publicado dia 20 de setembro de 2019
No Recife, Compaz combate violência com fortalecimento comunitário e cultura
Reportagem: Cecília Garcia
publicado dia 20 de setembro de 2019
Reportagem: Cecília Garcia
O 3º Prêmio Cidades Sustentáveis premiou nesta quinta-feira (19) a iniciativa recifense Compaz – Centro Comunitário da Paz – como melhor projeto de combate à desigualdade social no país. O reconhecimento, concedido pela Oxfam e pelo Programa Cidades Sustentáveis, foi entregue ao prefeito da cidade Geraldo Júlio, que afirmou que “o recifense conhece o Compaz, sabe que ele atende a crianças, a idosos e gera oportunidade para quem dificilmente tem oportunidades.”
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O Compaz é um equipamento que oferece serviços de cultura, cidadania e assistência gratuitos para populações de bairros periféricos de Recife (PE). Popularmente conhecidos como Fábricas de Cidadania, as duas unidades atendem mais de 30 mil usuários e têm como premissa o fortalecimento comunitário no combate à violência.
Sua criação foi largamente inspirada nas políticas de segurança urbana de Medellín, na Colômbia, que reduziu seus índices de violência com políticas integradas de cidadania, cultura e uma segurança orientada pela prevenção e cultura de paz.
Murilo Cavalcanti, secretário de Segurança Urbana do Recife, que visitou a cidade colombiana uma dezena de vezes, explica:
“Medellín é o maior laboratório de boas práticas urbanas da América Latina. Sua combinação de iniciativas inclui escolas públicas de altíssima qualidade, espaços de convivência cidadã e mobilidade urbana. O Compaz é um espaço onde se oferece grande parte dessas iniciativas que reverteram a escalada da violência. Ele foi inspirado em várias lições de Medellín, entre elas ‘o melhor para os mais pobres’.”
Com dois centros funcionando – um em Cordeiro (Zona Oeste) e outro em Alto Santa Terezinha (Zona Norte) – e a previsão de abertura de mais três, o secretário ressalta que antes da construção de cada um dos equipamentos, a população local foi consultada para que se entendesse quais serviços seriam mais necessários no território.
“Nenhum tijolo, nenhuma ação, nenhum programa foi colocado em ação no Compaz sem discutir com a população atendida. Uma parte do capital humano do Compaz é a própria comunidade. Isso gera sentimento de pertencimento, compromisso com o equipamento e transformação. Conquistamos um sentimento fundamental: a confiança. Quando a população é chamada a discutir e implantar um modelo inovador, que ela própria é a grande beneficiária, esse modelo gera confiança e, consequentemente, uma relação de proximidade.”
No primeiro Compaz, construído no bairro de Alto Santa Terezinha, o destaque fica por conta de um espaço de 235m² que oferece diversas modalidades de artes marciais, como capoeira, jiu-jitsu e aikido. No segundo, a larga biblioteca Jornalista Carlos Percol oferece atividades que resgatam a cidadania da juventude, como contação de histórias, brincadeiras populares e rodas de diálogo que promovem a diversidade.
Os números da violência no Recife, como em qualquer outra grande cidade brasileira, são altos. A capital pernambucana é a 7ª cidade mais violenta do Brasil, segundo o Atlas da Violência publicado em 2019.
Ainda assim, os bairros no raio de um quilômetro dos Compaz apresentam uma redução significativa de violência, de acordo com Dados da Secretaria de Defesa Social de Pernambuco (SDS/PE). No bairro de Cordeiro, próximo ao Compaz Ariano Suassuna, o índice de Crimes Violentos Letais Intencionais caiu 35% de 2017 para 2018. No Compaz Eduardo Campos a redução foi de 22% de 2016 para 2017. O bairro do Alto Santa Terezinha, onde este Compaz está localizado, não registrou nenhum homicídio em 2018.
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A redução, para Murilo, tem a ver com a integralidade de ações da pasta de segurança urbana, que escolheu combater à violência pela cultura de paz e pela intersetorialidade.
“No Compaz, nove secretarias e dois órgãos municipais atuam em conjunto para levar cidadania, cultura de paz, mediação de conflito, profissionalização de jovens, lazer e esportes para os que mais precisam. A Secretaria de Segurança Urbana atua com a Secretaria da Mulher, do Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, entre outras.”
No que Murilo considera como um “laboratório de boas práticas”, as bibliotecas assumem um papel central como estrutura congregadora de serviços. Comandadas pela pasta de Segurança Urbana, o ambiente de livros e de atividades culturais oferece novas perspectivas para uma população acostumada a presença do Estado somente enquanto força policial.
“Nosso conceito de biblioteca é diferente do comum, do usual. Nossas bibliotecas são vivas e pulsantes. Oferecemos várias atividades para os mais diversos públicos, da primeira infância como Engatinhando na Leitura até o Dedo de Prosa para idosos. As bibliotecas são uma efetiva ferramenta de atuação junto às crianças, jovens e adultos.”