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publicado dia 16 de junho de 2016

“Hackear” a política pode ser uma das soluções para a crise da democracia brasileira

Reportagem:

No Brasil, 39% dos jovens entre 18 e 32 anos se consideram “alheios” à política. Enquanto 28% se declaram “críticos”, pois se posicionam politicamente mas não produzem nenhuma ação política prática, outros 17% se julgam “à deriva” – têm interesse pelo tema, mas ainda não definiram um posicionamento claro. Os 16% restantes se dividem em dois grupos – metade é formada por agentes de transformação social ligado às Organizações Não Governamentais, associações voluntárias e igrejas e a outra metade é constituída por “hackers da política”.

Esses são alguns dos resultados da pesquisa Sonho da Política Brasileira, realizado pela empresa de pesquisas e tendências Box1824, especializada em comportamento jovem. Mais de mil jovens de todo o Brasil (classes A, B e C) foram entrevistados. Segundo Beatriz Pedreira, cientista social e integrante da pesquisa, um dos resultados mais relevantes foi o reconhecimento das Jornadas de Junho de 2013 como grande marco simbólico para a atual geração de jovens.

“Foi um momento que desobstruiu o canal de participação para a juventude e, entre eles, se criou um novo modo de agir politicamente”, declara Beatriz em sua intervenção na mesa de debate “A voz do jovem na mobilização social”, realizada durante o Seminário Internacional Cidades e Territórios: encontros e fronteiras na busca da equidade.

Juventude e participação política foram tema de debate realizado durante o Seminário Cidades e Territórios: encontros e fronteiras na busca da equidade.
“A forma como o partido se organiza não dialoga com a forma que o jovem se organiza: em rede.”

Antes de prosseguir, Beatriz explicou o conceito de hackers da política. “Assim como os hackers da informática, são capazes de entender um sistema, encontrar suas brechas e transformá-lo por dentro. Possuem causas transitórias e múltiplas – se uma mulher feminista engravida, por exemplo, se tornará ativista da primeira infância”, descreve. Além disso, há uma evidente desconexão com as bandeiras partidárias. “A forma como eles se organizam não dialoga com a forma que o jovem se organiza: em rede.”

Para ela, os secundaristas que ocuparam escolas públicas em vários estados brasileiros para reivindicar melhorias na educação em geral são o maior símbolo desse novo comportamento político. “Tinham uma causa, se organizaram em rede de forma descentralizada, com lideranças múltiplas, e pressionaram o Estado para rever suas posições. Hoje até uma CPI eles conseguiram emplacar”, afirmou a pesquisadora, citando a Comissão Parlamentar de Inquérito que investigará a máfia da merenda em São Paulo.

Beatriz lembrou que o movimento secundarista, que deu “oxigênio para a política”, foi influenciado pela Revolta dos Pinguins, no Chile, e pela mobilização similar que ocorreu no Paraguai e derrubou a ministra da Educação. “Isso mostra que os movimentos sociais da América Latina estão conectados e trocam tecnologias entre si para fazer a transformação, mesmo de uma forma não estruturada”, pontua.

A pesquisadora também ajudou a mapear práticas políticas inovadoras em vinte países do continente – disponíveis na plataforma Update Politics – e detectou um ecossistema político semelhante entre eles. “Dá para dizer que existe um tipo de política emergente na América Latina”. E citou três tendências de comportamento que estão impulsionando a renovação política na região:

1)      Protagonismo do cidadão, tirar a política dos gabinetes e trazer o cidadão para construir a política pública;

2)      Identidade estética, com uma nova forma de comunicar a política;

3)       Busca pela transparência.

Juventude e participação política foram tema de debate realizado durante o Seminário Cidades e Territórios: encontros e fronteiras na busca da equidade.
CPI da Merenda é mais um desdobramento do movimento secundarista que ocupou centenas de escolas em 2015.

Idealizador da Escola de Notícias, organização que utiliza a comunicação para impulsionar transformações comunitárias, Tony Marlon mora no Campo Limpo – segundo ele, se o bairro fosse uma cidade estaria entre as 30 maiores do Brasil, com mais de 600 mil habitantes. Destes, 54% têm até 29 anos. “A médio e longo prazo, é absurdo o nosso poder econômico e criativo.”

No atual contexto político brasileiro, Marlon afirma que os movimentos juvenis localizados na periferia estão rompendo com a lógica de projetos – cada um lutando por sua demanda – e resgatando a lógica de lutas coletivas. “As demandas em comum nos conectam. Precisamos nos reinventar e a juventude tem que fazer parte desse debate. Afinal, nós somos aqueles por quem sempre esperamos”, declarou.

“É olhando para o que está acontecendo nas bordas das cidades que conseguiremos solucionar desafios da política do século 21”, acredita Beatriz, “trazendo novos olhares e caminhos para atualizar a democracia, deixando ela mais porosa e participativa”.

(A foto que abre esta reportagem é de autoria de Rodrigo Zaim / R.U.A Foto Coletivo)

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