publicado dia 24 de outubro de 2019
Mostratec 2019: jovens cientistas criam soluções para impactos ambientais
Reportagem: Cecília Garcia
publicado dia 24 de outubro de 2019
Reportagem: Cecília Garcia
Quando orientadores do Colégio São Loureiro da Silva, em Esteio (RS), apresentaram a ideia de fazer uma estação meteorológica modular na escola, as estudantes Élen Pascoal e Luiza Garcia, de 17 anos, desconfiaram: seriam capazes de montar algo de tamanha complexidade usando poucos recursos e tecnologia livre?
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Mas foram suas mãos, e as de uma dezena outros de alunos, que construíram a aparelhagem capaz de medir pressão atmosférica e a umidade relativa do ar somente com a reutilização de recursos e softwares gratuitos.
“Hoje eu tenho muito amor por essa estação e pelo que ela representa. A estação ajuda a discutir na nossa comunidade o aquecimento global, as mudanças de temperaturas e outras questões importantes do meio ambiente”, explica Élen.
A esperança é que outras escolas, e assim outros bairros, também possam produzir suas próprias aparelhagens e popularizar as discussões em suas comunidades.
Muitos dos 755 projetos da Mostratec 2019 estão com olhos atentos para as questões ambientais pungentes no Brasil e no mundo. Em um ano em que queimadas devastaram a Amazônia e o maior derramamento de óleo da história atinge as praias do Nordeste, cientistas de diversas idades estão prototipando soluções alternativas e sustentáveis de se pensar o futuro.
É o caso de João Guilherme Araújo da Silva, que desenvolveu uma telha sustentável a partir de resíduos de papel e recursos naturais na sua escola, localizada em Maranguape (CE). Para o estudante, é sua geração que pode inspirar o uso dos conhecimentos científicos na transformação dos territórios.
“A percepção jovem sobre a sustentabilidade dentro da escola é de grande relevância. O jovem pensa ‘Meu colega está em uma feira científica!’, o que já desperta a curiosidade de participar e colaborar com o meio ambiente. Como fala a Greta Thunberg [jovem ativista pelas questões climáticas], ninguém é tão pequeno que não pode fazer diferença!”
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400 milhões de abelhas morreram no Rio Grande do Sul, de outubro de 2018 até março deste ano. Os insetos polinizadores, que são vitais para a saúde de plantas de cultivo e alimentícias, desapareceram devido ao uso indevido de agrotóxicos na região. Por isso, as jovens Milena Moraes, Laura Nedel Debres e Camila Yumi Tochihara criaram o aplicativo Bee Life.
“Nossas pesquisas de campo e científicas relataram que falta uma integração e comunicação entre agricultores e apicultores”, explica Camila.
O aplicativo une agricultores, apicultores e sociedade: os agricultores cadastram suas áreas de cultivo e, quando fazem uso de alguma substância, os apicultores serão alertados. A sociedade também tem acesso à informações sobre o cultivo de plantas que aumentem a população de abelhas nativas. A ferramenta também informa os agricultores sobre as melhores substâncias a serem usadas, e os apicultores sobre como proteger os insetos.
O estudante Vinicius Eduardo Stulp, de Toledo (PR), percebeu que em sua cidade há um alto índice de descarte impróprio de copos de plásticos e isopor, o que é bastante prejudicial ao meio ambiente.
“O de isopor, principalmente, não se degrada, fica em partículas menores, que podem ser ingeridas por animais e causarem danos que levam ao óbito. O ser humano também pode se intoxicar ao consumir os animais, porque o isopor absorve químicos e metais pesados.”
Para mitigar o problema, Vinicius criou um copo biodegradável a partir de diversos tipos de amido, principalmente o da planta araruta. Ainda em fase de testes, mas já com consistência e resistência, o copo é uma alternativa que se degrada naturalmente e não causa impactos ambientais.
João Guilherme Araújo da Silva mora em Maranguape (CE). Enquanto fazia pesquisas em seu território, ele percebeu como biomas regionais eram prejudicados por conta da indústria ceramista e sua produção de telhas. Concomitantemente, o estudante fazia um projeto para reciclar papel em sua escola.
“A ideia era só reciclar o material, mas decidimos apostar em uma telha sustentável. Além do papel reciclado, usei a cera de carnaúba, produto que emprega mais de 100 mil pessoas ao ano no Ceará”, explica o jovem de 17 de anos.
João também relata que a produção da telha já rendeu frutos: o material passou em testes de permeabilidade e empresas do Ceará e do Maranhão estão começando a testar a aplicabilidade do produto para comercializá-lo.
Foi durante uma aula de física sobre pressão que os estudantes do 2º ano do Ensino Médio, Mariana Mentz e Pedro Guilherme Backes Ledur, decidiram estudar mais sobre o estouro das barragens de detrito, como as de Mariana e Brumadinho (MG). Os jovens perceberam que, dos três tipos de barragem possíveis, as utilizadas eram as mais baratas e menos seguras.
Os estudantes então desenvolveram dois tipos de sensores, um por pêndulo e outro por contato, que alertam por aplicativo qualquer oscilação na barragem, podendo evitar seu derramamento e também avisar a população caso seja necessário algum tipo de evacuação.
“Nosso projeto é muito melhor que os sensores utilizados atualmente. A Vale gasta R$5 milhões com uma empresa alemã de monitoramento que obviamente não é eficaz. O nosso protótipo custa em torno de R$ 600 e provou-se em cada um dos testes”, explica Pedro.
Sustituto de Carne Elaborado a Base de Vegetales – Carne vegetal a partir de hortaliças e leguminosas
A estudante mexicana Nayeli Valeriano-García trouxe para a Mostratec 2019 os resultados de seu estudo de desenvolvimento de uma carne vegetal a partir de hortaliças não comercializadas em feiras e outros espaços.
O objetivo da pesquisa é a produção de uma carne vegetal que imitasse tanto em textura, quanto em sabor, a carne de vaca, sem contudo usar nenhum componente animal ou conservantes.
“Na América Latina, o México é o maior produtor de hortaliças. Não se consome todo o produto fresco. Então, aplicamos uma tecnologia que dá um valor agregado e utiliza as características nutricionais desses produtos de pouco valor econômico para dar algo a uma população cada vez mais preocupada com sua saúde”, explica a jovem cientista.
Cebolinha e alho. São essas duas simples hortaliças que, combinadas, podem fazer um pesticida atóxico que não prejudica a saúde do agricultor e nem a natureza. A descoberta é das alunas Fernanda Camily Korpalski, Natália Cristina Soares Lemes e Júlia Fonseca Saberin, estudantes do 2º ano do Ensino Fundamental em uma escola de Nova Hamburgo (RS).
“A gente ficou mobilizada com uma notícia no G1 sobre o número de agrotóxicos que o governo tinha liberado este ano. E também vimos que a água estava contaminada aqui no Rio Grande do Sul. Pensamos como poderíamos criar uma alternativa natural que não prejudicasse nossa saúde nem a do meio ambiente”, explica Fernanda.
Confeccionando uma horta vertical e também usando a dos avós da participante Natália, as meninas criaram dois pesticidas atóxicos: um com base em cebolinha e alho, que mata pulgões, lagartas e vaquinhas, e um produto com laranja, fruta do conde e coentro, indicado para animais de corpos moles.
Lamija Bahic, da Bósnia e Herzegovina, sempre quis desenvolver um projeto voltado para área ambiental. Para ela, a maior preocupação era o uso excessivo de plástico e suas consequências na vida marítima. Foi com essa questão em mente que a estudante criou um bioplástico à base de extratos vegetais.
“Eu criei quatro tipos de plásticos vegetais a partir de banana, gelatina, batata e amido de milho. Eles têm as mesmas características do plástico regular, mas são muito mais baratos, seguros e se degradam em contato com o meio ambiente. Cada um tem uma característica diferente, um serve mais para fazer garrafas de plástico, outros para potes de comida.”
É também por uma preocupação ambiental que os jovens peruanos, Carlos Roman e Raul Gonzales Pingo, percorreram os litorais do Peru investigando os locais com pouca disponibilidade de água potável, mas muita de água marítima.
Com recursos renováveis, eles criaram uma máquina que gera energia elétrica e água potável a partir da água do mar.
“Para programação desse sistema, usamos o arduíno, uma tecnologia livre, e também um software de programação que se chama Embloc, cuja programação é simples e possibilita que qualquer pessoa possa usar e ter à sua disposição a máquina”, explica Carlos. O projeto também pode ser utilizado para criar um sistema de irrigação sustentável.