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publicado dia 4 de março de 2015

Reintegração do Parque Augusta não tira força do movimento que ocupou o local

Reportagem:

Por volta das 9h30 da manhã desta quarta-feira (4/3), quatro ativistas desceram de uma centenária figueira – onde ficaram por uma hora – e, cercados pela Tropa de Choque, encerraram aquela que foi a primeira ocupação desde que o disputado espaço do Parque Augusta foi fechado.

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Desde 17 de janeiro, ativistas, artistas e cidadãos simpáticos a um futuro mais sustentável para a cidade realizam atividades culturais na área verde de 24 mil m² situada no cinzento coração de São Paulo. Quarenta e sete dias depois, porém, a Polícia Militar cumpriu a ordem de reintegração de posse feita pelo juiz Gustavo Coube de Carvalho, da 5ª Vara do Foro Central Cível.

Polícia chegou no local às 6h da manhã.
Polícia chegou no local às 6h da manhã.

De acordo com o advogado ativista Luiz Guilherme Ferreira, presente no momento, a desintegração foi pacífica, apesar da difícil negociação com a PM. “Apesar do gosto amargo e de todo mundo ter certeza que essa reintegração é ilegal, o sentimento era positivo”, comenta o advogado.

Às 3h da manhã, cerca de 300 pessoas faziam a vigília do Parque Augusta.
Às 3h da manhã, cerca de 300 pessoas faziam a vigília do Parque Augusta.

Veia política

Para tentar evitar o final policialesco, os manifestantes criaram a campanha “Desintegração de Posse”, que promoveu shows, oficinas, plantação de mudas e diversos tipos de encontro dentro do Parque Augusta. Na madrugada desta quarta-feira, cerca de cinco mil pessoas, segundo o Movimento Parque Augusta, se reuniram para uma noite de performances, rodas de samba, aula pública e festas. A PM chegou por volta de 5 horas da manhã.

Banquete veggie foi servido para quem madrugou por lá.
Banquete veggie foi servido para quem madrugou por lá.

Agora, o terreno será entregue às incorporadoras Cyrella e Setin, autorizadas a construir prédios residenciais, empresariais e hoteleiros na área – com a obrigação de manter edificações remanescentes do colégio Des Oiseaux e preservar a área verde.

Os manifestantes, contudo, prometem não deixar que isso aconteça. Logo após a reintegração, 300 pessoas caminharam da rua Augusta até a Prefeitura de São Paulo para protestar contra a decisão judicial e exigir o posicionamento do prefeito Fernando Haddad. A assessoria de imprensa do governo municipal afirmou que ele tinha outra agenda prevista para a manhã desta quarta-feira. O Viaduto do Chá foi fechado pelos manifestantes, que plantaram mudas de árvores no Anhangabaú.

CIneMata foi uma das atividades que ocuparam o espaço.
CIneMata foi uma das atividades que ocuparam o espaço.

Segundo Ferreira, o Organismo Parque Augusta já tem uma ação na Justiça que pede a reabertura dos portões. “O movimento foi bem consistente, teve bastante veia política. Nunca se discutiu tanto o parque”, opina. “Além disso, os 47 dias de autogestão foram um verdadeiro teste para os ativistas, proporcionando um lugar livre e horizontal. Sem dúvidas o movimento vai amadurecer bastante”.

Imagens criticando a reintegração circularam pela internet...
Imagens criticando a reintegração circularam pela internet…

Possibilidades

É bom lembrar que, no final de dezembro de 2013, Haddad sancionou a lei 15.041, que autoriza a Prefeitura a criar o Parque Municipal Augusta. À época, o poder público alegou falta de recursos para desistir da ideia – o terreno tem o valor estimado em R$ 70 milhões. Já em 27 de janeiro, o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental de São Paulo aprovou projeto para a construção dos prédios na área.

...assim como críticas às donas do terreno.
…assim como críticas às donas do terreno.

Mas não são apenas os manifestantes que estão fazendo coro para o Parque, em sua totalidade, ser finalmente entregue à população. O Ministério Público Estadual também pressiona a prefeitura para garantir que os R$ 63 milhões recebidos por uma ação de indenização por danos morais paga pelo banco alemão Deutsche Bank – que movimentou dinheiro desviado de obras públicas durante a gestão municipal de Paulo Maluf (1993-96) – seja utilizada para desapropriação e aquisição da área do Parque Augusta.

Circula na internet uma campanha que pede a desapropriação do Parque Augusta pela Prefeitura de São Paulo. Confira aqui.

Especialistas também garantem que a administração municipal pode obter a área sem gastar um tostão, tendo apenas que negociar com as empresas proprietárias do terreno a Transferência do Direito de Construir. Previsto em lei – tanto no Estatuto da Cidade como no Plano Diretor de São Paulo –, o instrumento permite que o dono do terreno receba títulos equivalentes aos metros quadrados que a propriedade possui em potencial de construção.

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