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publicado dia 8 de janeiro de 2014

Reggio Emilia: uma cidade educadora da primeira infância

“A criança tem
uma centena de línguas
(E cem cem cem mais)
mas eles roubam 99.
A escola e a cultura
ao separar a cabeça do corpo.
Dizem-lhe:
pensar sem as mãos
fazer sem cabeça
para ouvir e não falar
de compreender sem alegria
de amar e de maravilhar-se
só na Páscoa e no Natal.
Dizem-lhe:
para descobrir o mundo que já está lá
e do cem
eles roubam 99”
(Loris Malaguzzi, “As Cem Linguagens das Crianças”)

Os moradores da cidade de Reggio Emilia, no norte da Itália, hoje com 170 mil habitantes, encontraram, após a II Guerra Mundial, uma cidade de escombros e junto dela, a necessidade de reconstruir suas vidas. Uma parcela dos cidadãos decidiu então que a melhor forma de reconstruir o tecido social, cultural e político da comunidade seria o caminho de construir uma escola com as próprias mãos.

Da necessidade do cuidado dos pequenos, vislumbrou-se o cuidado da cidade inteira. Os detritos dos tempos idos virou matéria prima para a construção do novo. Com a venda de metais velhos, restos de bombas e construções abandonadas, começou a ser construída a velha creche. Um jovem pedagogo, chamado Loris Malaguzzi, inspirado pelas ideias novas de Jean Piaget, Lev Vygotsky, John Dewey e Maria Montessori, passava de bicicleta pelo local e se encantou com o que viu.

Começou assim o processo de construção da rede de escolas infantis e creches de Reggio Emilia. Hoje já são mais de 13 creches e 21 pré-escolas na cidade, contemplando 40% da rede pública do município, com o apoio da Fundação Reggio Children e do Centro Internacional Loris Malaguzzi.

Comunidade como centro

A abordagem Reggio Emilia, como ficou conhecida, se baseia na perspectiva do papel primordial da comunidade e dos pais na construção da educação. Atualmente, tal metodologia tem sido importante na integração de famílias de imigrantes ao país, pela ampla participação conferida à família no processo. “[O método se baseia] no acolhimento das diferenças de cultura, religião, de pertencimento, da noção de que o ser humano é diferença, diferença que porta um valor em si e um contexto educativo que pode acolher todos”, afirma a coordenadora da Reggio Children, Cláudia Giudici, em reportagem da TV Univesp (que pode ser acessada abaixo).

Além disso, a abordagem também valoriza a representação simbólica – artes, pintura, música – como ferramentas primordiais no aprendizado. A estrutura física da escola também é pensada na busca de um ambiente educativo e lúdico, fazendo com que o espaço seja considerado “um terceiro professor”.  A cozinha, por exemplo, fica logo na entrada das unidades e é transparente aos demais cômodos, sugerindo a não-divisão dos potenciais educativos.

Dialogando com tal percepção está também o papel ativo de todos os membros da comunidade escolar no aprendizado. Além dos coordenadores pedagógicos e dos professores, os responsáveis pela comida são vistos como educadores e as crianças são incentivadas a se interessar por aquilo que estão comendo, tendo papel ativo até na preparação dos alimentos. A Reggio Emilia também conta com atelieristas, que propõe atividades diversas, dentro de suas áreas de atuação, para trabalhar com diferentes linguagens.

Cem linguagens

Mas os caminhos da representação simbólica não estão contidos apenas nos campos já delineados pela arte e pela ciência. Para exemplificar a metodologia, Malaguzzi escreveu o poema “As Cem Linguagens das Crianças”, no qual propõe as infinitas possibilidades de expressão do ser humano em sua primeira idade. A partir desta concepção, destacam-se nas escolas de Reggio Emilia o papel de protagonista da criança em sua educação, proporcionando controle sobre os direcionamentos da aprendizagem.

Para isso, prioriza-se a “experiência real” antes do estabelecido. As crianças devem poder tocar, sentir, fazer, se relacionar e explorar o que está a sua volta, para conhecerem a si mesmas e ao mundo no qual estão inseridas. “A mente da criança e do ser humano é multidisciplinar. Portanto, se observo a criança quando ela conhece, tenho de volta esse modo de conhecer”, analisa Claudia Giudici.

Dentro da rotina escolar, também é valorizado o trabalho em pequenos grupos, que acontece muitas vezes – independentemente de séries. Ao final do dia, os resultados são divididos pelos grupos numa assembleia, onde a participação de todos é encorajada. “Acho que formamos indivíduos críticos, que veem o mundo de várias formas, construindo suas ideias com a comunidade e com suas próprias subjetividades”, afirma Madalena Tedeschi, coordenadora de uma das unidades.

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