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publicado dia 22 de maio de 2014

Ambientes de aprendizado precisam ser como um lar, afirmam especialistas

Reportagem:

Há quem acredite que uma das soluções para os problemas da educação no Brasil esteja no reforço da disciplina e na rigidez das regras aplicadas no interior das escolas. Por outro lado, há também aqueles que defendem a ideia de uma escola mais democrática, onde as crianças possam circular livremente, andar descalças, subir em árvores e pintar as paredes.

É o caso da arquiteta Doris Kowaltowski, professora da Unicamp e autora do livro “Arquitetura escolar – o projeto do ambiente de ensino”. Ela acredita que, além de primar pelos bons professores e alunos e ter uma gestão de qualidade, as escolas precisam de prédios bem projetados para se tornarem centros de educação de excelência.

Arquitetura-escolar
Em Heliópolis, em São Paulo, projeto liga moradia a centro educativo.

“Se o espaço é mal cuidado, o prédio é vandalizado mais facilmente. Ao mesmo tempo, se tiver muitas grades, a criança se sente insegura. Os prédios escolares ruins incentivam a timidez entre as crianças e a prática do bullying”, afirma Doris.

Ao lado de Beatriz Goulart, urbanista e coordenadora do projeto Cenários Pedagógicos, e Pedro Barrán, arquiteto uruguaio e pesquisador do tema, Doris participou do debate “Prédios também ensinam – arquitetura voltada ao desenvolvimento pleno do aluno”, realizado no dia 21/5, durante a Feira Educar Educador 2014.

Conhecimento no claustro

Beatriz lembrou que a requalificação dos espaços escolares e urbanos deve ser feita em conjunto. “Não adianta o espaço ser lindo e a gestão e o currículo continuarem atrasados. Desse jeito, vai ser apenas um presídio colorido”, desabafa. “Notas, chamada, armário trancado, biblioteca fechada. Se o prédio for destinado a ensinar ordem e disciplina, ele estará falido. O edifício escolar moderno deve incentivar a convivência e a autonomia.”

Para Barrán, as escolas antigas, com arquitetura rígida e simétrica – um verdadeiro “claustro” –, são do tempo em que a educação era “simplesmente levar aos alunos o conhecimento que já estava dado. Hoje, em uma escola ideal, o protagonismo tem de estar no estudante.”

Aproveitando espaços

Doris elencou alguns exemplos que, de maneira educativa, aproveitam os espaços, as paredes e até os chãos da escola. Na Índia, o projeto BaLA (Building as Learning Aid) desenhou tabelas periódicas, linhas do tempo com a história do país e os ângulos que se formam com a abertura das portas – tudo isso na superfície dos edifícios.

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Escola antes e depois da intervenção do BaLA.

Partindo de uma visão holística de como planejar e usar a infraestrutura da escola, o BaLa trabalha atividades baseadas na aprendizagem, na amizade infantil e na inclusão de crianças com deficiência. “No cerne, assume que a arquitetura da escola pode ser um recurso no processo de ensino e aprendizagem.”

A arquiteta também citou a importância da iluminação natural e a necessidade de haver variedade espacial para quebrar a monotonia. “Além disso, a criança que fica o dia inteiro na escola precisa de um espaço para descansar”, adverte. Lembrou ainda da acústica de uma sala de aula: “se ela não funciona, o professor precisa gritar e fica rouco. Desse jeito o barulho vai se instalando aos poucos”.

“Não pode”

“Em um espaço mais calmo e agradável as pessoas vão se sentir em casa. A ideia essencial é tornar os ambientes de aprendizados um verdadeiro lar”, reflete Doris. Para ela, como um museu, a escola deveria expor e valorizar o trabalho de seus alunos. “Apenas colar com fita crepe não é correto.”

“A vida fora da escola é tão rica, e quando a criança entra no espaço escolar é uma sucessão de ‘não pode’. Não pode brincar, não pode correr, não pode tirar o tênis, não pode subir na árvore”, afirma Beatriz.

Ao longo da discussão, um consenso emergiu entre os participantes: a necessidade de que os projetos arquitetônicos das escolas sejam debatidos entre todos os envolvidos com o processo de aprendizagem. “Principalmente o aluno”, reforça Doris.

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