publicado dia 26 de novembro de 2013
Dia EI aproxima escolas estaduais de Salvador das comunidades locais
Reportagem: Redação
publicado dia 26 de novembro de 2013
Reportagem: Redação
Por Ana Luiza Basílio, do Centro de Referências em Educação Integral
A comunidade de Santa Cruz, localizada na região nordeste de Amaralina, em Salvador, acordou aos sons de uma fanfarra no último sábado, 23/11. Cerca de 150 alunos da Escola Estadual General Dionísio Cerqueira foram às ruas do bairro para convidar os moradores a virem para a instituição e participarem do Dia EI – Dia da Educação Integral que mobilizou outras 33 escolas da rede estadual.
A passeata apresentou uma amostra das atividades que hoje acontecem na escola e do movimento feito no sentido de envolver os alunos na aprendizagem e de integrar a instituição ao seu território. Os 500 alunos que frequentam a escola – entre Ensino Fundamental II e Educação para Jovens e Adultos (EJA) –, cumprem o ensino regular na parte da manhã e oficinas no período da tarde, sendo parte delas oferta do Mais Educação e parte fruto dos projetos desenvolvidos a partir da articulação da unidade com outros atores sociais.
Atividades como capoeira, música, dança e teatro fazem parte do dia a dia dos alunos, o que mostra a preocupação da gestão em diversificar o ensino e aprendizagem e trazer novas possibilidades educativas ao espaço escolar a partir de uma conduta multidisciplinar. Para Maria Auxiliadora Rodrigues Cortes, diretora da instituição, essa foi a saída para combater o alto índice de evasão escolar, decorrente em grande parte dos problemas estruturais do território, marcado pela violência e pela presença do tráfico de drogas. “Percebemos que não daríamos conta sozinhos. Então, a ideia é mostrar que escola é movimento, vida, e que permite sim a interação de outros agentes, como a comunidade”, explica.
Para o professor de geografia, Luiz André Degaut Goes Santos, a diversidade de aprendizagem significa muito para a comunidade. “Além de apresentar um novo cenário para os jovens, é possível reconhecer talentos entre eles ao envolvê-los em outras atividades”. Também é importante, segundo o educador, o apoio financeiro que a permanência na escola pode trazer. “Ofertar almoço para esses alunos pode ser um alento para os pais, visto a complexidade dos problemas sociais da região”, aponta.
O Dia EI deu visibilidade às diversas produções feitas pela escola em parceria com seus alunos e comunidade. Em uma exposição, foi possível ver os produtos desenvolvidos a partir do projeto “Reciclarte”, feito em parceria com a OAS Empreendimentos, que envolve a comunidade em uma coleta seletiva de lixo em apoio à escola; a iniciativa “Nossa Horta”, realizada em parceria com a Odebrecht, mostrou o empenho escolar em diminuir os custos com a alimentação e a possibilidade dos alunos aprenderem com a manutenção da horta e de seus elementos.
Maria Auxiliadora, ou Dôra – como é conhecida entre a comunidade –, acredita que mais do que dar acesso à comunidade é necessário manter uma relação de transparência. “É preciso mostrar aos pais o que seus filhos fazem na escola. E, sobretudo, ter o desejo de mudar”, finaliza.
No subúrbio ferroviário
As escolas da região conhecida como ‘subúrbio ferroviário’ [formado por 22 bairros de Salvador] também se mobilizaram para o Dia EI. Os alunos do Colégio Estadual Humberto Alencar Castelo Branco elegeram a Praça da Revolução, no subdistrito de Peri Peri, como palco das ações presentes na escola. As atividades de percussão, com o apoio do Araketu, exposição e revitalização – o banco da praça foi pintado pela turma –, eram acompanhadas por um olhar emocionado da diretora da instituição Olivia Virginia Vieira Costa. “A ocupação da praça é símbolo de nossa luta pelo combate à evasão escolar e à violência, drogas e armas entre nossos alunos”, comemorou a gestora. A unidade oferece ensino fundamental II e médio a aproximadamente 2.075 alunos.
A temática da Consciência Negra foi o mote encontrado pela equipe do Colégio Estadual Luiz Rogério de Souza para participar do Dia Ei. A escola, que já vem em um esforço de integrar projetos à sua realidade, elaborou uma grande gincana multidisciplinar em que os alunos tinham que apresentar os hábitos e costumes dos países da África. Cada equipe montou uma representação de sua pesquisa e se encarregou de explicar aos que no dia transitavam pela escola, totalmente aberta à comunidade.
Para o estudante Isaias Martin, integrante da equipe vermelha, responsável pela apresentação sobre Angola, “mesmo diante de uma gincana, os alunos conseguiram se unir e trabalhar em grupo, um ajudando ao outro”. O sentimento também foi compartilhado por Erick Adonai, integrante da equipe azul, responsável pela pesquisa sobre Cabo Verde, que terminou sua apresentação com o provérbio: “Uma mão sozinha não bate palmas”.
No Colégio Estadual de Praia Grande, o diálogo com a educação integral trouxe à escola projetos de artes, karatê e letramento. Para a vice-diretora Leide Oliveira Dias Santos, embora ainda haja cautela por parte dos professores na mudança de proposta estrutural e curricular, há um desejo de mudança.
O Dia EI
O Dia EI contou com a mobilização de 34 escolas estaduais de Salvador. A data integra a política de educação integral do Estado da Bahia da qual fazem parte 42 instituições escolares. Para que essas escolas dialoguem com a perspectiva da educação na integralidade do indivíduo foi oferecida, em julho deste ano, uma formação direcionada aos gestores – diretores, vice-diretores, coordenadores e professores – a partir de uma parceria entre Instituto Inspirare e Cipó Comunicação Interativa.
Para Irene Piñeiro, coordenadora do Dia EI e profissional da Cipó, o trabalho tem como objetivo promover a articulação das escolas com as famílias e comunidades. “Para que não tenhamos mais escolas fechadas aos potenciais educativos de seu entorno, precisamos trabalhar o currículo integral, fazer um mapeamento desses territórios e rever o planejamento pedagógico”, avalia.
A gestora avaliou que o Dia EI marcou o compromisso dessas instituições com a educação integral. “Pudemos perceber que as escolas têm potenciais educativos e os jovens têm o desejo de participar. É preciso estimular isso. Acredito que estejamos no início de um caminho que indica, sobretudo, uma quebra de paradigmas em relação à educação”, finalizou.