publicado dia 16 de outubro de 2019
Na Virada Educação 2019, cortejo celebra parceria entre escolas do centro de SP
Reportagem: Cecília Garcia
publicado dia 16 de outubro de 2019
Reportagem: Cecília Garcia
Dos dias 16 a 19 de outubro, o centro de São Paulo será tomado por uma revolução das crianças. A Virada Educação 2019 é uma celebração dos encontros que acontecem quando escolas e os espaços públicos se unem para que crianças experimentem a cidade por meio da educação, cultura e cidadania.
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A sexta edição da Virada Educação, que acontece na região da Consolação, foi tecida por múltiplas mãos. As EMEIs Patrícia Galvão, Monteiro Lobato, Gabriel Prestes e Armando de Arruda, escolas que compõe o Território Educativo das Travessias, sediam grande parte da programação e foram responsáveis pela articulação da comunidade local.
“O Território Educativo das Travessias é um projeto coletivo de quatro escolas públicas do centro de São Paulo. Ele nasceu com a intenção de fortalecer os vínculos entre as escolas e seus parceiros”, explica André Gravatá, um dos idealizadores da Virada Educação e do Movimento Entusiasmo, coletivo também formado pela Aline Oliveira e Rayssa Oliveira. “A ideia era aprofundar a sensação de pertencimento com o território e a importância de cada escola se escutar e se aproximar.”
O projeto é desdobramento do Território da Consolação, nome antes dado para ações que aconteciam nestas escolas, mas não necessariamente entre elas. A realização e história da Virada Educação está entrelaçada nessas escolas, gestores e pessoas.
“É um projeto de Território Educativo, onde a gente se pergunta coletivamente qual a potência que surge a cada momento em que nós nos encontramos. É importante ressaltar que este ano da Virada estamos muito mais plurais, e foi mais democrático o processo de construção da programação a partir das escutas dessas escolas”, complementa André.
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Na manhã do sábado (19), um grande cortejo simboliza o processo construído pelas quatro escolas. Às 9h30 da manhã, as EMEIs Patrícia Galvão, Monteiro Lobato e Gabriel Prestes serão pontos de encontros para saída coletiva que rumará até a Praça da República, onde se localiza a Armando Arruda. Durante a caminhada e na chegada dela, atividades e brincadeiras celebram a potência do encontro dos agentes desse território.
Separadas por alguns quilômetros, as quatro escolas que compõe o Território Educativo das Travessias têm muito em comum, como explica a diretora da EMEI Patrícia Galvão, Cláudia Rosa de Oliveira:
“Temos uma comunidade praticamente comum, compartilhamos das mesmas necessidades e muitas vezes temos os mesmo problemas ou situações particulares que se assemelham. Isso foi fundamental para construir uma relação mais forte.”
As escolas entrelaçam atividades tanto entre as crianças quanto entre o corpo da gestão. No que concerne aos estudantes, as escolas se guiam pelos princípios que já orientam muitas de suas práticas individuais: sair do prédio físico das instituições, caminhar pelo bairro e espremer da urbe seu potencial de encontro e aprendizado.
É também no sábado (19) que será entregue ao território um Mapa do Território Educativo das Travessias, que conta com poesias e ilustrações os locais que fazem este território um lugar de encontro e aprendizado.
O desejo de ocupar as ruas próximas gerou cortejos em que escolas participam da programação preparada por suas parceiras, como relata a diretora:
“O Cortejo da Paz, caminhada de julho inspirada na ação de mesmo nome que acontece em Heliópolis, é a Patrícia Galvão que tem chamado. Já o Cortejo do Boi, que acontece em agosto, é uma ideia precursora da Armando Arruda, que trabalha o folclore todo ano. Temos uma bicicloteca, que agora está conosco e logo irá para Gabriel Prestes”, conta a diretora, que também fala do desejo coletivo de criar um calendário unificado do território.
A gestão de educadores fortalece a parceria encontrando-se pelo menos uma vez por mês para discutir assuntos relacionados ao território, a comunidade ou questões da própria escola:
“Temos nos organizado para nos encontrar nas escolas, então revezamos. O rodízio é fundamental para a gente poder estar na casa do outro, conhecer a rotina, vivenciar o espaço. Também temos feito as JEIF [Jornada Especial Integral de Formação] de maneira coletiva.”
Quando crianças fazem a travessia e visitam escolas próximas, cruzando as ruas movimentadas do centro, há uma mudança na cidade: pessoas diminuem o passo, carros desaceleram suas rodas e a cidade se metamorfoseia em um espaço de convivência e encontro.
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“A cada travessia estreitamos relação com o bairro, pessoas e cidade. Claro que visitar os espaços culturais é importante, mas também os urbanos, as lojas, os shoppings, as praças, enfim, todos os lugares onde as pessoas transitam, trabalham, se encontram, se desencontram e propiciam oportunidades de aprendizagem e ampliação do repertório cultural das pessoas. Nossas travessias são potentes. Elas transformam a cidade e humanizam as relações”, defende Cláudia.
A construção dessa retomada da rua pelas crianças é feita com um pouco da experiência de cada uma das EMEIS, como relata Marco Antônio Ferreira, educador da EMEI Patrícia Galvão:
“Quando as escolas se socializam e conversam a respeito de seus processos, elas vencem obstáculos. Na Patrícia Galvão, sempre tivemos dificuldade em pensar em como sair com os alunos de metrô, por conta da idade da crianças. Mas construímos isso gradativamente, vencendo medos e nos espelhando nas saídas das escolas parceiras. Tanto que já conseguimos até organizar uma ida ao cinema”, conta orgulhoso.