publicado dia 8 de novembro de 2012
Propor práticas e alternativas que aproximem a família da escola, viabilizando a aprendizagem pelo diálogo ainda é um desafio em muitas comunidades país afora. “A gestão da escola é uma gestão de proximidade. Famílias e comunidade são a ponte cultural necessária para o aprendizado”, defende Maria do Carmo Brandt, pós-doutora em Ciência Política e ex-coordenadora geral do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec).
Para ela, em um século marcado por aprendizagens em múltiplos espaços, as escolas cumprem um importante papel se agirem em sinergia com os demais serviços atuantes no território. “É importante estar enraizado pelos vínculos locais. A escola precisa saber acolher famílias, gerando confiança e participação comunitária”, afirma.
As declarações foram feitas durante o debate “O Papel da Família – Uma visão sistêmica de atuação indivíduo-família-escola-comunidade”, em seminário dedicado às “Práticas de Educação Integral”, da Gol de Letra, no auditório do Museu de Arte Moderna de São Paulo nesta segunda (5/11).
Maria do Carmo lembra que as prioridades e atenções de cada comunidade devem ser construídas coletivamente e de acordo com a realidade local. “É fundamental que todos os conselhos municipais, o da educação, assistência social, da saúde, da criança e adolescente etc, trabalhem juntos. Não basta pensar corporativamente um setor ou segmento. A política social pública deve ser pensada em conjunto”, ressalta.
As famílias devem ser consideradas em sua sabedoria própria, de quem vive a necessidade de acessos aos serviços públicos no dia a dia. “É preciso ser sensível à vulnerabilidade e risco, mas não reafirmá-las. É hora de passar a falar na potência e nos aprendizados acumulados por essas famílias. Simplesmente tutelar revela frieza e falta de sensibilidade para reconhecer talentos”, argumenta.
Proteção
Aprender com as famílias e seus próprios códigos, valorizando o que se tem e não o que falta. Esta tem sido a prática da enfermeira, doutora e coordenadora do curso de especialização em intervenção e prática sistêmica com famílias da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Ana Horta.
Para o enfrentamento dos conflitos, Ana Horta propõe uma terapia familiar, na qual se compartilhem meios capazes de desenvolver resiliência, apoio e suporte mútuos, a partir da criação de espaços de interação com temas variados. “É importante olhar para as pessoas e não para os problemas, entendendo o vínculo e a comunicação da família, no acolhimento e na escuta pelas mudanças.”
De acordo com Ana, não existe mais um único padrão de organização familiar. Para o enfrentamento de conflitos em famílias que buscam mediação, é necessário levar em conta as diferentes crenças, valores e rotinas que o núcleo familiar apresenta. A psicóloga ressalta que a terapia familiar pode complementar políticas públicas para mediações de conflito – inclusive com a escola.
Participação
A diretora de políticas de educação do campo, indígena e para as relações étnico-raciais do Ministério da Educação (MEC), Macaé Evaristo, nota que ainda existe muita dificuldade e resistência para “se ouvir e discutir dentro da escola as reivindicações da família”.
Um ponto importante a ser trabalhado, acrescenta ela, são as diferentes formas de participação política familiar. Ela aposta em algumas iniciativas que articulam a comunidade por meio dos locais que a família frequenta, como é caso das igrejas, das escolas aberta aos finais de semana, etc. “Há bairros em que a escola é o único equipamento público. É importante que esse espaço também seja um local de organização comunitária”, recomenda.
A formação de uma rede com diferentes agentes sociais permite a integração da comunidade e das inúmeras formas de convívio existentes ali dentro. “Só o registro da pedagogia não é suficiente para dar conta da formação integral. A articulação é justamente para trazer os diferentes olhares para o sujeito”, conclui.