publicado dia 9 de dezembro de 2014
Domingo pode virar dia de passeio na Avenida Paulista
Reportagem: Danilo Mekari
publicado dia 9 de dezembro de 2014
Reportagem: Danilo Mekari
Em um momento propício e efervescente para a discussão sobre o futuro de São Paulo e de seus espaços públicos – como o desmonte ou a criação de um parque no Minhocão e a longa disputa pelo espaço do Parque Augusta –, um dos maiores cartões postais da cidade também entrou na baila das reivindicações populares por mais áreas de lazer e convivência cidadã: a Avenida Paulista.
Em parceria com a plataforma Minha Sampa, o coletivo SampaPé está realizando a campanha “Se a Paulista fosse nossa”, que pede o fechamento de um trecho da via aos domingos, das 7h às 16h, para livre circulação de pessoas. Um abaixo-assinado circula pela internet e, até agora, coletou 1.470 assinaturas.
“Além de ser um símbolo da cidade, a Avenida Paulista reúne artistas de rua, espaços culturais e turistas e é um lugar comum para todas as tribos de São Paulo. Portanto, nada melhor do que as pessoas terem mais espaço para se encontrar aos domingos”, acredita Letícia Sabino, do SampaPé.
Em 2004, a gestão de Marta Suplicy no governo municipal implantou o projeto “Domingo na Paulista”, que restringia a circulação de carros e liberava a via para o entretenimento da população. Segundo números da Polícia Militar, o evento chegou a atrair 25 mil pessoas para o cartão postal paulistano.
Mesmo com uma pesquisa DataFolha mostrando aprovação de 76% das pessoas, o sucessor de Marta, José Serra, interrompeu o projeto, alegando que ele “agradava a poucos, prejudicava muitos e agregava pouco à cidade”.
Desejo de convivência
De fato, a Avenida Paulista é a via mais movimentada de São Paulo – recebe em torno de 1,5 milhão de pedestres por dia – e é raro encontrar sequer um banco para tanta gente descansar ou uma praça para esse batalhão interagir. Para além das buzinas e do intenso tráfego de veículos motorizados, é comum os pedestres andarem a passos rápidos e largos para não perderem o semáforo verde nas inúmeras esquinas e cruzamentos da região.
“Não propiciamos o encontro na cidade. Temos muita demanda de espaço público e por isso acontecem conflitos nos poucos que temos, como na praça Roosevelt e no vão livre do MASP. É preciso desafogar o desejo das pessoas conviverem”, afirma Letícia.
Para defender a proposta, a ativista cita ainda benefícios de saúde ao estimular caminhadas e exercícios físicos e, principalmente, o “despertar da cidadania” em muitas pessoas. “Fechar a Paulista significa potencializar a vivência da cidade. Quem anda a pé se preocupa mais com a qualidade do espaço público”, argumenta. “É na rua que as pessoas encontram aquilo que é diferente.”
Apropriação do espaço
Para viabilizar a ideia, o coletivo procurou a Prefeitura de São Paulo e explicou a proposta. De acordo com Letícia, o tema tem sido deixado de lado, pois o poder público avalia que já foi grande a polêmica causada pela construção da ciclovia na avenida (a ser inaugurada no próximo dia 5/1).
Além disso, Prefeitura e Ministério Público firmaram um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) que limita o fechamento da via a três momentos: a Parada Gay, a corrida de São Silvestre e a festa de virada do ano. Qualquer outro evento que feche a avenida obriga o poder público a pagar uma multa ao MP.
“Pedimos para a Secretaria Municipal de Transportes (SMT) rever o acordo. Para ser viabilizada, a nossa proposta precisa de uma sinalização de desvio do tráfego de veículos; de resto, o espaço simplesmente seria liberado para as pessoas se apropriarem à vontade”, explica Letícia.
Brasília, Rio de Janeiro, Campinas, Sorocaba e Recife são exemplos de cidades que possuem grandes vias fechadas para a população se divertir aos domingos.
E eles não se restringem ao Brasil: na Cidade do México, uma avenida de 14 quilômetros fica liberada para pessoas, e Bogotá (Colômbia) totaliza 340 quilômetros de ruas fechadas aos domingos. “Isso muda a lógica da cidade, que normalmente vive em função do carro”, avalia Letícia.
Teste no aniversário de SP
O secretário dos Transportes de São Paulo, Jilmar Tatto, se mostrou favorável ao projeto. Ele concorda com a demanda do coletivo – priorizar o transporte não motorizado e, aos domingos, fechar algumas vias para realizar o convívio social –, mas sugere que a proposta seja levada para o Conselho Municipal de Transporte e Trânsito. “Quanto mais agentes esse debate envolver, mais chances da medida ficar para sempre”, diz Tatto.
Quando participou do Conselho, o coletivo SampaPé levou a proposta em aberto – inclusive pontuando os pontos negativos da ideia, como o acesso aos hospitais da região. Mas não houve retorno do órgão público. “Agora vamos levar a proposta para a Secretaria de Esportes, Lazer e Recreação. Se tudo der certo, pretendemos testar a viabilidade do projeto no dia 25/1, aniversário de 460 anos de São Paulo”, revela Letícia.
Por outro lado, Tatto afirma que a proposta precisa ser oficializada para que seja analisada tecnicamente pela SMT. “A ideia de não fechar a Paulista toda ajuda em um momento de avaliação. Temos que garantir a segurança de todos e, ao mesmo tempo, estudar alternativas para a circulação de ônibus e carros no local.”