publicado dia 25 de setembro de 2014
17 anos de Aprendiz: “Aprender juntos. É para isso que a gente vive”
Reportagem: Danilo Mekari
publicado dia 25 de setembro de 2014
Reportagem: Danilo Mekari
Uma longa salva de palmas tomou conta do Centro Cultural Rio Verde na noite de quarta-feira (24/9), quando André Gravatá, um dos autores do livro Volta ao mundo em 13 escolas, recitou seu poema “A podência da educação” e finalizou o evento de aniversário da Associação Cidade Escola Aprendiz (ACEA), que completa 17 anos de existência em setembro de 2014.
O encontro marca o lançamento da campanha A Cidade É uma Escola, que concretiza a reformulação do Portal Aprendiz como uma iniciativa que promove Educação na Cidade. O evento comemora também a trajetória de uma instituição que sempre primou por um olhar inovador para a educação brasileira.
“Aniversários são momentos em que revisitamos nossa história, os passos que demos. É sempre emocionante comemorar mais um ano de uma luta que vai seguindo e na qual a gente aprendeu tanto”, afirma Natacha Costa, diretora geral da ACEA, referindo-se ao principal objetivo do Aprendiz: promover uma educação que desenvolva não apenas os aspectos cognitivo e intelectual do indivíduo, “mas também a sua formação como sujeito social, que se relaciona e precisa aprender a conviver, cooperar e trabalhar em conjunto, além de lidar com suas emoções”.
A gestora de comunicação da ACEA, Roberta Tasselli, pontua que, na perspectiva de uma educação que preza pelo desenvolvimento integral das pessoas, a escola é fundamental – mas não pode ser o único ator no responsável pelo processo de aprendizagem. “Ela precisa contar com o potencial educativo presente no no entorno, no bairro e na cidade em que está inserida.”
Intimidade com a realidade
O lema do Portal Aprendiz – “Educação Integral na Cidade” – inspirou a mesa-redonda que contou com a participação de André Gravatá, co-criador do projeto Educ-ação e do Movimento Entusiasmo, Eliane Manfré, da comissão de mobilização do Movimento Cine Belas Artes, e Rodrigo Bandeira, idealizador da plataforma digital Cidade Democrática.
Gravatá se considera um aprendiz por natureza. Para ele, todos são capazes de aprender em qualquer lugar, seja uma criança de quatro anos ou um idoso de 90. Revela que um conceito elaborado por Paulo Freire – de intimidade com a realidade – tem guiado seu processo de aprendizagem. “Aquilo que está ao nosso redor precisa ser percebido com realidade e ênfase, desde o balé do nosso bairro aos diferentes movimentos que estão presentes nas ruas.”
O resgate da intimidade é tamanho que Gravatá recentemente convidou vizinhos para um café em seu apartamento, com o intuito de conhece-los melhor. “Pedi apenas para levarem chá, bolo e bom-humor. Foi sensacional”, revela.
Ele ajudou a organizar a Virada Educação, uma iniciativa para ocupar escolas e espaços públicos do centro de São Paulo pela Educação e “levar o frescor que vem quando abrimos a janela”. Segundo Gravatá, os organizadores “entraram pelas frestas” e promoveram uma bonita aproximação com os estudantes e os docentes de escolas da região. “No fim das contas, uma vice-diretora aprendeu a fazer cupcakes na oficina promovida por um estudante”, relembra.
Após visitar diversas escolas e ajudar a escrever o livro Volta ao mundo em 13 escolas, Gravatá acredita que a relação com o território é essencial para a promoção de uma educação potente. “É preciso criar uma cultura na qual as pessoas se apropriem dos espaços da cidade e os integre ao processo de aprendizagem.”
Vitória cidadã
A reabertura de um cinema de rua tradicional de São Paulo mostrou a força da mobilização social, que após anos de insistência e perseverança conseguiu trazer de volta para as ruas da capital paulista o Cine Belas Artes. Eliane Manfré retomou as manifestações, atos e ações que recolheram assinaturas para um abaixo-assinado contra o fechamento do espaço cultural.
Para ela, a desertificação das ruas – uma tendência nas metrópoles – se acentuou com o fim do Belas Artes. “Bares fecharam, comerciantes quase faliram, pizzaria teve que vender pastel para sobreviver”, conta, ressaltando a vitória cidadã contra a especulação imobiliária em um lugar onde “o metro quadrado é caríssimo”.
“O corredor cultural da Consolação, do centro até a av. Paulista, concentra o maior número de equipamentos culturais da cidade. A maioria está correndo risco de fechar, pois está difícil de pagar o aluguel. O caso do Belas Artes pode ser um modelo para esses teatros e outros espaços audiovisuais. Eles são importantes para a educação informal e lúdica nos espaços públicos.”
Cidade democrática
A tecnologia possui um papel essencial na construção de uma cidade inovadora e democrática. Essa é a opinião de Rodrigo Bandeira, idealizador da plataforma Cidade Democrática, que até agora mapeou 632 iniciativas civis que trabalham com participação social em todo o Brasil.
“A internet mudou a forma como a gente faz atividades cotidianas, desde chamar um táxi e pedir comida delivery até o consumo de livros e filmes. Ela mudou também a forma como a gente faz política”, crê Bandeira.
O mapeamento realizado pela plataforma tem a intenção de aproximar e fortalecer as iniciativas participativas. “Existe uma sede muito grande, em toda a sociedade brasileira, para que possamos participar mais das decisões públicas”, observa. “Queremos nos envolver em questões que nos afetam coletivamente – não aqueles problemas que estão em casa, mas na rua e na cidade, sair do espectro pessoal e pensar no coletivo.”
Educador Inventor
Ao final do evento de aniversário, foi entregue o Prêmio Educador Inventor. “Em toda essa caminhada de 17 anos descobrimos pessoas e iniciativas fazendo coisas boas e transformando o mundo. Todo ano escolhemos alguém pra homenagear e simbolizar os movimentos que a gente conhece”, declara a diretora executiva do Aprendiz, citando nomes como Ruy Ohtake, Ivaldo Bertazzo, Marcelo Tas, Sérgio Vaz e Tia Dag.
Dessa vez, porém, foram escolhidas duas pessoas para receber o prêmio: Claudio Sassaki, um dos criadores da plataforma Geekie, e André Palhano, idealizador da Virada Sustentável.
“No Brasil, empreender com inovação em educação é um desafio enorme”, garante Sassaki. “Recebo esse prêmio em nome de todos que trabalham na Geekie. Começamos em sete pessoas, hoje somos 82 e continuamos crescendo.”
Palhano afirma que todos acham que a Virada Sustentável é um grande agito cultural com conteúdo de sustentabilidade. “Por que não experimentar o mundo lindo que a gente vai ter se fizermos tudo certo?”, questiona.
Por fim, a diretora da ACEA fez um apelo aos presentes. “Espero que possamos aprender juntos, porque afinal é para isso que a gente vive.”