publicado dia 13 de junho de 2014
E-books aumentam acesso de crianças ao mundo da leitura em países do continente africano
por Clipping
publicado dia 13 de junho de 2014
por Clipping
Do Centro de Referências em Educação Integral
Erradicar o analfabetismo ainda é um desafio global. Dados da Unesco apontam que há 740 milhões de analfabetos no mundo e 250 milhões de crianças em idade escolar que não têm leitura básica e habilidades de escrita. Pensando em formas de contribuir com essa realidade, uma organização sem fins lucrativos americana, a Worldreader [criada em 2009 por ex-diretores da Microsoft e da Amazon] resolveu olhar para o cenário de alfabetização da África subsaariana: por lá, segundo a Unesco, apenas 18% das crianças têm acesso ao ensino básico.
Outra dificuldade local é o acesso a livros, muito por conta de conflitos étnicos, políticos e sociais que impedem a livre circulação das crianças e adolescentes pela comunidade e a manutenção de bibliotecas. Isso fez com que a organização apostasse na tecnologia para tentar criar uma solução acessível – desenvolveu livros digitais para viabilizar o contato das populações com o imenso e rico mundo da literatura.
O trabalho só foi possível dada uma outra constatação: mesmo com todas as dificuldades, a região seguia a tendência tecnológica de popularização dos celulares e registrava aumento da cobertura de internet móvel, fatores que deram significado ao plano de disponibilizar conteúdos para leitura de maneira digital.
Plataforma leitora
Para a organização, era preciso oferecer uma oportunidade leitora às crianças e adolescentes, mas também prover um meio de que as escolas pudessem ter acesso ao mesmo conteúdo. Por conta disso, desenvolveu leitores eletrônicos para as escolas e um aplicativo chamado Worldreader Mobile, que pode ser instalado em celulares, desde que tenham um navegador Java e dispositivos Android.
A forma de trabalhar com os dispositivos, no caso das escolas, fica por conta da necessidade de cada uma delas. Os aparelhos podem se manter fixos nas instituições e os alunos podem fazer uso deles em suas dependências; ou também é possível atuar no modelo “livraria”, em que o equipamento pode ser emprestado aos alunos, estendendo o benefício para seus familiares.
Mas o trabalho não se encerra com a entrega dos dispositivos tecnológicos. A instituição mantém uma equipe editorial que trabalha na produção desses títulos, ampliando o acervo de maneira expressiva. Entre os livros, há histórias mais curtas direcionadas às pessoas que estão em processo de alfabetização e também de autores renomados como Shakespeare e Jane Austin, importantes referências da literatura clássica britânica. Também é feito um trabalho de curadoria junto aos autores africanos, para que essas produções também constem entre as possibilidades leitoras – uma forma de valorizar a cultura local e inseri-la no repertório cultural dos cidadãos; a esses autores é oferecido apoio para traduzir e digitalizar suas obras.
Outra questão é a adequação aos idiomas. É possível encontrar livros em inglês, francês, espanhol e português. Para disponibilizar livros com idiomas nativos, a organização procura estabelecer parcerias com editoras locais, que acabam por se responsabilizar por outras línguas, como o suaíli, falado no Quênia e na Tanzânia.
A Worldreader possui escritórios em San Francisco (EUA), Barcelona (Espanha), Accra (Gana) e Nairobi (Quênia) e há um esforço da equipe para que o projeto esteja mais próximo da comunidade possível. Por essa razão, há suportes específicos que preveem formação pedagógica e técnica direcionada a gerentes de projetos locais ou professores; ainda há uma formação para reparo de leitores eletrônicos para as empresas da comunidade que queiram prestar esse serviço.
A empresa também criou métodos avaliar as experiências leitoras. Para cada livro é mensurado o número de acessos e também o perfil dos usuários, como idade e sexo, dados que acabam por qualificar os acessos e apontar níveis de alfabetização entre os indivíduos. Esses dados são os norteadores para que a empresa invista mais em determinados títulos ou poupe esforços em outras publicações.
O trabalho é sempre desenvolvido em parcerias com o setor privado, professores, especialistas em educação e outras organizações. A ideia é sempre partir das necessidades das crianças e promover a oportunidade leitora para que, com isso, se possa favorecer o desenvolvimento delas e afastá-las dos índices de analfabetismo.
Principais resultados
O dinamismo tecnológico faz com que os livros sejam facilmente acessados pelas crianças, adolescentes e comunidades em geral. Desde o início da experiência, já foram contabilizados 1,7 milhões de livros lidos, marca dificilmente alcançada caso se tratassem de exemplares físicos.
A iniciativa já chegou a 27 países e distribuiu mais de 6 mil livros digitais, ampliando a possibilidade leitora, o repertório cultural e possibilitando um melhor desenvolvimento desses indivíduos, já que para além da alfabetização, é possível falar da criatividade e da postura crítica alcançados com a leitura. Especificamente na África, há programas de leitura estabelecidos em Gana, Quênia, Malawi, Ruanda, África do Sul, Tanzânia, Uganda, Zâmbia e Zimbábue, quando as parcerias com as escolas são fortalecidas mais diretamente.