publicado dia 11 de dezembro de 2015
Livro traz guia de educação ao ar livre e discute relação entre criança e natureza
Reportagem: Clipping
publicado dia 11 de dezembro de 2015
Reportagem: Clipping
Por Ana Luiza Basílio, do Centro de Referências em Educação Integral
Como considerar as vivências com a natureza ou em espaços ao ar livre no processo de desenvolvimento dos indivíduos? A ambientalista Rita Mendonça pretende contribuir com essa questão a partir do livro digital “Atividades em Áreas Naturais”, lançado recentemente pelo Instituto Ecofuturo, com apoio da Valmet Corporation.
Na obra, a especialista reúne uma série reflexões sobre o uso desses espaços e também sugestões de atividades pensadas, segundo a autora, para os diversos níveis de proximidade que os educadores têm com a natureza. Para Rita, educador é ”todo adulto que ensina por suas atitudes”. Assim, todos, professores ou não, têm o papel de ensinar aos pequenos uma maneira saudável de interagir com o meio que nos circunda.
Percurso em construção
Para a autora, o livro traz uma mensagem importante nas entrelinhas: “um trabalho com a percepção de que os problemas ambientais que vivemos, em algum aspecto, têm a ver com o afastamento das pessoas da natureza”. No entanto, ela descarta uma abordagem romântica ao tema.
A obra discorre sobre como nossa relação pode ser iniciada quando crianças. Uma das defesas é que o contato com os espaços naturais partam de visitas “sensitivas” e reflexivas já que esses momentos, na análise da autora, podem valer mais as percepções e os sentimentos do que as visitas técnicas ou científicas. “Sem encantamento o conhecimento não nos afeta de verdade”, coloca a autora em uma das passagens do livro.
Em áreas naturais elas [as crianças] têm a oportunidade de trabalhar o equilíbrio em solos irregulares, subir em árvores, aprender sobre suas habilidades e limites.
Suas reflexões também passam pelo entendimento do fato de que somos seres biológicos, antes do cultural intervir, o que também faz com que Rita defenda o contato do corpo com os ambientes naturais como benéfico ao desenvolvimento integral dos estudantes. “Não é preciso muito esforço para conduzir uma pessoa ou um grupo a esses locais e verificar como são capazes de ampliar o horizonte, a consciência e, por vezes, refazer ou redirecionar caminhos no sentido da autorrealização, condição para um desenvolvimento mais amplo”, avalia.
Por essa razão, o livro estimula a saída das crianças das salas de aula e também das escolas para uma exploração do território. A ambientalista reforça a necessidade dos estudantes terem assegurado esse momento de contato com a natureza. Como exemplo, cita que as crianças devem ter horários livres para brincadeiras ao ar livre; os adolescentes podem ser encorajados a viver situações de acampamento ou fazer outras explorações.
Esse contato também se relaciona com o desenvolvimento físicos das pessoas, como avalia: “em áreas naturais elas têm a oportunidade de trabalhar o equilíbrio em solos irregulares, subir em árvores, aprender sobre suas habilidades e limites”. Em seu entendimento, esse processo também é visto como positivo e necessário aos professores, uma vez que possibilita que se coloquem diante dos alunos em outro ambiente que não o usual da sala de aula.
No entanto, a autora faz um alerta: “a natureza não é sala de aula”, ou seja, não basta apenas levar os estudantes para fora, mas, além disso, propor atividades educativas coerentes naquele espaço, considerando as potencialidades que as características locais oferecem.
“As crianças são a natureza tornando-se humana.”
A interação com espaços naturais deve ser defendida como um direito dos sujeitos em formação, como coloca em uma das passagens da obra: “As crianças são a natureza tornando-se humana. É importante que elas tenham o direito à convivência com os outros seres vivos com os quais elas sentem grande proximidade. As vivências com a natureza devem, nesse sentido, conservar o vínculo que as crianças já têm, conservando assim sua essência, e são uma forte aliada da educação do ser humano integral”.
Como criar um plano de aprendizado sequencial
Para promover atividades em áreas naturais, a ambientalista faz uso de uma metodologia norte-americana Flow Learning (Aprendizado Sequencial, em português). No Brasil, ela é desdobrada pelo Instituto Romã, instituição da qual Rita é uma das fundadoras, e tem como missão promover o desenvolvimento humano a partir da experiência e do diálogo com a natureza.
No livro, a autora reúne algumas recomendações para que esse trabalho seja efetivo:
Aprendizado Sequencial
– ensine menos e compartilhe mais;
– seja receptivo;
– concentre a atenção das pessoas:
– observe e sinta primeiro, fale depois;
– crie um ambiente leve, alegre e receptivo;
– trabalhe com a natureza e não para ela.