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“O artista é alguém que faz coisas, das quais ninguém precisa. Mas ele pensa, por alguma razão, que seria bom oferecer essas coisas às pessoas”. O popularíssimo Andy Warhol, que dominava melhor que ninguém a arte de vender o que fazia, sabia o que estava dizendo. Quem se candidata a uma vaga em uma escola superior de artes na Alemanha tem também que ter uma boa dose de persistência. Quem quer mesmo entrar ali precisa provar que tem talento. Uma tarefa nem um pouco fácil.

Aproximadamente 700 candidatos se inscrevem a cada ano para uma vaga na Academia de Belas-artes de Düsseldorf, provavelmente uma das instituições de ensino mais cobiçadas na Alemanha para quem quer estudar artes. Anualmente, só são aceitos em torno de 100 estudantes, às vezes um pouquinho mais, às vezes menos.

Quando Joseph Beuys, ícone da arte alemã do pós-guerra, tentou mudar isso, no ano de 1972, ele foi demitido sumariamente, depois de ter lecionado durante 11 anos na Academia. Beuys considerava toda pessoa um artista. Por isso, dizia ele, qualquer um deveria poder participar de suas aulas, inclusive os rejeitados pela escola. Em seus áureos tempos, ele chegou a amontoar 400 alunos em sala de aula, entre estes personalidades que se tornariam conhecidas no cenário das artes, como Jörg Immendorff, Blinky Palermo ou Katharina Sieverding.

Professores e alunos famosos
Alguns dos ex-alunos da Academia de Belas-artes de Düsseldorf se tornaram famosos em todo o mundo, como é o caso de Gerhard Richter, por exemplo. Ou de Bernd e Hilla Becher, que, com seus olhares peculiares, criaram o que se tranformou em uma vertente fotográfica: a “Escola dos Becher”.

Thomas Struth, Thomas Ruff e Andreas Gursky, conhecidos nos EUA como os “Struffkys”, são outros artistas de renome internacional que estudaram na Academia de Düsseldorf. Alguns dos ex-alunos famosos retornaram inclusive à instituição na condição de professores.

O primeiro obstáculo a ser vencido é a prova de admissão, que geralmente exige do candidato muita criatividade e autonomia. É preciso apresentar um portfólio com 20 a 25 obras originais, embora não haja determinação de uma temática ou técnica específica no que diz respeito aos trabalhos. Com estes trabalhos em mãos, uma comissão decide se o candidato dispõe ou não de “um talento especial para a arte”. Este é o pré-requisito para conseguir uma vaga.

Escola superior de artes: criando talentos
Düsseldorf é uma das 23 escolas superiores na Alemanha que oferecem cursos de artes. Em todas elas, há atualmente mais de 10 mil estudantes. Os recordes dos leilões de arte e histórias de talentos, descobertos da noite para o dia, parecem povoar a fantasia de muitos jovens. A realidade, contudo, é bastante distinta. Apenas alguns poucos conseguem viver de arte: em 2010, a média salarial no setor na Alemanha, segundo informações oficiais, era de modestos 13.185 euros por ano.

Estes fatos costumam ser omitidos, de forma que o interesse pela arte na sociedade aumentou assustadoramente nos últimos 20 anos. Quando a Academia de Belas-artes de Düsseldorf abre suas portas uma vez por ano para a população, durante uma semana, há sempre uma avalanche de até 40 mil visitantes, interessados em conhecer as instalações e os ateliês da instituição. Números que até então só eram registrados em eventos esportivos. Galeristas e curadores rastreiam também as universidades, a fim de buscar na fonte as estrelas de amanhã.

Condições ideais de estudo
Principalmente as exposições de alunos das universidades de artes de Hamburgo, Berlim, Munique, Leipzig e Frankfurt atraem os especialistas. Em Frankfurt fica a Städelschule, a menor escola superior de artes do país, onde os alunos encontram condições ideais para o aprendizado, com dez artistas reconhecidos internacionalmente, à disposição de aproximadamente 170 estudantes.

Já os pintores aspirantes costumam preferir Leipzig. Entre os críticos de arte, a Escola Superior de Artes Gráficas e Editoriais foi considerada, no ano de 2008, a melhor do país nos cursos de pintura e artes gráficas. Entre 2005 e 2009, o conceituadíssimo Neo Rauch foi professor ali. Foi através dele que a chamada Nova Escola de Leipzig se transformou em selo de qualidade, hoje tão reconhecida em todo o mundo como um Volkswagen ou um BMW. Uma situação que fez do Leste do país um lugar atraente como local de estudos para artistas.

Artemídia: ilhas do novo
A Academia de Artemídia de Colônia (KHM) iniciou suas atividades em 1990, como primeira escola superior de artes dedicada às mídias audiovisuais. Naquela época, era oferecida apenas uma pós-gradução nas áreas de artemídia, mídia, ciência da arte e cinema. Cinco anos mais, tarde, a escola havia expandido: desde 1995, a KHM oferece, além da pós-graduação em quatro semestres, também um curso superior completo, de nove semestres, em áreas específicas.

As ofertas vão desde o desenvolvimento de projetos inovadores para a internet, passando pela história de aparelhos musicais e sonoros, até teoria da mídia e artemídia. Cerca de 360 estudantes recebem ali formação, no convívio com 36 professores, até se tornarem profissionais ligados ao cinema ou à artemídia. O diploma concedido pela KHM, em “Artes e Mídia”, é único na Alemanha. Ao contrário do que ocorre nas academias de arte, não há na instituição uma relação tradicional entre mestre e aluno, mas os estudantes trabalham em projetos, orientados por diversos professores.

Mesmo com tantas áreas distintas nas escolas na Alemanha, uma coisa é certa: não basta ser bom para se tornar conhecido. O emaranhado do mercado de artes é praticamente impossível de ser compreendido. Para se obter sucesso, ajuda, com certeza, saber convencer os outros da própria capacidade. Resumindo: é importante saber convencer os outros de que eles precisam, de qualquer forma, daquilo que você, como artista, faz.

(DW)

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