publicado dia 22 de abril de 2019
Indígenas criam enciclopédia de plantas medicinais para novas gerações
Reportagem: Redação
publicado dia 22 de abril de 2019
Reportagem: Redação
*Matéria publicada originalmente no site da Fundação Telefônica Vivo.
A morte de um importante líder dos Matsés, indígenas que vivem na Amazônia, entre o Peru e o Brasil, foi o sinal de alerta para um problema que, infelizmente, faz parte da história de várias tribos: o desaparecimento de todo o conhecimento que as populações das florestas produziram ao longo de milênios.
O xamã morreu sem passar os seus ensinamentos aos mais novos. Para impedir que informações preciosas se perdessem no tempo, o grupo indígena, com auxílio da ONG Acaté, criou uma das primeiras enciclopédias no mundo que consolida o conhecimento dos xamãs da tribo para mantê-lo vivos às próximas gerações.
A Enciclopédia Matsés de Medicina Tradicional reúne mais de 500 páginas que falam sobre doenças, procedimentos e plantas da floresta amazônica que fazem parte da cultura da tribo desde sempre.
A partir dos relatos orais de um grupo de cinco xamãs, jovens matsés passaram a escrever práticas, fotografar as plantas e consolidar e categorizar o conhecimento tradicional, tudo em sua língua tradicional para coibir a biopirataria ou a exploração por parte de terceiros.
Os Matsés são estimados em cerca de 2 mil pessoas que vivem na bacia do rio Javari na Amazônia. Os primeiros contatos com não-indígenas ocorreram, segundo o Instituto Socioambiental, no ciclo da borracha, entre 1870 e 1920. Posteriormente, a atividade madeireira e o comércio de carnes e peles de animais também forçaram a convivência com os Matsés.
Ao contrário dos mais jovens, durante essas intervenções os mais velhos não se submeteram às influências externas e mantiveram a sua cultura.
“A influência externa acabou levando muitos dos Matsés mais novos a perder o interesse e até sentir vergonha de sua cultura”, disse Christopher Herndon, presidente e cofundador do Acaté, ao site Motherboard.
O desinteresse inicial dos mais jovens em relação à documentação do conhecimento da tribo mudou após encontros nos quais os mais velhos puderam mostrar o legado de luta e a importância de manter vivos seus ensinamentos.
Herndon afirmou ao Mongabay que o destino e a cultura dos povos indígenas estão ligados ao futuro de onde habitam. “Protegendo suas florestas e fortalecendo sua cultura, estamos protegendo a saúde deles de um futuro destruído por diabetes, má nutrição, depressão e alcoolismo”.
Segundo ele, a enciclopédia é um primeiro passo para criar uma ponte entre gerações, antes que seja tarde. “A iniciativa renova o respeito pela sabedoria dos mais velhos e faz a floresta voltar a ser um lugar de cura e aprendizado”.
*Todas as imagens são cortesia do Acaté Amazon Conservation