas propostas em quatro áreas estratégicas: resíduos, áreas verdes, energias limpas e mobilidade urbana. O que vemos é que saúde, educação, segurança e moradia seguem sendo importantes, mas as pessoas não querem mais só o arroz e feijão”, aponta Gabriela.
As afirmações de Gabriela foram respaldas por diversas frentes de pesquisa levadas adiante pela plataforma. Pelo site, quase 1400 participantes deixaram suas impressões e avaliaram os sonhos “pré-moldados” que lá estavam. Voluntários do movimento Engajamundo tomaram as ruas de diversas cidades do país para conversar com a população sobre alternativas sustentáveis para os municípios.
Coleta seletiva para todas as pessoas, iluminação pública eficiente, fim dos lixões, áreas verdes em toda a cidade, tetos solares nas escolas, mais ciclovias, inclusão de catadores, hortas orgânicas na escola, compostagem obrigatória para grandes geradores de resíduos, transporte integrado, planejamento urbano que priorize pessoas e pedestres, corredores de ônibus. Todos este temas tiveram mais de 90% de aprovação nas pesquisas online e de rua. Apenas “Menos velocidade, menos mortes” e “menos vagas de carro” tiveram índices de aceitação abaixo de 90%.
E de que maneira essas impressões podem impactar as agendas políticas? Para medir isso, a plataforma encomendou uma pesquisa ao Datafolha, divulgada em cerimônia realizada no dia 18/8, para medir a reação da população sobre os temas. 96% acreditam que resíduos sólidos são muito importantes na agenda de um candidato. 94% acha o mesmo de áreas verdes. Mobilidade é essencial para 92%. E isso se traduz em votos: em torno de 45% dos entrevistados mudariam de votos caso o candidato não tenha uma boa resposta para estes temas.
Novas ideias
Além de mensurar a opinião pública sobre temas chaves, a plataforma também traz propostas inovadoras. Um exemplo são as escolas solares, uma campanha levada adiante pelo Greenpeace desde o ano passado. A campanha parte do diagnóstico de que energia elétrica é um dos principais gastos que os municípios tem com educação. Para testar essa ideia, a organização instalou um sistema fotovoltaico em um escola pública em Uberlândia (MG).
“Após um ano, a escola economizou mais de 15 mil reais, que agora serão reinvestidos a partir de uma consulta com a comunidade escolar e os pais. As energias são um meio para a atividade humana e podem também ser um meio para melhorar a educação”, acredita Bárbara Rubim, do Greenpeace.
Para desenvolver estes temas, o Portal Aprendiz conversou com alguns dos envolvidos na criação das propostas iniciais do Cidade dos Sonhos sobre a importância de suas pautas na construção de cidades mais justas e sustentáveis. Confira:
#Mobilidade, por Thiago Benicchio, gerente de transportes ativos da ITDP-Brasil
“Ficou muito perceptível em São Paulo nos últimos anos o fato de que a mobilidade é uma questão chave e que gera uma série de problemas. Mas também ficou evidente que, a partir do momento em que se mudam algumas chaves na estrutura da mobilidade, começam a se criar novas possibilidades muito interessantes para a vida nas cidades, como por exemplo a criação de faixas de ônibus, que resultam em um ganho de tempo na vida das pessoas; ciclovias e ciclofaixas que ajudam em deslocamentos curtos e se integram com outros modais e passam a fazer parte do imaginário das pessoas; redução dos limites de velocidade, que trouxe uma redução de mortes significativas e uma pacificação da cidade.
Como todo mundo é afetado pela questão da mobilidade – de todas as classes, de todas as idades – e por conta da crise do modelo anterior, isso passou a ser uma preocupação social. Não sei como ela vai ser tratada nas eleições, mas espero um debate de ideias, que leve em conta que a cidade precisa priorizar o transporte coletivo, a bicicleta e o pedestre.”
#Energias Limpas, por Bárbara Rubim, da Campanha de Clima e Energia do Greenpeace
“O tema de Energias Limpas é novo nas eleições e esse é, na verdade, o seu grande desafio: se tornar visível. Ele sempre foi visto como algo super estrutural, no campo do macro, e que apenas é possível enquanto uma política do governo federal. Mas hoje está cada vez mais forte a possibilidade do cidadão gerar sua energia e passou da hora do poder público se empoderar dessa possibilidade e usar como um instrumento de transformação das políticas públicas, como a nossa proposta de isenção de impostos para quem gera sua energia.”
#Resíduos Sólidos, por Thiago Mundano, grafiteiro e criador do PIMP MY CARROÇA, movimento que luta para tirar os catadores de materiais recicláveis da invisibilidade, promover a sua auto estima e sensibilizar a sociedade
“Uma das coisas mais geradas em qualquer cidade é resíduo e até agora nenhum prefeito ou candidato tratou isso da maneira séria que merece. São Paulo gera 1,3kg de lixo por habitante por dia. Se fala até em 20 mil toneladas por dia de lixo na capital, da qual não se recicla nem 3%. A tragédia é que uma riqueza imensa que poderia ser usada para minorar os problemas de uma grande parcela da população – você consegue criar empregos com o que a gente está jogando fora com uma visão de curto prazo, que também contribui para esgotar aterros.
Precisamos de pessoas com coragem para enfrentar essa situação, porque eu acredito que existem recursos para isso e garantir a coleta seletiva em todos os domicílios é um direito do cidadão. A solução passa menos por mecanização e mais por ‘turbinar’ o que a gente já tem, incluindo os catadores, para pensar em novas soluções com dignidade, garantindo segurança e o direito à cidade para aqueles responsáveis pelo grosso da reciclagem. Eles querem evoluir. Eles precisam ser valorizados.”