publicado dia 29 de abril de 2014
São Paulo contra a homofobia: Prefeitura e ONU lançam campanha “Livres e iguais”
Reportagem: Pedro Nogueira
publicado dia 29 de abril de 2014
Reportagem: Pedro Nogueira
Com a proximidade da 18ª Parada Gay de São Paulo, o maior evento LGBT do país e um dos maiores do mundo, marcada para o próximo domingo (4/5), a Organização das Nações Unidas (ONU), em parceria com a Prefeitura de São Paulo, lança o programa internacional de combate à homofobia “Livres e Iguais”.
A solenidade, realizada no auditório da Prefeitura na noite desta segunda-feira (28/, teve a presença de autoridades nacionais e internacionais, militantes dos direitos humanos, o prefeito Fernando Haddad e a cantora e Campeã da Igualdade da ONU, Daniela Mercury.
O programa, criado pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) com a Fundação Porpose, visa combater a violência contra lésbicas, gays, bissexuais e travestis, através de informação, conscientização e respeito.
Segundo dados de 2012 da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, a violência homofóbica tem crescido no Brasil. Entre 2011 e 2012, o registro de denúncias de violência homofóbica cresceu 166% e estima-se que 4851 pessoas tenham sido vítimas de episódios de humilhações, agressões físicas e discriminação. No início deste ano, o Grupo Gay da Bahia divulgou números que comprovam que no último ano, 312 gays, travestis e lésbicas foram assassinados no país, ou seja, uma morte a cada 28 horas.
Os números mostram que o Brasil – que avançou recentemente na questão do casamento igualitário – ainda é um dos países mais perigosos para a população LGBT. Ao redor do mundo, 76 países proíbem relações com pessoas do mesmo sexo e sete punem a orientação sexual com pena de morte.
Cidade da diversidade
O prefeito Fernando Haddad saudou a iniciativa, que disponibilizará materiais, cartilhas e panfletos online para “transformar cada pessoa em um agente de defesa dos direitos gays”. Além disso, serão veiculados vídeos da campanha nas linhas de ônibus da cidade que contam com televisores . O estado de São Paulo, que contabilizou 29 mortes por violência homofóbica em 2013, atualmente celebra dois casamentos igualitários por dia, segundo a Associação dos Registradores de Pessoas Naturais do Estado (Arpen).
Para Haddad, a diversidade sempre foi uma marca da cidade e a campanha tem um forte conteúdo educacional ao proclamar a liberdade e a igualdade como princípio. “Estamos defendendo direitos iguais pois somos diversos. Essa é a marca da nossa espécie e, no entanto, algumas pessoas teimam em não compreender. Além da educação, é necessário uma militância ativa para que as pessoas acordem para essa consciência. Temos que estar juntos para impedir que mortes, agressões e humilhações continuem acontecendo”, afirmou o prefeito.
Em 2011, quando ocupava o cargo de Ministro de Educação, Haddad viu o kit anti-homofobia, parte do Programa Escolas Sem Homofobias, preparado pelo Ministério da Educação (MEC), ser vetado pela presidenta Dilma Rousseff, após forte pressão das bancadas religiosas do Congresso. Sob o pretexto de precisar de maior discussão, o projeto ainda não saiu do papel quase três anos depois.
Qualquer maneira de amor vale a pena
Daniela Mercury, rainha do Axé nos anos 90 e que, recentemente, tornou-se uma referência dos direitos LGBTs ao revelar sua relação com a jornalista Malu Verçosa, também compareceu ao evento. Convidou três drag queens para acompanhá-la no palco e discursou, empolgada, contra o ódio.
“A religião deveria criar amor e aproximação. Eu aprendi desde cedo que Deus é amor e não se pode tratar ninguém de forma diferente porque ela se comporta de determinada forma. As pessoas precisam conviver. Isso é questão de educação”, afirmou. Daniela encerrou o discurso com a canção de Milton Nascimento “Paula e Bebeto”, que diz que “qualquer maneira de amor vale a pena”.
A cantora também aproveitou a ocasião para dividir histórias de como suas filhas e neta têm lidado com a questão. “É tão mais fácil ensinar a diversidade para as crianças. Elas logo percebem que a diversidade enriquece. Somos saudáveis, amamos, temos uma sexualidade caótica e diversa. E tem cada vez mais gente no mundo que entende isso e sai na rua pra manifestar”, completou, protestando contra desenhos infantis que retratam apenas famílias heteronormativas.
A chegada da ONU
Em 2010, Ban Ki-moon realizou o primeiro discurso de um secretário geral da ONU em defesa dos direitos LGBTs. “Não podemos deixar que a cultura sobreponha o direito das pessoas gays”, afirmou na ocasião. Desde então, a entidade tem criado diversas campanhas para combater a homofobia no mundo.
“A religião deveria criar amor e aproximação. Eu aprendi desde cedo que Deus é amor e não se pode tratar ninguém de forma diferente porque ela se comporta de determinada forma. As pessoas precisam conviver. Isso é questão de educação”
Três anos mais tarde, Navi Pilay, Alta Comissária das Nações Unidas, lançou a campanha “Free and equals”, que agora chega ao Brasil e pretende dar maior visibilidade e proteção aos homossexuais e transsexuais.
“Precisamos interiorizar o respeito pela diversidade e promover uma cultura que acolha e aceite todos e todas. Direitos gays são direitos humanos fundamentais”, afirmou Humberto Henderson, representante adjunto para a América do Sul da ACNUDH.
Ao ser perguntando sobre a demora da organização em se pronunciar de maneira incisiva sobre a questão gay, Henderson ponderou que das quase 200 nações que compõe a ONU, muitas ainda criminalizam a homossexualidade. “É uma longa batalha, mas confio que estamos avançando”, arrematou.
Confira o material oficial da campanha clicando aqui e acesse o site oficial da iniciativa por aqui.