publicado dia 19 de setembro de 2015
Virada Educação desperta vocação educadora do centro de São Paulo
Reportagem: Redação
publicado dia 19 de setembro de 2015
Reportagem: Redação
Engana-se quem acredita que o centro de São Paulo é apenas um local de passagem. Neste sábado de calor, a Virada Educação reuniu crianças, adolescentes, pais, mães, educadores e ativistas para convocar a cidade a cumprir sua vocação educadora. No dia em que Paulo Freire completaria 94 anos, dezenas de atividades, oficinas, diálogos e debates ocuparam escolas, bibliotecas, praças e ruas, transformando o centro da capital paulista em um território educativo.
Logo pela manhã, o debate “Como as crianças e adolescentes transformam o mundo” apresentou o River Side School, uma escola que busca empoderar as crianças para que sejam agentes de mudança em suas comunidades. Kiran Bir Sethi afirmou que não há qualquer discrepância entre desempenho acadêmico e engajamento comunitário. “Quando me perguntam se minha educação não é alternativa demais, eu digo que a educação tradicional é que é alternativa. Alternativa ao aprendizado”, provocou.
A EMEI Gabriel Prestes, conhecida por ocupar as ruas do entorno com cortejos e intervenções das crianças que ali estudam, trabalhou durante meses na preparação do evento. Ainda na noite de sexta-feira, em parceria com o Teatro Oficina, realizou o “Laboratório de Arte Dramática”, envolvendo atores, músicos, educadores e estudantes.
No sábado, a instituição de ensino recebeu Renata Meirelles, diretora do filme “Território do Brincar” e Natacha Costa, diretora executiva da Associação Cidade Escola Aprendiz, para uma roda de conversa sobre a importância da cultura do brincar para o desenvolvimento das crianças. Mediada pela coordenadora pedagógica da escola, Naime Silva, a discussão contemplou os desafios que as famílias, escolas e cidades enfrentam para constituírem-se como espaços menos hostis às crianças.
No âmbito da família, Renata ressaltou a importância do tempo ocioso para que as crianças possam se expressar livremente. Acostumadas a “preencher” a vida de meninos e meninas com atividades orientadas, pais e mães precisam entender, segundo com a pesquisadora , que “o mais belo e potente” da infância emerge quando as crianças têm liberdade.
Já a escola, apontaram, sofrem com a falta de escuta para as necessidades e desejos dos pequenos. “É preciso criar dinâmicas nas quais os estudantes sejam protagonistas do seu aprendizado”, afirmou Naime. Em relação à cidade, Natacha destacou que “é preciso recuperar as ruas como espaço de convivência, revelando que a ideia de uma Cidade Educadora é possível”.
Entre as escolas engajadas na proposta, a Armando Arruda Pereira, localizada na Praça da República, esteve aberta o dia todo para a comunidade. Para Ana Lucia Rosa, mãe de Henrique, 4 anos, estudante da Armando, quando a escola abre no fim de semana traz mais vida para o bairro. “E eu me sinto mais segura para estar com ele na cidade. Acho que isso devia acontecer sempre.
A EMEI Patrícia Galvão compôs o grupo de escolas abertas à Virada Educação. Com oficinas de instrumentos musicais e brinquedos, a instituição recebeu pais e mães para dar continuidade ao trabalho pedagógico que desenvolveram no semestre. Em uma das salas da escola, o compositor Heitor Villa-Lobos e sua obra foram retratados através do trabalho dos alunos da educação infantil.
Virada no Bixiga
Pela primeira vez, a Virada Educação ocupou as ruas do bairro do Bixiga. Com o envolvimento de escolas, ONG’s e centros culturais, o Coletivo Saracura Erê, em parceria com o Movimento Entusiasmo, incluiu o bairro no roteiro de aprendizagens pela cidade. Cerca de 160 pessoas participaram das mais de 40 atividades, em especial crianças, pais e moradores de rua.
Na EE Caetano de Campos, o coletivo Escala Humana, que discute a “caminhabilidade” das cidades, perguntava ao público “Como gerar interação entre pessoas e cidade através dos postes?”. Um outro painel questionava o que as crianças e adolescentes gostariam de aprender nas escolas.
Como marca definitiva deste processo, e da união entre escola e cidade, a Praça Roosevelt foi neste dia batizada de Espaço Paulo Freire, lembrando o educador que sempre conclamou estudantes e professores a se tornarem íntimos de suas realidades. Uma exposição com a vida e ensinamentos de Freire foi pendurada nos postes da praça, que recebeu também uma aula pública sobre sua vida. No fim de tarde, um cortejo-festa de maracatu comemorou o aniversário do pernambucano.
A Cidade Educadora é a expressão de uma intencionalidade para o espaço urbano. Embora São Paulo seja uma metrópole repleta de adversidades, a Virada Educação e os movimentos que daí se desdobram são a prova de que é possível conviver e aprender de novas formas.