publicado dia 18 de julho de 2016
Estudantes pernambucanos usam cartas para imaginar uma cidade para crianças
Reportagem: Redação
publicado dia 18 de julho de 2016
Reportagem: Redação
*Publicado originalmente no site Child in the city, com tradução do Portal Aprendiz
Para efetivar o direito à participação social das crianças, é necessário que se reconheça que suas visões de mundo são bases legítimas para o planejamento urbano. Considerando isso, como é possível planejar o desenvolvimento de nossas cidades na direção de uma cidade amigável para crianças?
Em um estudo em andamento, crianças com 11 anos de idade da cidade de Recife (PE) escreveram cartas sobre o que eles consideram uma cidade amigável para a infância. As cartas eram endereçadas para aqueles que as crianças julgavam serem responsáveis pela cidade e trazem em si uma forte sensibilidade política. Confira alguns dos trechos:
Sujeitos complexos
As crianças são agentes que assumem múltiplas posições, revelando a complexidade de sua experiência urbana e as especificidades de sua percepção única. Pais, amigos, outros adultos e instituições são implicadas em suas preocupações sobre os problemas da cidade. Vinny, por exemplo, escreveu que “uma cidade para crianças é uma cidade que demonstra na prática o que a criança aprendeu na escola, como não jogar lixo na rua, que é algo que as pessoas adultas fazem conforme envelhecem”.
Na carta de Leonardo para sua mãe, Lucy, ele escreve: “uma cidade amigável para as crianças precisa de pessoas como você (boas, educadas, respeitosas e amorosas). Precisamos fazer uma campanha: ‘Mais Lucy na cidade’. Talvez aí Recife comece a ser uma cidade para crianças”.
A pesquisa, coordenada por Adriana Cordeiro e Sérgio Benício, professores do Grupo de Pesquisa de Estudos Urbanos e de Políticas de Mobilidade da Universidade Federal de Pernambuco (MOBIS/UFPE), pretende contribuir para o conhecimento dos contextos políticos que envolvem as vidas e rotinas de nossas crianças, promover novas experiências educativas e construir uma compreensão crítica do planejamento urbano.
As crianças mostraram muitas queixas sobre violência, corrupção, inflação, preconceito, poluição, trânsito e culparam diversos atores por esses problemas. Em suas cartas, elas exigem saúde, moradia e educação de qualidade para todos e todas, assim como honestidade do governo e da população adulta no geral.
“Muitas vezes eu penso sobre como é possível que uma cidade tão linda tenha tanta violência. Algumas pessoas nem saem de casa por medo”, escreveu Letícia. “Eu queria uma cidade onde as pessoas não bebem e dirigem e não ficam irritadas porque seu time de futebol perdeu, onde não há pessoas sem teto e onde as escolas privadas não são melhores que as públicas”, propôs Miriam.
O estudo também mostrou que, além de comer sorvete e querer comprar brinquedos, as crianças também querem poder brincar ao ar livre em um ambiente limpo, seguro e agradável. Eles projetam uma cidade para crianças como um local onde se pode brincar na rua sem se preocupar com os carros ou com a violência. Nessa cidade ideal, com menos automóveis, “as crianças podem brincar na rua ao invés de usar o computador e o celular”, acredita Arthur.