publicado dia 10 de junho de 2014
Tecnologia conecta cidades do futuro a seus habitantes
Reportagem: Danilo Mekari
publicado dia 10 de junho de 2014
Reportagem: Danilo Mekari
A cidade do futuro precisa utilizar a tecnologia para disponibilizar serviços de maneira inteligente para os seus cidadãos. Deve também ter um maior envolvimento da sociedade civil para moldar o seu planejamento de acordo com as necessidades locais. Carece ainda de uma governança inteligente, que dê oportunidades para a inovação.
Essas foram algumas características apontadas pelos participantes do evento Connected Cities Summit 2014, que debateu os desafios ligados aos projetos urbanos no Brasil – levando em conta um futuro no qual estima-se que quase 90% da população do país estará vivendo em grandes centros urbanos.
O seminário ocorreu nesta segunda-feira (9/6) e foi organizado pelo Consulado Britânico de São Paulo, em parceria com o USP Cidades e a consultoria Useful Simple Projects.
Connecting Bristol
Stephen Hilton é diretor do Connecting Bristol, um programa cujo objetivo é posicionar a cidade inglesa como uma das lideranças europeias no que se refere às soluções urbanas criativas, sustentáveis e inteligentes. Para ele, um requisito inicial para as cidades do futuro é ter uma democracia real. “Em Bristol, o prefeito George Ferguson é independente, ou seja, não é ligado a nenhum partido político. Ele tem relação direta com os cidadãos, tanto pessoal como digitalmente”, afirma.
Hilton acredita que o propósito de seu programa não é prever o futuro, mas sim criar espaços de diálogo sobre o porvir de Bristol, eleita a European Green Capital de 2015. “Reunimos universidades, empresas e cidadãos para um debate sobre o que significa cidade inteligente para eles”, comenta.
“Nossa questão central era reimaginar Bristol promovendo ações de estímulo ao ciclismo, a andar a pé. Criamos uma moeda (a Bristol Pound) para ser utilizada na região e mostrar às pessoas que queremos investir na economia local”, observa Hilton, citando a participação dos próprios cidadãos na formulação de uma cidade inteligente. “Como Bristol tem muitas colinas e ruas com paralelepípedo, um cadeirante está criando o Hills are Evil, um aplicativo de acessibilidade para quem tem mobilidade limitada.”
Plataforma aberta de dados
“Cidades são sistemas difíceis de serem entendidos”, declara Robert Rogerson, diretor do Institute for Future Cities, ligado à Universidade de Strathclyde, em Glasgow, Escócia. “Teremos decisões acertadas quando tivermos melhores análises sobre o que nela acontece”, avalia. Segundo ele, o compartilhamento de informações é uma das chaves do sucesso.
“O cidadão precisa ser parte dos dados que a gestão urbana usa para o planejamento. De maneira colaborativa e inovadora, isso poderia auxiliar na questão da mobilidade, incentivando a criação de serviços locais e não centrais”, pontua. E dá um exemplo: “Informações pessoais de saúde seriam mais eficazes se esses dados fossem conectados a outros, como onde moramos, onde trabalhamos”.
Para Hilton, uma plataforma aberta que contém esses dados ajuda a prever onde possam surgir problemas, “desde congestionamentos a focos de exclusão social”. Miguel Bucalem, coordenador acadêmico do USP Cidades, concorda que um bom uso da tecnologia da informação permite que a infraestrutura atual seja utilizada com melhor desempenho.
Rogerson defende ainda a criação de um Observatório da Cidade, onde organizações privadas e públicas trabalhem juntas para formatar o seu futuro. Mas não esquece dos cidadãos comuns: “precisamos que todos se envolvam de uma maneira diferente para transformar a cidade.”
Core Cities
Mas como diz o ditado: uma andorinha só não faz verão. Sozinhas, as cidades do futuro não conseguem expressar todo seu potencial. Foi projetando essa necessidade que oito cidades inglesas se reuniram para estabelecer trocas em busca do pleno desenvolvimento social e econômico.
O Core Cities é uma parceria entre Birmingham, Bristol, Leeds, Liverpool, Manchester, Newcastle, Nottingham e Sheffield, localidades que, excluindo Londres, concentram grande parte da riqueza econômica do país. “Funcionamos de maneira colaborativa, reunindo as cidades para compartilhar e explorar novas ideias e boas práticas, impulsionando a melhora e a eficiência”, explica o CEO do grupo, Chistopher Murray.
“As políticas públicas devem se tornar um agente para transformações positivas, e não qualquer tipo de mudança”, observa. “É mais fácil mudar quando as cidades colaboram entre si. Com o Core Cities nos tornamos mais fortes. Aqui no Brasil seria muito interessante estabelecer esse diálogo entre cidades”, propõe Murray.
Hilton concorda. “A cidade hoje está cada vez mais global. É preciso identificar e, então, conectá-la com municípios que tenham visão semelhante.”