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Por Diário do Pará

A prostituição nunca foi uma escolha para a travesti Bruna Oliveira, 20. Mas diz que foi o único caminho que encontrou para sair da casa dos pais e ser independente. “Trava nenhuma quer se prostituir, passar por humilhações, ser hostilizada diariamente. Mas, infelizmente, por falta de oportunidades esse acaba sendo o único caminho para todas nós. Não por escolha, mas falta de opção”, afirma Bruna.

Estudante de Biomedicina numa faculdade particular de Belém, Bruna revela que sua vida de garota de programa está com os dias contados. “É só o tempo de me formar e consegui um trabalho que abandono esse caminho sem pensar duas vezes. Jamais imaginei que iria trabalhar com prostituição alguma vez na vida, mas até agora essa foi a única oportunidade que apareceu e é desse trabalho que eu me sustento e pago a minha faculdade. Mas conto os dias para isso acabar e eu me tornar uma profissional respeitada”. Bruna sabe que é uma exceção num universo onde a maioria possui apenas o ensino fundamental incompleto. Por isso, faz questão de orientar as colegas de trabalho a seguir seu exemplo. “Eu só consegui estudar porque assim que assumi a minha orientação sexual tive o apoio da minha família. E por isso, não fui obrigada a sair de casa e abandonar a escola. Mas a maioria das travas se descobre cedo e quando se assumem tem que sair da casa dos pais e abandonar a escola porque não encontram apoio em ninguém”, ressalta.

Estudante do ensino médio de uma escola evangélica, em Belém, a travesti Letícia Lorrane, 25, lembra com detalhes da época que jogava bola na quadra escolar e era conhecida apenas como Deivid. Atuando no gol, ela conseguiu literalmente ser uma graça nas quadras, sem deixar de ser uma jogadora de confiança da equipe. “Olha, pra mim sempre foi normal jogar com o Deivid. Se agora quer ser chamado de Letícia, eu não me importo. Pra mim continua sendo colega de bola”, declarou o estudante Diego, lembrando da época que jogava bola com o colega da escola.

Letícia afirma que no início, a sua família resistiu, quando ela declarou sua orientação sexual e disse que iria se tornar travesti. Mas com o tempo, eles começaram a aceitar. “Eu chamei a minha mãe e disse que a partir daquele momento eu não queria ser a filho dela. No começo foi complicado, ela não aceitou. Mas com o tempo as coisas mudaram e hoje em dia temos um relacionamento normal”, explicou. “Como eu estudo o Ensino Médio numa escola evangélica. No início foi meio difícil. A diretora não aceitava, me chamava lá pra me aconselhar a me vestir de outra forma. Mas hoje até mesmo lá todo mundo me respeita. Meus amigos brincam sobre minha orientação, mas não é agressivo”, orgulha-se. Letícia afirma que sabe se impor pela educação graças aos aconselhamentos de Bruna Lorrane, 25, considerada por ela como uma madrinha e um exemplo de transexual.

Bruna está concluindo o curso de direito numa faculdade particular e mantém um namoro sério e aceito por ambas as famílias. “Já era pra eu ter concluído o curso, mas quando resolvi começar a me vestir como eu queria um professor confessou que me reprovou porque não gostava da minha orientação. No início nem a minha família aceitou. Eu batalhei muito para hoje me considerar e ser considerada uma pessoa de respeito. Por isso, uma das primeiras condições que imponho antes do namoro é que não aceito namorar escondida”, afirmou a travesti, que desde os 17 anos resolveu deixar de ser chamada de Bruno. “Quando eu, filho único, falei pra minha família que estava namorando uma transexual, obviamente não foi fácil. No início eles e meus amigos estranharam. Mas depois de conhecer a Bruna e verem o quanto ela me faz bem, hoje em dia todo mundo a adora”, comentou Junior Lima, 20. Saindo de uma festa, certa vez, eles chegaram a ser hostilizados por pessoas que gritavam que ali “era um casal de dois homens”. “Nesse dia a Bruna ficou com a alma cortada. Mas isso foi uma exceção. Ela se dá muito ao respeito. Normalmente nós fazemos coisas que todo mundo faz. Só para os outros nossa relação é estranha”, argumentou.

INCLUSÃO

Para Samuel Sardinha, responsável pela Coordenadoria de Proteção de Livre Orientação Sexual (Clos) da Secretaria Estadual de Justiça e Direitos Humanos, a melhor maneira de acabar com o preconceito contra travestis e transexuais é a criação de políticas públicas de inclusão. “A prostituição não é o caminho mais fácil, mas na maioria das vezes acaba sendo a única opção para travestis e transexuais que desde cedo foram obrigados a conviver com a rejeição nos vários segmentos da sociedade”, afirma. “Os travestis e transexuais são seres humanos e cidadãos como qualquer outro e merecem ter a cidadania respeitada. É só isso que queremos: respeito”, ressalta o coordenador da SEJUDH.

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