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publicado dia 18 de janeiro de 2013

Aulas de música transformam o cotidiano de comunidades ribeirinhas em Florianópolis

Reportagem:

Por Jefferson Guimarães, da Rede de Mobilização Social

As aulas também inspiram outras manifestações culturais.

O ambiente ribeirinho de uma comunidade de Florianópolis (SC) vem se transformando e ganhando novo som. Há três anos, instrumentos de sopro como flautas, trompetes e clarinetes, entraram na realidade de crianças e adultos da praia do Campeche, trazidos por um músico aposentado da Aeronáutica.

Getúlio Manoel Inácio, de 61 anos, se aposentou em 1998 e, a partir daí, decidiu compartilhar seu conhecimento com outras pessoas. Para dar fundamento ao seu trabalho, Getúlio se especializou e cursou Pedagogia na Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc). Depois de formado, abriu as portas do rancho que foi de seu pai e o transformou em espaço comunitário.

Duas noites por semana (segundas e quintas), o músico, que é uma figura conhecida no bairro, recebe os alunos da comunidade e não cobra nada por isso. O galpão onde acontecem as aulas é uma construção rústica de 100 metros quadrados, que abriga duas grandes embarcações e virou escola de música em 2009. Foi nesse ano que Getúlio conseguiu arrecadar instrumentos para iniciar as oficinas, graças às doações de amigos.

Na época, 58 interessados, de todas as idades, apareceram na escola e, então, ficou definido que a idade mínima para começar a oficina seria de oito anos. E não há idade máxima para iniciação, já que Getúlio defende a troca de experiência entre as gerações, o que é sempre enriquecedor.

Hoje, 40 alunos dividem a atenção do professor, entre canoas e partituras. Metade dos educandos são crianças e adolescentes. Todos são divididos em três turmas: iniciante, médio e avançado. Getúlio cuida da turma do avançado, enquanto dois ex-colegas militares se encarregam das outras. Cada aluno escolhe o instrumento  do qual gosta mais para trabalhar: “A gente vai testando até perceber a maior afinidade do aluno”, explica Almir Martins, um dos professores.

A escola é totalmente gratuita e os custos são bancados por Getúlio, com contribuições das associações de pescadores e de moradores, e também de estabelecimentos comerciais da comunidade. “Gasto cerca de R$ 600 por mês em manutenção. E há custos inesperados, como a quebra de algum instrumento”, diz Getúlio.

Tudo isso é feito em nome da cultura local. O músico acredita que a união dos moradores é a única maneira de manter Campeche como uma das praias mais intocadas de Santa Catarina. “Essas crianças já se tornam íntimas das nossas tradições pelo simples fato de estarem em um rancho de pesca, ao lado de uma canoa”, afirma.

As aulas também inspiram outras manifestações culturais. Uma noite por mês, por exemplo, o local se transforma no ‘Cineclube Dona Chica’, nome da falecida mãe de Getúlio. Há ainda oficinas de capoeira, e ele planeja oferecer aulas de viola – só falta um instrutor. “As dificuldades são muitas, mas as recompensas são maiores”, diz, ao final de mais uma aula.

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