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publicado dia 18 de novembro de 2014

Café Memória promove inclusão e convívio social para pessoas com Alzheimer

Reportagem:

Não é à toa que o café é uma das bebidas mais consumidas do mundo. Seu efeito estimulante ajuda a despertar, seu aroma dá prazer e o sabor do grão torrado, moído e coado no filtro é insubstituível. Para aumentar ainda mais a adoração por ele, pesquisadores da Universidade John Hopkins (EUA) descobriram, no início de 2014, que o consumo de duas xícaras por dia pode trazer benefícios para a memória.

Popular, a bebida também é a grande aliada de uma iniciativa que proporciona inclusão social e qualidade de vida à pacientes diagnosticados com a perda de memória.

Inspirado em projetos semelhantes de países como França, Estados Unidos e Inglaterra, o Café Memória de Portugal é dedicado a quem sofre de demência e Alzheimer e, ainda, aos seus cuidadores e familiares.

Encontros são realizados mensalmente.
Encontros são realizados mensalmente.

O espaço abriu as portas em abril de 2013 e funciona como um ponto de encontro mensal, onde os participantes compartilham experiências, interagem entre si e realizam atividades lúdicas e estimulantes. Reservado e protegido, o ambiente do Café Memória oferece suporte emocional e informações úteis aos doentes e seus familiares.

Segundo a neuropsicóloga e coordenadora da proposta, Catarina Alvarez, as sessões são procuradas por pessoas que sentem os efeitos do isolamento e do preconceito em seu cotidiano. “Temos uma missão dupla. Por um lado, queremos melhorar a qualidade de vida dessa parcela da população e, por outro, sensibilizar a comunidade perante este tema. Em Portugal, a demência é um estigma social”, observa Catarina.

Segundo dados da ABRAz (Associação Brasileira de Alzheimer), 1,2 milhões de pessoas tem a doença no país. No mundo, o número de casos chega a 35,6 milhões.

A maioria das vítimas da doença de Alzheimer são pessoas idosas – por isso, a enfermidade ficou erroneamente conhecida como esclerose ou caduquice. Ao acelerar a morte de células cerebrais, a doença causa perda de funções cognitivas (memória, orientação, atenção e linguagem). Apesar de ser incurável, o Alzheimer pode e deve ser tratado – quanto mais cedo foi diagnosticado, maiores as chances de obter controle sobre os sintomas.

Estigma social

Durante duas horas, os participantes do Café Memória se apresentam, contam suas histórias e se envolvem em atividades lúdicas que estimulam capacidades cognitivas como memória, raciocínio, linguagem e orientação. “Na última sessão fizemos uma das melhores atividades do Café Memória: um quiz musical. Tocávamos uma música e cada equipe tinha que descobrir o nome dela e quem a cantava. Foi um sucesso”, comemora.

O encontro também recebe convidados das mais diversas áreas que dialogam com a questão da memória, como neurologistas, enfermeiros, nutricionistas e até designers. O Café Memória, como não poderia deixar de ser, sempre termina com uma mesa de café da manhã disposta para incentivar o convívio dos participantes, cuidadores e parentes.

Catarina ressalta a participação de mais de cem voluntários no projeto. “Sem eles não conseguiríamos atingir nossos objetivos.” De acordo com a coordenadora, mais de 400 pessoas já frequentaram as sessões do Café Memória, tendo o número total de participações ultrapassado as mil.

Ao final dos encontros é servido um café da manhã para estimular o convívio e a troca de experiências.
Ao final dos encontros é servido um café da manhã para estimular o convívio e a troca de experiências.

Porta para o mundo

Ela acredita que o estigma social faz com que os familiares de quem sofre de Alzheimer se fechem em casa e só peçam ajuda quando a doença já está em etapa avançada. “É preciso mostrar que estamos abertos para conversar sobre este tema delicado”, aponta. “Percebemos que muitas pessoas saem mais leves de nosso encontro, com mais força para encarar o dia a dia. Elas sentem que não estão sozinhas, criam estratégias, conversam e falam sobre como lidam com seus problemas. Enfim, elas levam mais carinho, informação e capacidade para casa.”

Testemunho de um participante do Café Memória de Colombo – Lisboa (5/7/2014)

“Deu-me uma perspectiva diferente desta doença e o modo de lidar com as pessoas que a têm. Acho ótimo o próprio convívio nestas sessões e sinto falta quando não posso vir. Fiquei com outras bases, não só para mim, mas para aconselhar quem tem familiares com Alzheimer. Os convidados que têm vindo têm sido úteis nas suas palestras. Os testemunhos diferentes dos participantes fazem com que não nos sintamos sós.”

A neuropsicóloga festeja ainda a ousadia desses encontros terem deixado o ambiente clínico, médico e institucional para se espalharem por cafeterias e restaurantes da cidade, como o Portugália e o Café do Museu de São Roque, em Lisboa. “Isso já é uma forma de lutar contra o preconceito, pois falamos de demência fora do contexto hospitalar. É uma ação necessária para a construção de uma cidade democrática.”

Cuidar Melhor

Realizado graças à parceria entre a Associação Alzheimer Portugal e a Sonae Sierra, o Café Memória é considerado um braço informal e complementar do projeto Cuidar Melhor, que trabalha pela inclusão e promoção dos direitos das pessoas com demência em Portugal.

Hoje, seis espaços promovem o Café Memória mensalmente  (quatro na Grande Lisboa, um em Campo Maior e um no Porto) e, no próximo sábado (22/11), acontece a primeira sessão do Café Memória de Viana do Castelo, das 9h às 11h, no Restaurante Camelo. As sessões são totalmente gratuitas e não é necessário se inscrever com antecedência para participar.

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