publicado dia 29 de outubro de 2015
Projetos que discutem a igualdade de gênero são contemplados na Mostratec
Reportagem: Danilo Mekari
publicado dia 29 de outubro de 2015
Reportagem: Danilo Mekari
No mês em que a campanha #primeiroassédio encheu as redes sociais de relatos de abuso contra mulheres, os jovens cientistas que participam da 30ª Mostratec (Mostra Internacional de Ciência e Tecnologia) também parecem preocupados com a questão de gênero. Entre os 400 trabalhos inscritos, há diversos projetos que investigam como o mundo pode ser um lugar melhor para as mulheres.
Como a moda vem contribuindo para o processo de libertação da mulher? De que maneira as instituições de ensino reproduzem o machismo presente na sociedade? Como tornar a escola um espaço onde a igualdade de gênero é respeitada? Qual a importância da leitura de ícones feministas como Simone de Beauvoir para as jovens de hoje?
Incumbida de produzir um manifesto a favor ou contra o que bem entendesse, Noah Hamaoui escolheu produzir um texto conceitual contra o machismo. “Me irrito muito com o machismo. Queria provar que, ao contrário do que dizem, ele não é coisa do passado”, aponta a estudante de 14 anos da Escola Alef, de São Paulo.
Em sua pesquisa, apresentada na Mostratec Jr. – dedicada à pesquisadores do ensino fundamental – citou a atriz Patricia Arquette, que ao levantar o troféu de atriz coadjuvante no Oscar 2015 conclamou uma maior igualdade de direitos para homens e mulheres; a campanha ElesPorElas (HeForShe), movimento de solidariedade pela igualdade de gênero; e a plataforma virtual Chega de Fiu Fiu, usada para denúncia de abusos no espaço público e agressões contra as mulheres nas cidades.
“Precisamos de uma lei que obrigue todas as escolas do Brasil a realizar discussões de gênero”, afirma Noah. Em 2015, os Planos municipais de educação de muitas cidades brasileiras tiveram o termo “gênero” retirado dos projetos de lei que orientam a política do setor para os próximos dez anos.
Conhecer o feminismo foi suficiente para Amanda Santos, Gabriele Pereira e Gabriele Silva, estudantes da IFSul Charqueadas, quererem algo mais: aprofundar os conhecimentos nas teorias feminista. Ao lerem um dos livros fundador do movimento feminista contemporâneo (O Segundo Sexo, da filósofa francesa Simone de Beauvoir), pretendiam encontrar respostas para uma complicada questão: quais são as possibilidades de ser mulher?
A partir desse desafio, revisaram seus próprios conceitos e atitudes. “O machismo está tão arraigado na sociedade que vimos que nós mesmos o reproduzíamos”, observa Gabriela. Em sua escola, as meninas criaram uma oficinal semanal sobre feminismo, com debates, leitura de textos, exibição de filmes e palestras. Além de muita troca de experiências, claro.
A Mostratec 2015 acontece no Centro de Eventos Fenac (Rua Araxá, 505 – Bairro Ideal – Novo Hamburgo/RS). A feira estará aberta ao público das 14h às 21h (de 27 a 29/10) e das 14h às 17h (30/10). A entrada é gratuita. Confira a cobertura do evento no Portal Aprendiz!
Chocadas com o suicídio de um jovem que, por ser homossexual, era constantemente negado a assistir a aulas – tanto por estudantes como por professores –, duas jovens argentinas resolveram pesquisar se a educação oferecida por uma escola de Entre Ríos, contribui para a construção de uma identidade de gênero baseada na diversidade e nos direitos humanos.
“O que acontece com a geração que chega agora ao sistema escolar?”, questiona Vanina Perez, de 18 anos. Em sua pesquisa, as garotas provaram que a escola apenas reproduz o machismo já existente fora dela: na aula de educação física, por exemplo, a primeira atitude da professora é dividir a turma entre meninos e meninas. “E se houver uma garota que queira jogar futebol? E um menino afim de jogar vôlei?”, pergunta Carla Herman, 17.
Os livros escolares também servem pra potencializar os estereótipos, com figuras de meninas vestidas de rosa, garotos de azul, pais trabalhando duro manualmente e se exercitando, mães olhando vitrines de roupas e cuidando de bebês. Entre as conclusões das garotas, está o desrespeito de muitas escolas a uma lei recentemente aprovada no país, que garante o direito de identidade de gênero.
“Antigamente a mulher se vestia de acordo com o gosto do homem”, argumenta Juliana de Souza, 14. “A moda foi uma forma de expressão do feminismo”.
Junto às colegas Gabrielle de Oliveira, Monique Mulling e Paula Alves, da CMEB Edwiges Fogaça, em Esteio, Juliana apresentou a pesquisa “O Feminismo e a Moda” na Mostratec Jr. Citou a criação da saia curta, a ousadia que uma mulher teve para sair de calça nas ruas de Paris, a constante renovação do vestuário inspirado no movimento hippie – tudo isso para mostrar que a roupa feminina passou por grandes transformações no último século, assim como as próprias mulheres.
“O jeito de se vestir é um jeito de expressar a individualidade, principalmente no caso da mulher”, acredita Gabrielle.
O repórter Danilo Mekari está cobrindo a Mostratec a convite da Fundação Liberato.