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publicado dia 31 de agosto de 2016

Em números, Mapa da Desigualdade mostra as diferentes cidades que existem em uma só

Reportagem:

Há cerca de doze anos, um clique condensou em imagem uma das questões mais avassaladoras que perpassa a história do Brasil: a desigualdade social. Realizada pelo fotógrafo Tuca Vieira, a foto do prédio de luxo no Morumbi – onde em cada varanda há uma piscina – contrasta diametralmente com a comunidade de Paraisópolis, uma das maiores favelas de São Paulo. Icônica e ainda atual, a imagem rodou o mundo e foi exposta em diversas ocasiões.

O enorme muro que separa as duas realidades, tão próximas e distintas, sintetiza a forma como grande parte das autoridades públicas e sociedade civil encaram este problema: tratando de escondê-lo.

Baseado em dados econômicos e sociais, o levantamento revela os melhores e piores indicadores que existem em cada um dos 96 distritos da metrópole.

É com a intenção de evidenciar essa realidade que a Rede Nossa São Paulo, organização de diversas entidades da sociedade civil paulistana, divulgou nesta quarta-feira (31/8) mais uma edição do Mapa da Desigualdade de São Paulo. Baseado em dados econômicos e sociais, o levantamento revela os melhores e piores indicadores que existem em cada um dos 96 distritos da metrópole. 

Fundador da Rede, Oded Grajew lembrou que cada um desses distritos possui cerca de 120 mil habitantes, o que os tornam maiores que muitas cidades brasileiras. “Para combater e zerar a desigualdade é preciso visibilizá-la, de forma que as pessoas conheçam o seu tamanho e onde ela se expressa mais fortemente. O Mapa tem essa função”, aponta Grajew.

Para cada um dos dez indicadores avaliados, entre eles Cultura, Educação e Meio Ambiente, o estudo aponta a diferença que existe entre o melhor e o pior distrito – o que a Rede Nossa São Paulo chama de “desigualtômetro”.

Para Katia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil, a desigualdade não está sendo enfrentada com a urgência que ela demanda. “Esses números provocam a reação de que algo deve ser feito. A Calculadora da Desigualdade é uma forma simplificada de falar do tema com as pessoas.”

Por exemplo, o índice de homicídios de jovens de 15 a 29 anos do sexo masculino é de 10,44 por 10 mil habitantes no distrito do Campo Limpo, na zona sul da capital. Já na Vila Mariana, o indicador para esse tipo de crime é de 0,642 – registrando uma diferença de 16,26 vezes. Em resumo, o risco de um jovem ser vítima de homicídio no Campo Limpo é 16 vezes maior do que na Vila Mariana. Em relação aos homicídios em geral, o pior distrito é o de Marsilac, no extremo sul, com 4,95 óbitos por 10 mil habitantes. O melhor indicador é o de Moema, que registra índice de 0,114 – o desigualtômetro entre os dois distritos situa-se em 43 vezes.

No que se refere à quantidade de área verde por habitante, este índice é 341 metros quadrados na região de Parelheiros, enquanto na Cidade Ademar cada morador dispõe apenas de 0,773 metro quadrado. Nesse caso, o desigualtômetro fica em 441 vezes.

Os indicadores de Cultura também mostram como a desigualdade está instalada na cidade. A Unesco recomenda que as bibliotecas públicas tenham uma quantidade de pelo menos dois livros infanto juvenis por pessoa. Na Consolação, região central da cidade, este número está muito acima da média: 5,27. Quando se vai para os extremos de São Paulo, como o Campo Limpo, este número cai para 0,002 livros infanto juvenis per capita. Este desigualtômetro está em 2734 vezes.

“Em Bogotá, capital da Colômbia, um dos programas para reduzir a violência era espalhar bibliotecas de alto nível pelo município, oferecendo para a juventude outras oportunidades de formação para além da escola”, observa Grajew.

Baseado em dados econômicos e sociais, o levantamento revela os melhores e piores indicadores que existem em cada um dos 96 distritos da metrópole.
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O Mapa da Desigualdade ainda constata que São Paulo registra índice zero para diversos equipamentos e serviços públicos. Entre os 96 distritos da cidade, 36 têm zero de acervo de livros para adultos e 60 possuem o mesmo índice de centros culturais e espaços de cultura. Outros 58 não possuem cinema, 57 não possuem museus e em 51 não existem teatros.

“É preciso direcionar as políticas públicas para os distritos que mais aparecem entre os piores. Quando olhamos os indicadores de alguns distritos, percebemos que São Paulo conseguiu ter indicadores de excelência, mas porque não conseguimos espalhar estes números para toda a cidade?”, pergunta Grajew. “É possível fazer isso, mas é uma questão de prioridade e vontade politica. A desigualdade é o ovo da serpente dos problemas de São Paulo, e os piores distritos do Mapa são normalmente onde a população tem pouca forca política e não participa do financiamento de campanhas.”

Veja aqui os resultados do Mapa da Desigualdade de 2016.

Candidatos presentes

O evento convidou candidatos à prefeitura da capital paulista para divulgarem suas propostas de combate à desigualdade. Apenas o vereador Ricardo Young, da Rede Sustentabilidade, compareceu. Fernando Haddad (PT), João Dória (PSDB) e Celso Russomano (PRB) enviaram representantes.

“É preciso atualizar a gestão pública para uma sociedade que se relaciona em rede”, argumenta Young. “Ela está cada vez mais obsoleta em uma cidade cada vez mais inquieta. Temos um conjunto enome de recursos na sociedade que sequer é mapeado. As pessoas odeiam os políticos e o governo porque eles se descolaram da sociedade. Defendo uma gestão que governe com as pessoas e se conecte com a vitalidade da sociedade.”

Já para o deputado federal Bruno Covas, que representou a candidatura de João Dória, a enorme desigualdade entre os distritos pode ser explicada pelo processo caótico de urbanização da cidade. “Priorizaremos a geração de emprego e renda da população como um vetor da redução de desigualdade, qualificando cada um de seus distritos para gerar inclusão social, produtiva e digital em São Paulo.”

Jilmar Tatto, representando o atual prefeito, afirmou que, em uma possível reeleição de Haddad, um terço dos recursos previstos no orçamento será destinado à educação, priorizando os distritos onde a desigualdade está mais exposta. “É preciso criar oportunidades para as pessoas, e isso só se faz através da educação.”

Baseado em dados econômicos e sociais, o levantamento revela os melhores e piores indicadores que existem em cada um dos 96 distritos da metrópole.
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Balanço do Plano de Metas

Foi apresentado também um balanço sobre o Plano de Metas 2013-2016 da prefeitura paulistana. Por uma iniciativa da Rede Nossa São Paulo, a capital paulista foi a primeira cidade do Brasil a aprovar uma emenda que obriga os prefeitos a protocolarem um programa de metas quantitativas e qualitativas para cada área da administração municipal.

Aprovada em fevereiro de 2008, a Lei do Plano de Metas de São Paulo determina que todo prefeito, eleito ou reeleito, apresentará o Programa de Metas de sua gestão em até noventa dias após sua posse.

O evento contou ainda com a apresentação do site 32xSP, portal de notícias sobre o que acontece em todas as subprefeituras da cidade. Fruto de uma parceria da Rede com a Agência Mural de Jornalismo das Periferias, o site pretende funcionar como canal de comunicação e interlocução entre cidadão e serviços públicos.

Passados 44 meses da posse de Fernando Haddad – ou 92% do tempo total de governo -, 19 metas estabelecidas em 2013 foram superadas e 42 foram concluídas, totalizando 61 metas cumpridas em um total de 123 (quase 50%).

“É fundamental que haja um plano de continuidade, proporcionando uma gestão com maior controle social e transparência, implementando uma prática sistemática de execução do planejamento, onde a sociedade pode acompanhar e pedir a continuidade de políticas que estavam dando certo”, acredita Maurício Broinizi, coordenador executivo da Rede.

Para o secretário-adjunto de Governo, Weber Sutti, ainda serão realizados avanços e entregas nos quatro meses finais da gestão. “A expectativa é ter, em dezembro, 74 metas concluídas e 17 que superarão os 90% de execução”, aponta. “O programa de metas é fundamental pois permite o acompanhamento contínuo da gestão pública. Acima de tudo, necessitamos aprimorar o acompanhamento para enxergar onde estão os nós e entraves para as políticas públicas.”

Confira o balanço do Plano de Metas 2013-2016 de São Paulo.

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