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publicado dia 9 de setembro de 2013

A corrida das avaliações

Por Maria Regina Potenza, publicado originalmente no Mais Educação São Paulo

Estou um pouco confusa com as propostas de avaliação deste “Programa de Reorganização Curricular e Administrativa, Ampliação e Fortalecimento da Rede Municipal de Ensino de São Paulo”.

[stextbox id=”custom” float=”true” align=”right” width=”250″]Regina Potenza é professora especializada em Educação Infantil. Atua na rede municipal de São Sebastião (SP), onde já exerceu as funções de Diretora e Coordenadora Pedagógica. Integrante dos Românticos Conspiradores, uma “rede colaborativa formada por pessoas que militam pela transformação da educação pública”.[/stextbox]

Ora fala-se em avaliação para a aprendizagem sem fins classificatórios, ora fala-se em nota de 0 a 10, inclusive em boletins. Ora fala-se em avaliação vinculada a Diretrizes Curriculares, ora em aprendizagem autoral. Ora fala-se da importância de ações pedagógicas complementares à aprendizagem tais como recuperação paralela e outros, ora fala-se em auto avaliação que deve ser considerada pelos Conselhos de Classe. Ora fala-se em reconhecimento da diversidade, estilos e ritmos diferenciados de aprendizagem e desenvolvimento e ora a avaliação é massificada de acordo com currículo previamente determinado.

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Desculpem-me a sinceridade, mas acho que estamos um pouco confusos entre a teoria e a prática. Ou entre as intenções de mudar e mudar efetivamente nas ações. Inclusive não vejo nada de novo nesta proposta. Só retrocessos à escola que eu frequentei há mais de 40 anos.

Parece que toda tentativa de colocar o aprendiz no centro de sua aprendizagem é malograda pelo tal acompanhamento, recuperação paralela, apoio à aprendizagem e outras explicitadas neste documento.

Começa por chamar a criança de forma antiga e equivocada de: “aluno”. A criança da escola de hoje é ou deveria ser tratada como estudante ou aprendiz e não como alguém que não tem iluminação a quem o professor vai iluminar.

Segue, desconsiderando a motivação que é o aspecto mais importante do processo de aprendizagem como já sabemos. Continuamos a insistir na premissa que a criança não quer aprender e só vai à escola para brincar, como li em muitos comentários desta consulta popular, mas isto é assunto para mais um comentário.

E, por fim, aplicamos uma avaliação igual para todos, sendo que a ideia é respeitar o ritmo de cada um.

Nesta altura gostaria de fazer uma pergunta simples para a qual não vejo resposta até hoje: o que fazer com as crianças que atingiram os tais “Direitos de aprendizagem” do ano/série em que se encontra? Podemos promovê-la no meio do ano ou a qualquer momento em que ela seja aprovada nas provas? Acho que vamos ter que repensar isso também.

Quando vamos pensar diferente de nossos antepassados e da própria escola que frequentamos e realmente inovar para além das ideias?

Parar de falar em “direitos de aprendizagem”! Gente, aprender não é um direito mas uma condição de todo ser. Em vez disso, poderíamos falar em “o que se pode aprender na escola”.

O currículo pode sim ser uma base das expectativas do “que se pode aprender na escola”, não especificamente uma camisa de força, mas um “contrato de estudo” com as crianças, desde o 1º ano do Ensino Fundamental. Quem sabe explicitando aos estudantes o que esperamos que eles aprendam e o significado dessa aprendizagem para eles, possam motivar-se a aprender, não só o que esperamos mas o que eles desejarem também e motivarem-se a incorporar o papel de estudantes que é o de “estudar”.

Estou aqui com meus botões pensando que se eu tivesse sido conscientizada deste papel desde pequena talvez tivesse mais sucesso dentro das paredes da escola. Fui uma estudante com avaliações sempre no 5 ou 6 pela escola, mas eu sabia no meu íntimo que era muito mais inteligente do que as avaliações que recebi na época. Na adolescência, tornei-me desobediente (graças a Deus!) e autodidata. Hoje, não tenho títulos porque odeio a escola, mas estudo muito, reflito muito, coloco em prática aquela escola que eu gostaria de ter frequentado. Aquela que respeita a criança na sua individualidade, no seu ritmo próprio, na sua motivação do momento. Aquela que valoriza a aprendizagem como uma condição do ser, e posso provar que os resultados são maravilhosos. Todos aprendem, inclusive “o que se pode aprender na escola” e todos fazem auto avaliação, sem necessidade de notas, aprovações ou reprovações. Afinal não são animais treinados à moda de Skinner, são seres extremamente curiosos e o que mais fazem neste momento de suas vidas é aprender a todo momento, em toda brincadeira, em todo convívio, em tudo e em todo lugar.

Por que continuamos a afirmar que eles não aprendem na escola? Porque se trata “desta escola” e “desta avaliação”. Se ela fosse diferente garanto que aprenderiam. Proponho o desafio.

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