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publicado dia 17 de abril de 2014

Fit Cities: Projetos urbanos ajudam a definir a saúde de seus habitantes

Ruas de Verão liga o norte ao sul de Manhattan e não aceita veículos. | Créditos: Reprodução

Está enganado quem acha que o sedentarismo é um problema pessoal que só pode ser superado com força de vontade. A maneira como as cidades foram planejadas e construídas e a ausência de espaços públicos que estimulem os moradores a se exercitar está totalmente relacionada com os inúmeros casos de obesidade, hipertensão e diabetes, entre outras doenças causadas ou agravadas pela vida sedentária.

[stextbox id=”custom” caption=”Fit Cities” float=”true” align=”right” width=”250″]O Fit Cities acontece desde 2006 em Nova York e reúne designers, profissionais da saúde pública e ativistas sociais. A edição brasileira foi organizada em uma parceria entre o Cidade Ativa, iniciativa que promove o movimento Active Design nos municípios brasileiros, e o USP Cidades, centro de pesquisa e formação de soluções inovadoras para a gestão urbana. Os organizadores afirmaram que a intenção é realizar o evento anualmente.[/stextbox]

Considerado um dos maiores problemas de saúde nos centros urbanos, o sedentarismo – ou a falta de atividades físicas regulares – é responsável por mais de cinco milhões de mortes por ano em todo o mundo. O dado alarmante, revelado em pesquisa de 2012 da revista médica Lancet, serviu de mote para a realização do Fit Cities São Paulo, evento que discutiu nesta quarta-feira (16/4), na USP, a relação entre o planejamento das cidades e a qualidade de vida e saúde de seus habitantes.

Cidade ativa

“As políticas urbanas precisam estar alinhadas para a criação de cidades ativas e saudáveis”, afirma a consultora internacional em desenho urbano e professora da Columbia University, Skye Duncan.

Funcionária do Departamento de Planejamento Urbano de Nova York, Duncan é uma das responsáveis pela criação do guia Active Design, um manual que explica como transformar espaços subutilizados de uma cidade em lugares para a prática de exercícios ao ar livre. “Como incorporar pequenos trechos de atividade física no cotidiano para quem não pode ir à academia?”, questiona, ressaltando que 60% dos adultos e 40% das crianças dos Estados Unidos têm sobrepeso.

Em sua atividade na prefeitura nova iorquina, Duncan trabalha com iniciativas alinhadas com a comunidade. “Pensamos no caráter de cada distrito. A maioria das pessoas ama os seus locais de origem. Precisamos ouvir a comunidade, discutir e negociar mudanças com ela”, garante.

[stextbox id=”custom” caption=”Cidade doente” float=”true” width=”250″]Paulo Saldiva, professor da Faculdade de Medicina da USP, acredita que para além dos cuidados básicos de saúde, um item fundamental para elevar a expectativa de vida é o afeto. “Mas o paulistano perdeu essa capacidade de se relacionar com o outro por causa do stress diário e da falta de convivência”, afirma. “A cidade tem febre quando chove, insuficiência cardíaca quando as artérias de trânsito se entopem, diarreia por causa da falta de saneamento básico, bronquite crônica por conta da poluição, insuficiência renal porque não conseguimos nos livrar do lixo. Enfim, a cidade está doente.”[/stextbox]

Rua é política

No Brasil, o sobrepeso já atinge 51% da população acima de 18 anos. Os dados revelam ainda que cerca de 23% dos brasileiros fazem a pé o trajeto casa-trabalho (ou casa-escola), em contraste com os EUA, onde apenas 2% da população caminha rumo às atividades diárias.

O professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU-USP), Fábio Mariz, acredita que a escassez de praças e parques faz da rua o local mais importante das cidades brasileiras. “Porém, o que vemos é uma rua mal cuidada e calçadas em péssimas condições”, afirma Mariz. “É só na rua que nos encontraremos como sociedade para mediar nossas diferenças. A rua é política no Brasil.”

Violência

Para a deputada federal Mara Gabrilli (PSDB), é possível analisar a governança de uma cidade olhando apenas para o estado de suas calçadas. “Não faz parte da cultura do brasileiro construir a calçada pensando no próximo. Ela é sempre feita de forma individual e vira terra de ninguém”, reclama a deputada, citando que a acessibilidade ainda é um desafio a ser superado em um país onde 23,9% da população têm algum tipo de deficiência.

A questão da violência foi lembrada por Elisabete França, representante do Conselho de Arquitetos e Urbanistas (CAU) do Brasil. “Não podemos esquecer que 50 mil pessoas são assassinadas nas ruas do país por ano”, ressalta.

Mercados naturais recebem ajuda do programa NYC Fresh. | Créditos: Benben/Flickr
Adesivo do Cidade Ativa mostra a importância de trocar o elevador pela escada. | Crédito: Reprodução

Escadaria

Ao citar mudanças que podem ser realizadas nos edifícios, Duncan frisou que as escadas devem ser abertas e atrativas, de modo que seu uso seja mais frequente. “Antigamente, a escadaria era um aspecto central das edificações. Ao longo do tempo surgiu o elevador e a escada perdeu espaço”, lamenta. Ela crê que adesivos de incentivo ao uso, colocados em pontos estratégicos – ao lado do botão do elevador, por exemplo – podem ter sucesso.

Duncan também é uma das responsáveis pelo NYC Fresh Program, projeto que, ao ceder descontos de impostos, incentiva o comércio de alimentos frescos e naturais em áreas da cidade onde os índices de obesidade e diabetes são altos. “Essa ideia de tornar a cidade mais ‘caminhável’ parece muito básica, pois é claro que isso melhora o ambiente urbano e a saúde dos moradores. Mesmo assim, esse conceito não está incorporado em nossa consciência.”

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