publicado dia 22 de julho de 2015
Inovações Urbanas: seminário discute novos usos para os espaços públicos da cidade
Reportagem: roberta tasselli
publicado dia 22 de julho de 2015
Reportagem: roberta tasselli
“O propósito da ocupação do espaço público é gerar bem estar”, afirma Paola Caiuby, ativista do projeto Conexão Cultural, no primeiro dia do Seminário de Inovações Urbanas, do Cemec. Realizado nos dias 21 e 22 de julho, o evento reúne pessoas que entendem a cidade como uma infinidade de possibilidades, capaz de ser reinventada e ressignificada de acordo com as necessidades e desejos de quem compõe seu cenário e, por isso, atuam em São Paulo para transformá-la em um espaço mais educador, criativo, sustentável e democrático.
Ao lado de Paola, Laura Sobral, do movimento A Batata Precisa de Você; Benjamin Seroussi, da Vila Itororó e Casa do Povo; e Juliana Barsi, do movimento Bela Rua, compuseram o debate (Re)Criando espaços públicos – Protagonismo cidadão na transformação da Cidade, mediado por André Palhano, fundador e organizador da Virada Sustentável.
Seroussi resgatou as diversas fases que, de acordo com o arquiteto e historiador Benedito Lima de Toledo, moldaram a arquitetura de São Paulo – a cidade/colonial, a cidade/tijolo, a cidade/carro e defendeu que esta quarta fase ainda está para ser definida a partir das intenções de quem vive a cidade e compõe o cenário urbano. “Estamos em uma encruzilhada, que pode moldar uma cidade acessível apenas para quem tem poder aquisitivo ou uma cidade que potencializa outros usos possíveis de seus espaços.”
A afirmação soa como um convite, reforçado pelos colegas de mesa, para quem, ocupar o espaço público é um processo movido pela paixão de transformar a cidade. “Se eu acredito que o espaço se constrói pelo uso, vamos começar a usar”, aponta Laura, revelando a lógica que orientou sua decisão de – fazendo sol, chuva “e até três graus Celsius” – ocupar o Largo da Batata, na capital paulista.
A arquiteta e outros integrantes do movimento promovem, há cerca de um ano e meio, atividades culturais e de lazer todas as sextas-feiras à noite na região e aproveitam o momento para construir bancos, mesas e outras peças de mobiliário urbano temporário, que deixam o espaço menos inóspito e mais confortável. A persistência do coletivo tem sido eficaz e hoje, espontaneamente, o Largo da Batata é palco de atividades organizadas por pessoas que não fazem parte do movimento.
“Agora, estamos discutindo com o poder público a possibilidade de usar a região como laboratório urbano para que outros espaços públicos tenham autonomia, para que possamos rever o papel do cidadão na cidade e que essas medidas se tornem política pública”, afirma Laura.
Entre os principais desafios da ressignificação do uso dos espaços públicos desponta o conflito de interesses de quem ocupa o lugar. Muitas vezes, essa transformação atrai pessoas com alto poder aquisitivo que compram terrenos e imóveis nos arredores do local, o que gera especulação imobiliária e expulsa os antigos moradores que não têm condições de se manter mais na região – gerando um processo conhecido como gentrificação. “Em uma sociedade em que tudo é visto pelo seu valor de troca e não pelo valor de uso, por que com os espaços seria diferente?”, questiona a ativista.
Para Seroussi, ferramentas como o Plano de Bairro podem auxiliar a brecar processos dessa natureza, assim como a forma de se ocupar os lugares. “Quando ativamos espaços que apresentam disfuncionalidades, buscamos agir sem necessariamente resolver o problema, apenas destacando as tensões que estão em jogo nesses espaços”, conclui.