Por Maria Fernanda Ziegler, do IG Ciência
Análise de 60 reservas de florestas tropicais ao redor do mundo mostrou que, mesmo com a iniciativa de proteção, sua biodiversidade diminuiu nos últimos 30 anos.
No estudo, publicado nesta semana no periódico científico Nature, 262 biólogos que trabalham nestas reservas foram entrevistados sobre indicadores que pudessem mensurar a saúde da reserva e seu manejo. De acordo com os especialistas, embora os esforços para a proteção tenham aumentado nas últimas três décadas, limitando ameaças como desmatamento, incêndio e caça dentro das reservas, isto não aconteceu fora delas: 85% das reservas perdeu cobertura de floresta no seu entorno. O resultado mostrou que as áreas de proteção estão intimamente ligadas ao ambiente que as rodeia e que a conservação de espécies depende de ações maiores que a salvaguarda de reservas.
“Não estamos dizendo que os parques não funcionam. Eles são necessários, mas precisamos também de um sistema maior de proteção”, disse Willian Magnusson, pesquisador do Instituto de Pesquisa da Amazônia (Inpa), que participou do estudo. Magnusson afirma que há um risco muito grande da biodiversidade sofrer ameaça maior com o novo Código Florestal, que diminui as áreas de proteção.
“Os governos precisam assumir que a biodiversidade não é como mobília que se coloca em uma determinada área do país. Nós também fazemos parte da biodiversidade, precisamos preservar não só as reservas. Esta proteção precisa ser inserida em áreas de produção agrícola e nas cidades, como o parque Nacional da Tijuca, por exemplo”, diz o especialista. Ele afirma que o que está sendo pedido não é muito diferente do que Dom Pedro já havia feito séculos atrás ao criar a área de proteção na cidade do Rio de Janeiro.
Mesmo assim, manter arcas de biodiversidade não é suficiente. Para se ter uma ideia, na reserva Ducke, ao lado de Manaus, pesquisada por Magnusson, o macaco-aranha está quase em extinção. Também notou-se uma queda na população de veados, principal fonte de alimento das onças pintadas e suçuaranas. “Com isto, as onças estão se alimentando de preguiças e tatus. O declínio de veados pode ocasionar a extinção destas onças pintadas e suçuaranas”, afirma.
Magnusson afirma que o estudo não analisou as taxas de perda de biodiversidade nas reservas ao redor do mundo, pois há falta de índices específicos. “A maioria das reservas não faz este tipo de análise de taxa de queda de biodiversidade. Por falta de peritos, fazem apenas monitoramentos como perda da cobertura florestal”, disse.
Ele afirma que para que isso fosse feito seria necessário um maior investimento, não só em fiscalização, mas também em avaliação da biodiversidade. “Atualmente investe-se R$ 0,001 em monitoramento da Amazônia por hectare/ano. Para que fossem avaliados os índices de perda de biodiversidade, seria necessário um investimento de R$10”, afirmou.