publicado dia 1 de setembro de 2015
Com enfoque em territórios educativos, Virada Sustentável debate o futuro das cidades
Reportagem: Danilo Mekari
publicado dia 1 de setembro de 2015
Reportagem: Danilo Mekari
Ao ouvir a exposição dos demais palestrantes que participaram do debate Inovações Urbanas e Desafios para o Futuro, a argentina Carolina Balparda, diretora-geral de Programas Educativos da Prefeitura de Rosário, expressou em palavras a sensação de harmonia que a tomava por inteiro. “O que nos une é o desejo de gerar cidades mais inclusivas, que vivam no ritmo e frequência de seus cidadãos.”
Realizado na última sexta-feira (28/8) no Centro Cultural São Paulo, o debate fez parte da programação da Virada Sustentável 2015, evento que promoveu mais de 700 atividades ligadas à sustentabilidade e terminou neste domingo (30/8). Também estiveram presentes o suíço Roman Gaus (Urban Farmers), Alejandro Castañae (Garimpo de Soluções), André Fraga (secretário da Cidade Sustentável de Salvador) e Josias Lech (assessor especial da Secretaria Municipal de Transportes de São Paulo).
O município de Rosário, capital da província de Santa Fé, foi um dos primeiros signatários da Carta das Cidades Educadoras, promovida pela Associação Internacional das Cidades Educadoras nos anos 1990. Hoje, possui um vasto número de projetos, programas e experiências que legitimam a escolha da cidade como a capital latinoamericana das Cidades Educadoras.
“Entendemos a cidade como um território de aprendizagem que vai além de sua extensão. Foi necessária uma perspectiva transversal nas politicas públicas – desenhando-as e construindo-as coletivamente – para que assumam uma vocação pedagógica e educadora”, retoma Carolina.
Em Rosário, valorizar o espaço público é mais do que uma prioridade da gestão municipal: é uma decisão política. Carolina reforça sua tese citando projetos que estimulam a ocupação da cidade por todas as idades e grupos sociais, como o Tríptico de la Infancia, que aliou natureza, ciência e diversão para transformar três espaços públicos antes pouco utilizados em lugares de convivência lúdica, constituindo assim um circuito fundamental do projeto pedagógico urbano.
“São espaços que promovem o jogo e a aprendizagem com uma disposição espacial poética, que permite várias formas de encontros e construção de vínculos. É uma ação social que vê na brincadeira uma maneira de estar no mundo”, explica Carolina.
A cidade promove ainda congressos que abrem espaço para crianças e jovens opinem e participem das decisões sobre o futuro de Rosário. Em busca de novos formatos para as múltiplas aprendizagens possíveis, a Escola Móvel circula pela região com educadores a bordo, proporcionando uma experiência diferente para a aprendizagem urbana.
Fazendeiros urbanos
Na Suíça, uma pergunta tirava o sono do empresário Roman Gaus: como vamos nos alimentar quando formos nove bilhões de pessoas no mundo? Projetando o dado de que no futuro as pessoas priorizarão ainda mais as cidades para viver (cerca de 80% da população mundial), o suíço decidiu levar uma parte da produção alimentícia que existe no campo para as zonas urbanas – principalmente verduras, legumes e frutas.
“Somos parte pequena do movimento de agricultura na cidade”, define Roman, que em 2011 lançou a Urban Farmers com o objetivo de suprir essa necessidade. Substituir piscinas nas coberturas dos prédios por plantações e aquários para a criação de peixes foi o primeiro passo do projeto.
Hoje, os produtos da Urban Farmers são reconhecidos pelo frescor e qualidade e vendidos em feiras, lojas e mercados. Um pequeno prédio com 250 m² de área construída funciona como sede e produz duas toneladas de peixe ao ano, além de seis toneladas de verduras e legumes. Segundo cálculos de Roman, se todos os telhados inutilizados da cidade de Basiléia fossem utilizados para a agricultura, 20% dos alimentos consumidos pela população local poderiam ser produzidos ali.
“É interessante ver como a ideia de cultivar alimentos no espaço urbano está ocorrendo em diversas cidades do mundo. Gostaria de ver a agricultura urbana não só como uma forma de cultivar alimentos, mas também como um meio para a revitalização do espaço urbano”, conclui.
Cidade Sustentável
Desde o início de 2013, Salvador possui uma Secretaria de Cidade Sustentável. Para o responsável pela pasta, André Fraga, o desafio de promover sustentabilidade em uma cidade pobre e desigual é ainda mais complexa. “Por exemplo: como conseguir arborizar uma cidade histórica, com ruas estreitas e calçadas curtas?”.
Um dos projetos de maior repercussão foi o fechamento da orla do Farol da Barra para a circulação de carros. “Ao dar a opção para as pessoas caminharem e se divertirem ali, a ideia funciona como um parque urbano”, diz. A criação de pontos de aluguel de bicicleta foi estimulada, assim como caiu a proibição de portá-las nos elevadores municipais.
O projeto Para-Praia colou rampas de acesso em todas as praias da orla e promoveu a ocupação do litoral soteropolitano por pessoas com deficiência física. No verão, profissionais qualificados usam cadeiras anfíbio para entrar no mar com deficientes. “Alguns estavam a 20 anos sem entrar no mar”, observa André.
Por último, o programa IPTU Verde incentiva empreendimentos residenciais, comercias, mistos ou institucionais a realizarem ações e práticas de sustentabilidade em suas construções, como reuso de água, oferecendo desconto direto no Imposto Predial e Territorial Urbano.
Direito à Cidade
Com a ideia de organizar e dar diretrizes e metas para os próximos 15 anos, o Plano Municipal de Mobilidade de São Paulo (PlanMob) deve ser lançado no final de setembro, durante a Semana da Mobilidade. “O documento ataca centralmente o aspecto de uma cidade baseada no automóvel individual, pois acreditamos que esse sistema está deteriorado”, aponta Josias Lech, assessor especial da Secretaria Municipal de Transportes.
Previsto tanto na Lei Federal 12.587 (2012) como no Plano Diretor da capital paulista, o centro das ações do PlanMob estará focado no transporte não motorizado. “Pedestre é prioridade, seguido de bicicleta, transporte público e coletivo, de carga e, por último, automóveis e motocicletas”, ressalta. “Chegaremos à humanização da cidade distanciando a pessoa do equipamento motor.”