publicado dia 30 de outubro de 2018
Mostratec 2018: projetos científicos têm como base riquezas ambientais e saberes do território
Reportagem: Cecília Garcia
publicado dia 30 de outubro de 2018
Reportagem: Cecília Garcia
As residências de Casa Nova, cidade localizada no sertão baiano, sempre tiveram a cor cinza do cimento que as sustenta. Mas este ano, começaram a se colorir: três estudantes do Centro Educacional Antonio Honorato descobriram como usar o solo vermelho da região para criar uma tinta ecológica de baixo custo.
A Mostratec 2018 aconteceu em Nova Hamburgo (RS) dos dias 23 a 25 de outubro. Alunos da Educação Infantil, Ensino Fundamental, Médio e Técnico de 27 estados brasileiros e 22 países apresentaram trabalhos em áreas como Tecnologia, História, Identidade, Engenharia, Biologia e Robótica. Confira as reportagens:
Mostratec 2018: com pesquisas inovadoras, estudantes olham para o território e suas culturas
Crianças e jovens discutem política e cidadania na Mostratec 2018.
Este é apenas um dos muitos projetos que participaram da Mostratec 2018, maior feira de ciências e tecnologia da América Latina. Entre os 755 projetos nacionais e internacionais que compuseram a feira, se destacaram nos estandes ideias que faziam uso da ciência e tecnologia, combinando as potências locais com disciplinas como Biologia, Química e Física. Era também notória a participação massiva de jovens mulheres cientistas que tocavam projetos dos mais variados temas.
Foi durante uma aula de Química do Centro Educacional Antonio Honorato, em Casa Nova (Bahia) que os jovens Letícia de Carvalho, Danilo da Silva e Anderson Ribeiro tiveram a ideia de voltar seus olhos para o território e usá-lo como substrato para a elaboração de um projeto científico.
A região onde moram está umbigada no sertão baiano e, ao caminhar e reconhecer a riqueza geológica da localidade, os estudantes se deram conta que o barro, material orgânico abundante, podia ser convertido em uma tinta de fácil fabricação.
Deu-se início então o projeto “Produção de Tintas Ecológicas à Base de Barro Colorido do Sertão”. Além de renovar o aspecto do patrimônio das comunidades sertanejas, o projeto também visava criar uma nova fonte de renda para seus moradores. “Na Bahia, existem lugares muito precisados, e queríamos ajudar essas pessoas de alguma forma. Começamos a aplicar o projeto, mostrando como se fazia a tinta, primeiro na nossa comunidade, e depois fomos para o interior. Hoje, as casas estão muito mais convidativas ”, relatou Letícia.
A feitura simples e a abundância da matéria-prima maximizam o alcance do negócio social, como Danilo deixa claro ao detalhar o processo: “É só pegar a cola e uma quantidade de água dez vezes maior, e colocar barro até formar uma mistura homogênea. Dá para fazer a textura mais rústica, ou menos, dependendo da peneira onde se passa o barro”. Outra vantagem da tinta é também seu impacto menor no meio ambiente – ela é 80% menos agressiva que as convencionais.
Por sua vez, as mãos das mulheres de Padilha, comunidade no interior gaúcho, cheiram a boldo, camomila, capim-cidreira e poejo. É dessas ervas, amassadas em pilares e fervidas em água, que emana a cura para diversos males da população local.
As estudantes Nicole Francine Peters, Leonarda Manuel Peters e Larissa Pires são descendentes dessas mulheres e criaram o projeto “Estudo etnobotânico de plantas medicinais da comunidade de Padilha (Taquara-RS)”. Ele consiste em um mapeamento sensível dessas plantas, feito a partir da coleta de informações com as detentoras desse conhecimento local.
“O nosso trabalho influencia pessoas a não abandonarem as plantas medicinais e conhecerem melhor seu uso”, contou Nicole. Para traçar o inventário de plantas, elas recorreram primeiro à família, conversando com tias e avós que há muitos anos utilizam o chá não só na cura mas também na prevenção de doenças. Só então cruzaram as informações com uma bibliografia científica.
As perambulações pela mata curativa e as conversas com a comunidade revelaram às meninas uma diversidade botânica muito maior do que pressupunham: “A planta medicinal, na maioria das vezes, tem menos contraindicações que um remédio. Esse trabalho nos permitiu aprofundar e ajudar a criar um catálogo para que as pessoas possam recorrer às plantas com sabedoria”, concluiu Leonarda.
O Peru é conhecido como um dos países com maior biodiversidade da América Latina. A cidade de Otuzco, miúda entre as montanhas escarpadas, é de onde vieram as estudantes Jéssica Vanessa Valderrama, Andrea Daylight e Moya Mantilla, que queriam criar um plano de conscientização ambiental que extrapolasse os muros da escola.
O projeto “Replicar”, idealizado pelas três estudantes, é uma estratégia que fomenta a educação ambiental, trazendo como disseminadoras as famílias: “Utilizamos os princípios de reutilização e redução de consumo, desejando refazer a velha aliança entre família e natureza, tendo como ponto de partida o lar”, explicou Jéssica.
Juntamente e para cada uma das 20 famílias modelos, eles construíram macetas, composteiras pequenas feitas de materiais comuns como balde e garrafas plásticas. “Instalamos as macetas aproveitando o máximo dos espaços de uma casa, como os corredores e os quintais”, relembrou Andrea. Foi também conversando com todos os membros dos núcleos familiares que as jovens alertaram para a necessidade de se reutilizar lixo e economizar água.
Os resultados foram promissores: houve redução de 53% nos resíduos sólidos e de 20% no consumo de água das 20 famílias. A esperança das jovens é, como o próprio nome do projeto sugere, replicar esses resultados em outros lares da cidade, fazendo com que a comunidade citadina assuma o compromisso com o meio ambiente.
Jovens Gabriel Moraes da Silva, Iasmin Saldanha e Vinicius Ramón dos Santos representaram o projeto de robótica Maker da Unisinos (RS).
Projeto TherMa, das estudantes Nicole Maciel Gomes e Isadora Soares, cria uma acessível análise termográfica de mama para prevenção do câncer.
Estudantes da Indonésia, Tasya Regita e Lintang Perwitasari criaram um detergente a partir de óleo de cozinha usado.
*A repórter participou da Mostratec a convite da Fundação Liberato