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publicado dia 2 de junho de 2015

Associação Novolhar lança centro cultural mirando fortalecimento da juventude local

Reportagem:

“O Bixiga é um estado de espírito”, explica Paulo Santiago, num casarão amarelo, onde funciona a Associação Novolhar, lembrando a frase de Armandinho Pugliese, o “Armandinho do Bixiga”, figura notável da região, que batiza o viaduto que corta o bairro. A sentença de Pugliese dá conta de uma injustiça histórica: um dos mais característicos bairros da cidade não é assim oficialmente reconhecido. A região é compreendida administrativamente dentro da Bela Vista, bairro central de São Paulo.

Santiago mudou-se para o Bixiga ainda adolescente e, entre idas e vindas, construiu uma trajetória como fotógrafo, educador e comunicador. Em 1998, começou o Programa Novolhar na TV, após uma experiência em vídeo com jovens em situação de vulnerabilidade, e percebeu que havia um grande interesse deles pela questão audiovisual e resolveu dar vazão ao processo. Começou assim o Programa Novolhar na TV, que até hoje é transmitido em canais universitários.

Paulo Santiago, fundador da Novolhar.
Paulo Santiago, fundador da Novolhar, na frente da sede da instituição

O mesmo trabalho também foi desenvolvido com mais de mil jovens internos da Fundação CASA, que até 2010 recebiam oficinas de vídeo e música e produziam clipes de suas músicas. “A gente não censurava nada e muitas vezes vinham letras pesadas. Mas era a vida deles. O diretor da unidade não gostava, mas foi um jeito de abrir diálogo, de expandir as possibilidades expressivas e tentar transformar algo”, lembra Santiago.

Atendendo mais de 120 crianças e adolescentes, atualmente no Centro da Criança e do Adolescente, “Um Novolhar sobre o Bixiga” possui atividades culturais e de comunicação no contraturno escolar, em convênio com a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social da Prefeitura de São Paulo. O projeto ainda mantém um trabalho de desenvolvimento social do bairro, com acompanhamento social de mais de mil famílias e a manutenção de uma horta comunitária na região. Em breve lançarão o Centro Cultural Janus Korczak/Nina Korall.

Autonomia e comunicação

O nome do Centro Cultural homenageia o polonês Janus Korczak e uma de suas principais divulgadoras no Brasil, Nina Korall. Korczak, pedagogo, ativista social, pediatra e educador, mantinha um orfanato e aplicava metodologias democráticas, dando voz e liberdade para as crianças. Durante a II Guerra Mundial, Korczak ficou no Gueto de Varsóvia e foi mandando para um campo de extermínio junto com duzentas de suas crianças. Mesmo tendo oportunidades de fugir do local, se manteve junto aos seus educadores e educandos.

“O Korczak é uma inspiração muito importante, pois foi um dos primeiros pensadores a entender as crianças como sujeitos democráticos em formação, como seres autônomos e capazes, sempre incentivando o diálogo. Ele também foi responsável pela primeira publicação, uma revista, feita inteiramente por jovens, e é um dos patronos da educomunicação”, relata Santiago.

Com o educador polonês em mente, a Novolhar pretende superar a fragmentação das oficinas isoladas e formar um corpo de educadores comprometido, junto com novas instalações com tecnologia de ponta. “Queremos ter um centro de referência em educomunicação com atividades interligadas de forma transversal, que incentive o desenvolvimento integral dos jovens, pautados por valores éticos, de paz, de cidadania, direitos humanos e democracia”, afirma.

Estudantes da Novolhar participam de atividade na Praça Dom Orione.
Estudantes da Novolhar participam de atividade na Praça Dom Orione.

O Centro, que deve começar a funcionar no segundo semestre deste ano, irá produzir uma Web-TV, Web-rádio, jornal-mural, e-books e um jornal online, além de montar um núcleo de diagnóstico e acompanhamento de crianças e famílias no bairro.

Fortalecimento da comunidade

A importância dessa instalação é reforçado pela desigualdade do barro que, nas vizinhanças da Avenida Paulista, abriga milhares de habitantes em habitações precárias, ocupações e moradias coletivas – os cortiços. “Trabalhando com crianças, temos uma oportunidade de fortalecer a formação de lideranças ligadas com o território, de articular os agentes e moradores do local para desenvolver a comunidade”, analisa Santiago.

Para isso, a Novolhar também leva a frente o Plano de Desenvolvimento Local Bixiga, que tenta alinhar iniciativas diversas em prol da comunidade. “Não queremos que aconteça o que aconteceu na Vila Madalena, com a expulsão das pessoas que sempre habitaram aqui. Temos que pensar em formas de aluguel social, moradias que respeitem a história e memória do bairro, além de desenvolver e revitalizar o que hoje está decadente. E isso também passa pela educação”, projeta Santiago.

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