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publicado dia 14 de outubro de 2015

Projeto quer publicar 300 obras de literatura escritas e ilustradas por autores mirins

Reportagem:

Por Caio Zinet, do Centro de Referências em Educação Integral

No imaginário popular, escrever e ilustrar um livro são tarefas destinadas exclusivamente para intelectuais e pessoas com alto nível cultural e formação em literatura. Experiências, no entanto, refutam o senso comum e mostra que crianças e jovens têm todos recursos para passar para o papel as histórias criadas por eles mesmos.

Essa é a premissa do projeto Primeiro Livro: com liberdade de expressão e autonomia qualquer estudante pode escrever e ilustrar sua própria obra literária. É isso que Luis Junqueira e os criadores do projeto propõem a estudantes entre 9 e 19 anos, desde 2009.

Junqueira explica que a ideia surgiu quando ele era estagiário da Escola do Sítio, em Campinas (SP). Nesse espaço, o professor de Língua Portuguesa estimulava muito a produção escrita de seus alunos. A partir dessa experiência ele soube que era com essa metodologia que queria trabalhar depois de formado.

Em um primeiro contato com estudantes o objetivo é estimular a imaginação das crianças e jovens. “Não delimitamos tema, não damos nota, usamos a primeira aula para que os alunos soltem a imaginação, desenhando e escrevendo o que quiserem”, conta.

O passo seguinte é fornecer a esses alunos referenciais que enriqueçam seu repertório. “Trabalhamos com muita escrita e muita ilustração, somos como tutores, disponíveis para sentar do lado deles atendê-los de maneira bem individualizada. Não usamos lousa, nem damos aulas teóricas, pois a teoria vem com a prática”, relata.

A tecnologia é aliada do projeto, pois os estudantes escrevem e salvam o material escrito em um serviço de compartilhamento de textos online. A parte gráfica também é colocada no computador e trabalhada com softwares livres.

Atualmente o Primeiro Livro está presente em cinco escolas de São Paulo e Alagoas e em duas unidades da Fundação Casa. Luis conta que os estudantes mais jovens têm uma imaginação aflorada e isso transborda na escrita e nas ilustrações dos livros que produzem. “Normalmente os alunos de 9, 10 anos têm um pé na imaginação muito mais solto e contam histórias de dinossauros, princesas, super-heróis e também têm um freio menor nas ilustrações”.

O objetivo do projeto é que, após 1 ano, os estudantes tenham produzido um livro com ilustrações. Eles estão buscando, via financiamento coletivo, os recursos necessários para imprimir 25 livros para cada um dos 300 estudantes participantes do projeto.

Demandas da juventude

A transição da infância para a adolescência traz outros elementos que acabam inibindo um pouco as histórias. É nesse período que a família e a escola começam a se preocupar mais com notas, rendimentos e vestibulares e cobram resultados dos seus estudantes.

“O que eu vejo ao vivo e a cores é que nessa transição da infância para a adolescência a escola se torna mais formal, as provas ganham mais dificuldade e importância e os adultos exigem desempenho. No Primeiro Livro é ao contrário. Queremos que eles não se importem com essa coisas e que escrevam e desenhem com liberdade”, afirmou.

Luiz relata que apesar de estarem mais presos à própria autoestima e na cobrança da família e da escola, os adolescentes também têm mais ferramentas linguísticas, mais controle da narração, um repertório maior de palavras e usam recursos autorais de maneira mais consciente.

“O Primeiro Livro é um projeto que ensina Língua Portuguesa para crianças e jovens por meio de oficinas de criação de livros. Eles não aprendem só ortografia e gramática, mas conseguem também construir personagens, mostrar histórias e isso é um grande incentivo para produção e consumo de Literatura”, afirmou.

Aprendizado coletivo

Se é certo que estimular a imaginação e a escrita é um caminho para aproximar crianças e jovens da Literatura, quais seriam outras formas de despertar esse interesse? A pesquisadora em educação, Gabriela Rodella, sugere que uma das maneiras de incentivar a curiosidade pela Literatura, desde a educação infantil, é por meio de rodas de contação de histórias nas quais as crianças sejam convidadas a participar, recontando junto com seus colegas as histórias dos livros que leram ou foram lidos para eles.

“Um sujeito leitor começa a se formar desde a primeira infância. A escola e família podem trabalhar com a leitura, incentivando que os estudantes recontem as histórias, mostrando como aquele livro foi sentido por ela e o que ela absorveu”, afirmou. Além do mais, o aprendizado se dá de forma bastante coletiva, pois as experiências que cada criança e jovem sente ao ler o livro são compartilhadas entre eles.

Ela relata uma outra possibilidade, a partir de uma experiência de uma escola no Rio de Janeiro, em que o professor trabalhou as Cantigas de Maldizer e de Escárnio, lendo obras com toda a sala de aula e buscando traçar paralelos com a realidade deles.

Após a leitura das obras, os jovens do 1º ano do ensino médio da escola Pedro II, no Rio de Janeiro, reescreveram algumas delas, “traduzindo-as” para uma versão no Português moderno, aumentando o interesses dos alunos que não conseguiam se apropriar das poesias pela dificuldade de compreender o Português arcaico.

Depois dessa “tradução”, os estudantes fizeram outro trabalho, comparando a representação da mulher nas letras dos trovadores da Idade Média e nos funks cariocas.

Outro exemplo relatado por Rodella de como é possível aumentar o interesse dos estudantes por literaturas mais complexas aconteceu com o Auto da Barca da Inferno, de Gil Vicente. Os estudantes leram a obra e foram estimulados a se dividirem em grupos, onde simulavam entrevistas com os personagens da obra. Eles também fizeram peças de teatro mostrando o que acontecia na obra. O sucesso foi tamanho que os estudantes criaram páginas no Facebook para os personagens.

 

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