publicado dia 19 de fevereiro de 2015
Dedoverde aposta na agroecologia e na reciclagem para envolver escola e comunidade
Reportagem: Pedro Nogueira
publicado dia 19 de fevereiro de 2015
Reportagem: Pedro Nogueira
Óleo de cozinha usado não serve para muita coisa. Fica lá, dentro de uma garrafa, entulhando a cozinha. Isso quando não ganha os ralos e contamina mais de 20 mil litros de água. Mas é justamente com ele que o Coletivo Dedoverde desenvolve, na zona sul de São Paulo, o projeto “Óleozinho”, que articula escolas e comunidade em práticas de educação ambiental.
Criado por estudantes de gestão ambiental, o Coletivo vem trabalhando desde 2010 em ações de sustentabilidade na região do Jardim Ângela. Contemplado por editais, o grupo já construiu um telhado verde e cisternas na EMEI Sonho Azul. Também criou projetos com os mananciais da região e trabalhou na manutenção de uma área verde de 300 mil metros quadrados, com técnicas de agroecologia.
“Temos nas crianças nosso principal objetivo com o Óleozinho, por entendê-las como multiplicadoras da educação ambiental em casa. O óleo de cozinha pode ser usado para fabricar diversos produtos: sabão, biodiesel, matéria-prima para construção. Temos 9 bilhões de litros de óleo de soja no mercado e nem 10% é reciclado”, afirma Renato Rocha, um dos fundadores do Dedoverde.
A ideia é que as crianças, a partir da escola como ponto de coleta, tragam o óleo que pode servir como moeda social em parceria com o Banco Comunitário União Sampaio. Para Rocha, as crianças estão diretamente ligadas com processos criativos e têm menos preconceitos. E dá um exemplo de como as coisas estão interligadas: em 2014, as crianças construíram uma horta mandala de ervas e temperos. Com o tempo, ela foi degradando. A comunidade, percebendo a situação, se organizou para cercar, cuidar e proteger o espaço.
Na EMEI Sonho Azul, a Associação de Pais e Mestres pede uma contribuição de R$ 5 para os pais. Os que não têm como pagar, podem também levar óleo usado para contribuir com as ações. “A questão do óleo é simbólica, mas é um projeto que poderia ser expandido para todas as partes, ou poderia ser feito com eletroeletrônicos, latas de alumínio etc”, sugere Rocha.
Bairro educador sustentável
O Dedoverde baseia sua atuação em quatro pilares: ambiental (coleta, armazenagem, destinação), educacional (palestras), sócio-econômico (geração de renda local) e saúde (acesso à alimentos orgânicos, prevenção de doenças pela alimentação). Rocha explica que esses processos são essenciais na conformação de bairros educadores e destaca a atuação em bairros periféricos.
“Nos bairros ricos, há uma consciência maior e acesso à tecnologias e equipamentos do poder público, além do óbvio poder financeiro. É mais fácil se alimentar melhor”, aponta. “Na periferia, por falta de tempo e dinheiro, as pessoas se alimentam como dá e acabam gerando muito lixo industrial, influenciados pela mídia”, afirma.
Para ele, é necessário trabalhar na construção de hortas comunitárias – em espaços públicos e privados – para elevar as condições de saúde e garantir segurança alimentar para os moradores de regiões vulneráveis. “Fora que temos muitas plantas, as PANCS (Hortaliças Não Convencionais – como taioba, carurú e ora pro nobis), que crescem como erva daninha, mas são muito nutritivas e precisam de pouco cuidado. Até em calçada dá. Só precisa saber aproveitar.”
Quem quiser conhecer melhor e acompanhar o trabalho do Coletivo Dedoverde, acesse à página do Facebook do Dedoverde ou o site do grupo, que estará presente no Seminário Semeando a Cidade Educadora, da Associação Cidade Escola Aprendiz