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publicado dia 16 de dezembro de 2015

Escola estimula mobilidade a pé e promove aprendizagem de crianças no território

Reportagem:

Céu nublado. Garoa. As esquinas das Barra Funda com seu característico cheiro de café e cidade. Aquela manhã tinha tudo para ser como muitas outras no bairro da zona oeste de São Paulo – mas não foi. Pois quem andava pelas ruas da região presenciou situações inéditas.

Dezenas de crianças deixaram a EMEI Antônio Figueiredo Amaral e foram descobrir o que havia para aprender nessa cidade tão próxima quanto proibida. E, nesse processo, quem também aprendeu foram os habitantes: a Barra Funda começou a sentir o poder transformador da infância ocupando suas ruas.

Durante duas semanas, parceria entre EMEI Antônio Amaral e Coletivo Apé levou cerca de 180 crianças para conhecer a vida do bairro com os próprios olhos.

“Temos que lembrar o tempo inteiro que, conectando a criança com o bairro, familiarizando-a com o espaço público, ela vai querer mudar o mundo do qual faz parte”, afirma Beatriz Cardoso, diretora do Laboratório de EducaçãoLeia mais em Uma cidade para crianças é uma cidade para todos

Organizada em uma parceria entre a escola e o Coletivo Apé – Estudos em Mobilidade, a ação faz parte do projeto “Exploradores da Rua” que, durante duas semanas, levou cerca de 180 crianças entre cinco e seis anos para conhecer a vida do bairro com os próprios olhos.

Acompanhadas de perto por professores e membros do coletivo, os pequenos foram divididos em grupos de dez e identificados com crachás e lenços coloridos.

Assim que ultrapassaram a porta que separa a escola da rua, inaugurou-se um novo tempo e um novo espaço de aprendizagem: aberto à cidade, ao imprevisível e ao imponderável, estimulando a observação e a imaginação infantil, com base na diversidade de conhecimentos presentes (e muitas vezes escondidos) em poucos quarteirões de uma metrópole como São Paulo.

Durante duas semanas, parceria entre EMEI Antônio Amaral e Coletivo Apé levou cerca de 180 crianças para conhecer a vida do bairro com os próprios olhos.

Foi o que aconteceu quando as crianças toparam com pedreiros que descansavam em frente a uma grande obra na rua dos Americanos. Mostraram-se curiosos com o tamanho do prédio que está sendo erguido ali, logo ao lado de onde estudam, e iniciaram conversas sobre a construção da cidade. Na loja de costura do senhor Perípedes, bastou abrir a porta para as crianças adentrarem o espaço e conhecerem de perto o trabalho do alfaiate, há 56 anos no local. “Muito simpática essa visita. E inteligente também, pois é bom para as crianças”, elogiou o alfaiate.

Ao dobrar a via, a professora perguntou se os alunos já passaram por aquela rua. “Jááááá”, veio a resposta em uníssono. As trocas entre adultos e crianças aconteciam naturalmente. “Por que tremeu o chão?”, questionou uma delas, ao passar um ônibus. “O que é aquilo vermelho pintado na rua?”, perguntou outra, apontando uma ciclovia. Todas carregavam uma sacola plástica para guardar os achados interessantes da cidade – pedras, flores, frutas – e um binóculo lúdico de papelão, feito nas atividades que antecederam o passeio.

Durante duas semanas, parceria entre EMEI Antônio Amaral e Coletivo Apé levou cerca de 180 crianças para conhecer a vida do bairro com os próprios olhos.

Na rua do Bosque, as crianças conheceram uma distribuidora de material de construção civil e ficaram impressionadas com o tamanho da roda do trator. Vizinho dali, um restaurante que preparava o almoço viu de repente o seu balcão repleto de crianças que, instigadas pelo cheiro de comida, queriam saber o que seria servido ali.

Durante duas semanas, parceria entre EMEI Antônio Amaral e Coletivo Apé levou cerca de 180 crianças para conhecer a vida do bairro com os próprios olhos.

Prosseguindo o passeio, a cada esquina grafitada a trupe parava para analisar os desenhos. Na rua Anhanguera, de onde se avistam os trilhos da CPTM, as crianças primeiro se assustaram com o trem passando veloz, depois fizeram questão de esperar a passagem do próximo. Dentro do LAB 74, oficina de marcenaria e serralheria que também abriu a porta para os estudantes, o objetivo inicial foi reconhecer os objetos que já tinham visto. “Meu pai usa uma furadeira igualzinha”, lembrou um dos alunos. “Aquela lixadeira minha mãe me ensinou a usar.”

Ainda deu tempo de visitar as instalações do Centro Esportivo Educacional Raul Tabajara. “Estou realizando um sonho. Acho que hoje é o dia mais feliz da minha vida”, arrematou uma pequena garota que sorria sem parar. Ao final da atividade, os alunos voltaram para a sala de aula e colaram os objetos recolhidos em cima de um mapa da região.

Durante duas semanas, parceria entre EMEI Antônio Amaral e Coletivo Apé levou cerca de 180 crianças para conhecer a vida do bairro com os próprios olhos.

Em entrevista ao Portal Aprendiz, o psicólogo Peter Gray critica o isolamento social que acomete grande parte das crianças. Para ele, atualmente os meninos e meninas encontram outras pessoas “não em comunidade, mas só na escola. Elas estão virtualmente isoladas de outros adultos e elas precisam deles. Precisam sentir que existem diversos adultos que se importam com elas.” De acordo com o estudioso, as crianças precisam de diferentes modelos de vida para poder escolher qual melhor serve às suas necessidades individuais, ao que elas querem ser.

Leia mais em Peter Gray: Brincar e sentir-se parte de uma comunidade são essenciais para a aprendizagem das crianças

“A nossa ideia é justamente essa: mostrar uma cidade bacana para as crianças”, aponta Carolina, do Apé. Antes do passeio, o coletivo promoveu reunião com os professores para introduzir a importância do entorno da escola no processo de aprendizagem, estimulando a construção coletiva de um trajeto. Os pais dos alunos também foram chamados para colaborar com um grande mapa que detalhou todos os equipamentos existentes na região. “É uma maneira de eles, pais e alunos, se sentirem mais seguros.”

A professora Telma, que acompanhou o passeio, acredita que as crianças precisam crescer sabendo que a rua é uma possibilidade. “Elas não entendem porque vivem enjauladas. A importância dessa ação é trazer a apropriação do espaço para a educação infantil”, observa. Ela afirma que a recepção positiva da comunidade é fundamental para driblar a falta de equipamentos públicos na região e defende que a ação tenha continuidade e que, se possível, seja institucionalizada pela gestão escolar.

Durante duas semanas, parceria entre EMEI Antônio Amaral e Coletivo Apé levou cerca de 180 crianças para conhecer a vida do bairro com os próprios olhos.

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