publicado dia 6 de novembro de 2015
Estudantes desenvolvem cisterna acessível, eficiente e ecológica no interior do Ceará
Reportagem: Pedro Nogueira
publicado dia 6 de novembro de 2015
Reportagem: Pedro Nogueira
Por Caio Zinet, do Centro de Referências em Educação Integral
Maria Vanessa Oliveira e Fátima Natanna de Miranda são duas jovens de 17 anos, estudantes do 3° ano do ensino médio na Escola Estadual de Educação Profissional Júlio França, no município de Bela Cruz (CE), que incentiva constantemente que seus alunos busquem dialogar com as demandas do território e que usem da inovação para resolver problemas sociais.
Bela Cruz é uma cidade do semiárido cearense que convive com a escassez de água potável e com a falta de instrumentos básicos de captação. Além da seca, a cidade tem uma água de pouca qualidade, com muito sal, o que dificulta seu consumo e até mesmo sua utilização para fins agrícolas.
Esses dois problemas poderiam ser resolvidos de forma simples com a construção de cisternas e de unidades de tratamento de água. O alto preço, no entanto, torna essas alternativas inviáveis para a maioria da população da cidade.
As duas jovens começaram a desenvolver um projeto ainda no 1° ano do ensino médio, em 2013. O objetivo era ajudar a população da cidade a superar esses problemas, desenvolvendo cisternas com um preço mais baixo e um sistema de dessalinização da água que fosse financeiramente acessível para os moradores.
Natanna e Vanessa foram desenvolvendo a ideia e, posteriormente, procuraram um dos professores da escola, Fernando Nunes, que as orientou no projeto que resultou na construção de cisternas 90% mais baratas do que as convencionais e também em um sistema de dessalinização da água.
“Fizemos uma cisterna usando materiais mais baratos porque substituímos parte do cimento que era utilizado nas obras por fibras obtidas a partir da folha bananeira. O custo de uma cisterna caiu de R$ 10 mil para R$ 1 mil”, explica Natanna. Além disso, como a montagem da cisterna é feita por meio do trabalho cooperativo, os custos de mão de obra são baixos.
A resolução do problema pela inovação de excesso de sal na água é simples e também eficiente. As estudantes criaram um mecanismo que se assemelha a uma estufa e não utiliza nenhum químico ou máquina, o que deixou o processo muito mais barato. A água do poço é colocada em um recipiente coberto com um plástico preto e outro plástico transparente. O primeiro é usado para ajudar na evaporação da água, separando-a do sal, e o segundo recoleta a água.
“O sol bate no plástico preto o que faz com que água evapore e por meio da manta transparente ela escorre até umas calhas que são ligadas a um caixa de recepção que guarda a água. O sal fica todo no fundo do tanque e as pessoas podem usar a água, que já sai potável”, explica a estudante.
O projeto, que foi batizado como “SOS Seca: Semeando Vida no Semiárido Cearense através de Sistemas de Captação e Dessalinização de Água de Baixo Custo”, recebeu inúmeros prêmios no Brasil e, em maio deste ano, foi premiado na maior feira de estudantes do ensino médio do mundo, a Intel Isef.
As estudantes se disseram realizadas pelas conquistas de todos os prêmios, mas reafirmaram a necessidade de tirar o projeto do papel: passaram, então, a dedicar seu tempo livre para percorrer casas da região, ajudando moradores a construir a cisterna e o dessalinizador.
Nathana contabiliza a construção de 15 cisternas e 10 estufas. Ao contrário do que parece, as estudantes não faziam curso técnico em uma área relacionada a Física ou Química. Natanna e Vanessa estão no 3° ano do ensino médio técnico em Contabilidade.
“Nos queríamos desenvolver um projeto que fosse realmente útil para a população da cidade e por isso nos dedicamos a algo que não está tão ligado a nossa área e nos sentimos realizadas quando ajudamos as pessoas”, afirmou.
Diálogo com o território
A Escola Estadual de Educação Profissional Júlio França é uma instituição de ensino técnico de tempo integral que oferece cinco cursos para seus estudantes: Enfermagem, Informática, Fruticultura, Rede de Computadores e Contabilidade.
Uma das características do projeto político pedagógico do colégio é trabalhar com os estudantes as demandas do território que cerca o prédio escolar.
“Bela Cruz é uma cidade muito pobre e seca e como os alunos passam o dia todo aqui dentro, temos a preocupação de que eles desenvolvam projetos a partir das necessidades da região”, afirmou a diretora do colégio, Francisca Girliane Araújo Teixeira.
Ela conta que, além dessa iniciativa, existem alunos desenvolvendo uma técnica de plantio com pouca água para que os agricultores locais consigam melhorar a produtividade de suas plantações.
(A foto de capa desta matéria é de Flávio Costa/Flickr – Creative Commons)