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publicado dia 17 de junho de 2016

Educação Ambiental assume papel fundamental na Cidade Educadora

Reportagem:

Aproximar as agendas da Educação Ambiental e da Cidade Educadora e estreitar os objetivos em comum entre os dois conceitos. Este era o objetivo central do III Seminário Educação Ambiental semeando a Cidade Educadora, que ocorreu nesta sexta-feira (17/6) nas dependências da Universidade Aberta do Meio Ambiente e Cultura de Paz (UMAPAZ), localizada dentro do Parque Ibirapuera, na zona sul de São Paulo.

Organizado em parceria da UMAPAZ com a Associação Cidade Escola Aprendiz (ACEA), o evento reuniu representantes do poder público, gestores escolares, docentes, pesquisadores e estudantes para debater novas possibilidades de futuro para a capital paulista, com foco na relação das escolas com seus territórios.

Além de debates, o seminário promoveu oficinas para professores e vivências na natureza para estudantes, em um dos espaços verdes mais valorizados da metrópole. As Diretorias Regionais de Educação (DREs) de cinco regiões participaram do evento: Penha, Itaquera, Butantã, Jaçanã-Tremembé e Pirituba.

Seminário Educação Ambiental semeando a Cidade Educadora aproxima a agenda entre os conceitos e afina seus objetivos.
Seminário contou com a participação de gestores públicos, docentes, pesquisadores e estudantes.

A lei nº 15967, de janeiro de 2014, institui uma política municipal de Educação Ambiental em São Paulo. “É muito difícil, porém, a aplicação dessa norma nas escolas”, pontua Mônica Borba, diretora da UMAPAZ, “apesar de muitas delas já estarem promovendo este tipo de educação”. Ela defende a criação de uma plataforma que reúna o conhecimento adquirido a partir dos projetos de Educação Ambiental que já existem na cidade.

Contudo, Mônica afirma que tal conceito – que pode ser essencial para o futuro da Terra – ainda não está estabelecido tanto na espinha dorsal da cidade quanto em nossas vidas. “Estamos em um momento de grande transição: o ser humano vive um impasse de sobrevivência no planeta. Nosso modelo de desenvolvimento está em xeque. Ou nós aprendemos a viver a favor da vida, ou estaremos fadados a não estar mais aqui”, prevê.

Coordenadora Executiva de Programas da ACEA, Agda Sardenberg lembrou que “a educação não é uma preparação para a vida, é a própria vida”. Para ela, portanto, é preciso reconectar o conhecimento que se produz em espaços escolares com uma educação que pensa a vida integralmente. “É preciso integrar famílias, escolas, comunidades, empresas e governos em um processo contínuo”, afirma.

Agda ainda elencou as principais premissas de uma Cidade Educadora: estímulo à participação e controle social, escolas como agentes de transformação do território, integração de políticas públicas em perspectiva intersetorial e acesso aos bens culturais.

Seminário Educação Ambiental semeando a Cidade Educadora aproxima a agenda entre os conceitos e afina seus objetivos.
Evento contou ainda com vivências na natureza.

Durante a mesa de diálogo “Práticas e Políticas Públicas por uma Cidade Educadora”, Laís Fleury apresentou o recém-lançado programa Criança e Natureza, ligado ao Instituto Alana. “Nosso sonho é garantir condições para que as crianças tenham uma infância rica em natureza. Para que isso aconteça, porém, é preciso reestruturar muitas esferas da sociedade: social, médica, educação, planejamento urbano”, aponta.

São inúmeros os efeitos positivos de um contato maior da criança com a natureza – e esta conexão pode começar em casa. “Qualquer espaço ao ar livre, um quintal ou um pequeno ambiente natural pode ser suficiente para este primeiro contato”, explica Laís. “Mas é preciso que um adulto esteja disponível a acompanhá-la, com um olhar sem julgamento nem preconceito, permitindo que a criança tenha tempo e possa criar suas próprias brincadeiras com liberdade.”

Laís defende que o processo de aprendizagem passa também pelo conhecimento do próprio corpo. “Precisamos acordar nosso cérebro. O corpo parado e a falta de movimento também contribuem para um maior déficit de atenção”, observa, incentivando os educadores a criar identidade com a natureza para, então, “desemparedar” as crianças de dentro das escolas.

Seminário Educação Ambiental semeando a Cidade Educadora aproxima a agenda entre os conceitos e afina seus objetivos.
Educação Ambiental desponta como fundamental na criação de Cidades Educadoras.

Integrante do programa São Paulo Integral, vinculado à Secretaria Municipal de Educação, João Kléber Santana Souza acredita ser necessário “recuperar o sentido da educação e transformar o currículo tradicional”. Para tanto, a política pública – baseada em uma concepção da educação como instrumento para a democracia – pretende estimular a autonomia das escolas, a criação de espaços de diálogo, de um currículo emancipatório e de comunidades de aprendizagem, promovendo territórios educativos.

Souza cita um grande desafio que surge nesta caminhada: a intersetorialidade. “Existe uma vontade clara de atingir a Cidade Educadora, mas a rota de pensamento e ação não é tão articulada quanto precisa ser”, argumenta. “Exige articulação na própria secretaria, e isso não é simples, pois existe uma lógica de pensamento muito fragmentada.”

Plano Municipal da Mata Atlântica

Cerca de 33% da área total da cidade de São Paulo é constituída por espaços verdes passíveis de conservação e preservação. É o que mostra um mapeamento realizado pelo Plano Municipal de Mata Atlântica (PMMA), a ser publicado no dia 30/6.

“É importante propor essa conservação junto com quem mora e atua nessas regiões. Nos esforçamos para que o plano fosse participativo e tivesse a cara da cidade”, define Domingos Leoncio Pereira, educador ambiental da Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente e diretor da Divisão de Unidades de Conservação do Departamento de Parques e Áreas Verdes.

Seminário Educação Ambiental semeando a Cidade Educadora aproxima a agenda entre os conceitos e afina seus objetivos.
World Café proporcionou espaço de troca de experiências aos participantes.

Na parte da tarde, o Seminário realizou uma aventura ambiental com os estudantes presentes, que puderam participar de uma sessão do Planetário Aristóteles Orsini, e uma oficina de mediação de conflitos na escola, na qual professores puderam debater sobre o tema com a facilitação de Sandra Inês Baraglio Granja. Também aconteceu um World Café, no qual foram debatidos as conexões existentes entre a Educação Ambiental e as premissas para a Cidade Educadora.

Neste processo, foram realizadas oficinas para a população indicar áreas prioritárias para o plano. “Precisamos vencer o preconceito de especialistas e técnicos, que teoricamente sabem de tudo, e conseguir enxergar o grau de empatia e desejo que as pessoas demonstram em relação a uma determinada área.”

Pereira traça um paralelo entre os diversos trechos de mata atlântica espalhados pela capital e suas políticas públicas que não dialogam entre si. “Em São Paulo, existe um mosaico de áreas verdes, pequenas e fragmentadas – como tudo na metrópole, até nossa consciência e pensamento. Devemos trabalhar pela integralidade, reconhecer que ela existe e costurá-la dentro de nós, pois está fragmentada.”

O educador compara a criação do PMMA com o ato de nadar contra a correnteza em um mar de interesses antagônicos e difusos que existem em São Paulo. “A educação é a trajetória para a lucidez de encontrar as conexões que as pessoas têm com o mundo, e o educador é o guia para essa lucidez. Aprender com a natureza é essencial para uma metrópole como essa, e o Plano vai tentar dar esse passo importante para a cidade”, conclui.

(A foto que abre esta reportagem é de autoria de Pedro Ribeiro Nogueira)

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