publicado dia 6 de junho de 2013
A Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) é conhecida por seu histórico de resistência contra a ditadura militar: acolheu professores e estudantes expulsos de outras universidades, abriu espaço para atos por liberdade e seu teatro foi palco de peças censuradas. Agora, uma Comissão da Verdade, criada por estudantes, docentes e funcionários, com apoio da Reitoria e da Fundação São Paulo, sua mantenedora, quer contar os casos que ninguém conhece e reconstituir o período entre 1964 e 1985.
USP terá Comissão da Verdade presidida por Dalmo Dallari
Grupos darão auxílio psicológico a perseguidos pela ditadura
“A PUC-SP é um espaço de resistência. A Comissão será aberta aos parentes das vítimas, ex-alunos e professores, para que a universidade conte essa história que vai além dela. Tivemos membros da comunidade acadêmica mortos pelas forças de repressão”, disse Rosalina Santa Cruz, que compõe o novo órgão. ”Queremos cumprir um papel pedagógico, acadêmico, de juntar materiais e fazer pesquisa. Contar uma história para que ela não seja esquecida e não se repita”, reforçou.
Thais Dourado, estudante de história e uma das organizadoras da Comissão da Verdade, ressaltou a ligação que o mundo de hoje tem com esse passado. “Para nós é muito importante, porque vemos a criminalização dos movimentos sociais, vemos a polícia matando nas periferias e isso significa que a ditadura deixou muitos resquícios.” Thais ajuda a mobilizar um Comitê de Estudantes que deve contribuir com os trabalhos da Comissão. A universidade também disponibilizou dez bolsas de iniciação científica para quem se interessar em pesquisar o tema.
Ao trabalho
A Comissão, que trabalhará por dois anos, começou a ser gestada no fim de 2011, mas foi interrompida pela crise institucional vivida pela comunidade acadêmica no ano passado, que terminou em uma greve contra a nomeação da atual reitora Anna Cintra. Apesar da polêmica, Rosalina ressaltou o clima de unidade que envolve a criação da Comissão. “É uma iniciativa de toda a universidade. Eu mesma estava em greve ano passado, mas a questão vai além. É a defesa da história dessa universidade”.
Ana Paula Grillo, advogada da Fundação São Paulo, membro da Comissão pela Arquiodicese de São Paulo, lembrou o papel da igreja à época. “Tivemos Dom Paulo Evaristo Arns à frente da Arquidiocese, que foi importante na luta pela democracia, especialmente na questão dos mortos e desaparecidos.” Ela também sublinhou que a Comissão da Verdade da PUC, apesar de autônoma, quer colaborar com a Comissão Nacional da Verdade e que “todos os resultados de nossos trabalhos serão encaminhados para eles”.
[stextbox id=”custom” caption=”Na USP” float=”true” align=”right” width=”250″]Apesar de já existir uma mobilização estudantil, a USP instalou uma Comissão da Verdade por decreto do Reitor João Grandino Rodas, que teve um papel polêmico na absolvição dos assassinos da estilista Zuzu Angel, morta durante o regime. A Comissão da universidade é presidida por Dalmo Dallari e funcionará ao longo de um ano.[/stextbox]
A Comissão leva o nome da Reitora Nadir Gouvêa Kfouri, conhecida por desafiar o então Secretário de Segurança de São Paulo, Erasmo Dias, que comandou a violenta invasão da Polícia Militar à universidade, em 1977, quando estudantes realizavam um congresso clandestino da União Nacional dos Estudantes (UNE).
O lançamento oficial da Comissão da Verdade da PUC acontece hoje (6/6), às 19h, no Teatro da Universidade Católica (Tuca). Ao longo de dois anos, espera-se construir audiências, eventos e debates, que culminarão em uma publicação e um memorial na instituição. Um painel na arena do Tuca já foi instalado e relembra seis estudantes e professores da PUC-SP mortos durante a ditadura.